Ele era da classe média. E mesmo assim virou ladrão de carros

    Ladrão Aposentado (Foto: Davi Augusto)

     

    Era início de uma madrugada em 1989. O grupo começa a deixar a casa de valores na cidade de São Paulo com o fruto de sua ação: joias e ouro extraí­dos de um cofre violado. Os oito cúmplices haviam se reunido para o que deveria ser o crime perfeito: invasão da loja quando as portas estivessem fechadas, participação de arrombadores, um sedã seis-cilindros todo transformado, duas motos e pilotos preparados para a fuga. Perfeito? O silêncio da noite é quebrado por um estampido, e o chaveiro cai mortalmente alvejado por um tiro, talvez disparado por um segurança à espreita.

     

    Nenhum integrante era criminoso com experiência para encarar um assalto à mão armada em plena luz do dia. Alguns já furtavam toca-fitas e faziam pequenos arrombamentos. A motivação era “só” aventura, emoção e dinheiro. Alguns tinham emprego, profissão e trabalham até hoje. E, apesar de estarem armados, não queriam trocar tiros ou matar alguém. Era consenso que, caso aparecesse a polícia, todos deveriam “cair fora” o mais rápido possível.

    “Fui responsável por recrutar a maioria dos caras. Cada um tinha uma função. O Matheus, além de ser exímio piloto, levou o maçarico para abrir o cofre. O chaveiro abriu as portas. Três ficaram ‘no cavalo’ (motoristas), inclusive eu, por também ser hábil ao volante. E outros três ‘olheiros’ para vigiar a movimentação do lado de fora”, conta Giovanni Bellucci, nome fictício do entrevistado de Autoesporte.

    Toda a ação, segundo Bellucci, durou longos 30 minutos. Isso porque o arrombamento do cofre demorou mais do que o previsto. O grupo conseguiu pegar grande quantidade de ouro, joias e brilhantes. “Tudo foi vendido por valores ínfimos, e ainda assim rendeu uma boa grana e até alguma ostentação, já que ficamos com alguns cordões para uso pessoal. Eu e mais três amigos mais próximos compramos quatro motos iguais, das mais badaladas.”

    Começava ali uma história que mais se parece com uma mistura de Velozes e Furiosos (The Fast and The Furious, 2001) e 60 Segundos (Gone in 60 Seconds, 2000). Só que essa narrativa da vida real, passada na cidade de São Paulo, contou com um final bem menos romântico do que os exibidos nas telas dos cinemas.

    Ladrão aposentado (Foto: Davi Augusto)

     

    Família, carros, motos, tatuagens e namoradas

    Voltando no tempo, é importante destacar que, ao contrário dos comparsas de origem humilde, Bellucci era de família de classe média alta. O pai, imigrante que chegara ao Brasil havia muitos anos, acumulava má fama na família pelo vício em jogo. Em certa ocasião, no início dos anos 1980, parentes pediram ao garoto para buscar revelações que custavam, na época, 35 cruzeiros. Nem todas as fotos ficaram boas, e o serviço ficou mais barato.

    No caminho de volta, o desejo por uma coxinha e um refrigerante falou mais alto: o menino gastou o troco e rasgou o preço da revelação. Pelo número de fotos a avó desconfiou e resolveu reclamar. No caminho, encontrou o envelope rasgado e voltou para casa arrasada, pois sabia da fama do pai do garoto e achava que o neto poderia estar seguindo o mesmo caminho.

    Desde cedo Bellucci era fascinado por carros e motos. Aos 12 anos, juntou-se a dois amigos para comprar um esportivo clássico dos EUA da década de 1970, equipado com motor V8 e espaço suficiente para abrigar os parceiros na enorme cabine. “Eu não era de curtir drogas. Tomava uma cerveja, umas pingas. Fazia parte das rodas de amigos e dava um ‘tapa num baseado’ de vez em quando. Aos 10 anos, comprei uma Mobilete. Aos 12, tive a primeira namorada. Aos 14, fiz a primeira tatuagem e comprei uma Yamaha RS 125. Nunca joguei bola e sempre fiquei atrás de mulher, carro, moto e cigarro. Putz, mano, lembra do PallMall, do Shelton Ligths?”, diz Bellucci.

    Na época, nosso personagem conta que onde morava havia uma turma “tranquila, que sempre se reunia só para fazer bagunça”. Mas ele e outro amigo eram mais rebeldes.

    Andavam com um revólver de brinquedo, daqueles em que uma bandeirinha “Bang” saía pelo cano. E gostavam de sair à noite em busca de semáforos quebrados para levar para casa. Até o dia em que tiveram a ideia de roubar, no próprio bairro, o toca-fitas de um hatch esportivo que, na época, vinha com rodas de liga leve. Péssima ideia.

    Sem a menor noção de como remover o som, a dupla estourou o para-brisas e quase destruiu o carro, sem se dar conta de que o dono da casa via tudo pela janela e conhecia o pai de um dos ladrões. Logo após o roubo, ele foi até a casa do comparsa de Bellucci e contou tudo ao pai do jovem, que acertou o prejuízo e deu uma coça no filho.

    “Esse meu amigo era tipo aquele personagem do Leonardo di Caprio em Prenda-me se For Capaz, que falsificava tudo. Na escola, desenhava carteirinha escolar, habilitação e documentos, tudo perfeito. Depois o cara entrou para a polícia e não queria nem olhar mais para a minha cara. Disse até que me prenderia se fosse preciso. Anos depois, a gente voltou a se falar”, conta Bellucci.

    Ladrão aposentado (Foto: Davi Augusto)

     

    A formação no crime

    Tempos depois, Bellucci trocou de moto e de bairro. “Em 1984 eu já trabalhava com carteira assinada e tinha uma moto 125cc. Morava na cidade e voltava para o bairro para ver minha mina. O irmão dela — eu só soube depois — era ladrão de toca-fitas. Daí conheci os caras que praticavam esse crime, e comecei a atuar como ‘intrujão’ (receptador de material roubado/furtado) para vender para os playboys interessados”, conta.

    Mais tarde, uma sequência de eventos atingiu Bellucci e mudou drasticamente sua vida. Primeiro, a morte do pai. Poucos meses depois, da avó. E, em seguida, a perda da mãe. O jovem mudou de escola e foi estudar no bairro. Queria ser policial, como um parente. Mas familiares o desestimularam da ideia, dizendo que deveria estudar para ser “alguém melhor na vida”. Ele não seguiu a carreira que gostaria e hoje está aposentado em outra área.

    Os furtos de toca-fitas tinham explodido em São Paulo nos anos 1980. Não era raro passar pelas ruas e ver dezenas de vidros dos carros estourados pelo chão. Bellucci conta que os aparelhos mais desejados eram os que equipavam os Chevrolet Monza Classic e Kadett GSi e os Volkswagen Santana GLS e Gol GTi.

    Cinco meses após o assalto à casa de valores, Bellucci bateu a moto que tinha acabado de comprar. “Vinha descendo o ‘Minhocão’ (Elevado Presidente João Goulart) a milhão, a uns 200 por hora. E aí bati em um Golzinho da frota de uma empresa que cruzou na minha frente. Só sobrou a roda traseira e um pisca da moto. Fui parar no hospital com várias fraturas”, lembra animado.

    Ladrão aposentado (Foto: Davi Augusto)

    A empresa tinha seguro e mandou consertar a moto. Mas a oficina arrumou a frente com dois faróis, em vez de um, e soldou os escapes invertidos. Nas palavras de Bellucci, “o serviço ficou horrível, a moto virou um Frankenstein”. Então, ele e Matheus, o mesmo hábil piloto que também mexia com maçarico, decidiram roubar um modelo igual para remontar a moto acidentada. A partir dali, a relação dos dois com os delitos começou a ficar mais intensa. O flerte com o crime passou por uma espécie de promoção.

    Na primeira noite, a dupla saiu armada, mas logo na primeira investida a vítima percebeu a ação e conseguiu escapar. Na segunda tentativa, foi a vez de os dois fugirem: outro motociclista reagiu, sacou uma arma e trocou tiros com os iniciantes. “Teve até bala passando entre as rodas da nossa moto. Não fomos atingidos e não morremos por pouco”, recorda Bellucci. Foi aí que a dupla resolveu mudar de tática e escolher um modelo em classificados de jornal. Dessa vez, com o apoio de um terceiro comparsa, chegaram ao endereço anunciado dominando o dono da casa e seu filho à mão armada, na garagem.

    Na hora de sair, queriam trancar as vítimas em uma edícula nos fundos da casa. O dono do sobrado implorou para não fazerem isso dizendo que uma irmã idosa estava lá. “Eu era o mais bonzinho dos três, e persuadi meus companheiros a irmos embora, dizendo para levarmos só a moto. Mas, quando saíamos, da janela o proprietário atirou com uma arma de grosso calibre nas costas do mano que saía com a moto”, conta Bellucci. Os parceiros voltaram para pegar o ferido, levaram-no para o hospital e fugiram.

    A moto ficou lá, caída. Bellucci foi cobrado por um bom tempo por sua “bondade”: “A partir dali não teria mais esse lance de ser bonzinho. ‘Se coçasse ia subir‘ (se reagisse ia morrer). Curiosamente, o dono da casa nunca deu queixa na polícia”. A cena é revivida com um olhar para o vazio. A dupla desistiu da tática do anúncio. Logo conseguiram um modelo idêntico para montar a moto batida, em um assalto à mão armada mesmo, no meio da rua, em frente a um bar cheio de gente. Parecia de fato que algo havia mudado desde a última ação, e a inibição havia ficado para trás. Poucos dias depois, a moto que tinha virado Frankenstein estava como nova.

    Coincidência ou acaso, pouco depois roubaram a moto de Matheus. Diferentemente de Bellucci, o rapaz era de origem humilde. Tinha pinta de playboy, cabelos longos e era talentoso, além de gostar de mexer com tudo que fosse relacionado a carros e motos. Não demorou a descobrir que as motos iguais à dele traziam número de chassi similares, e que só os últimos dígitos mudavam de uma unidade para outra.

    Era a sorte que eles precisavam. Agora no papel de vítima, Matheus já havia prestado queixa na polícia sobre o roubo, descrevendo as características da moto: rodas pintadas de verde, a traseira com um amassado. Mas ele sabia que a moto nunca seria encontrada. E foi então que arquitetou um plano e chamou o amigo inseparável para colocá-lo em prática.

    Eles procuraram um modelo igual pela cidade e acabaram encontrando uma no estacionamento de um shopping. “Usamos uma espécie de chave feita com zíper de blusão para ligar o contato. Qualquer coisa ligava aquela moto”, conta Bellucci. Só que a moto levada tinha rodas pretas, e os dois números de chassi eram diferentes da roubada do amigo. E, pior, a roda traseira não estava amassada.

    Aqui entrou a criatividade a serviço do crime. “Meu amigo roubou a moto. Pintou só a roda dianteira de verde e limou os últimos números do chassi. Depois, jogou-a no mato e chamou a polícia. A perícia constatou que o número de chassi batia até os dois últimos dígitos e que esses estavam limados. Como a cor da roda dianteira estava de acordo, provavelmente a roda traseira devia ter sido trocada. Assim, a moto foi liberada para Matheus pela Justiça, por meio de depósito judicial, por entenderem que ele seria o dono”, conta Bellucci sorridente.

    Ladrão aposentado (Foto: DAvi Augusto)

     

    A vez dos carros

    A ideia de começar a mexer com carros surgiu no começo dos anos 1990. Na ocasião, Matheus comprou um hatch batido em uma loja e logo saiu em busca de um modelo mais requintado para montar em cima do carro arruinado. Circulava com a namorada em estacionamentos de supermercados e shoppings. Ao encontrar o carro desejado, pôs em prática outra estratégia mirabolante.

    Escolhido o modelo — um hatch igual, mas de versão esportiva, com mais equipamentos e acessórios —, ele se encostou na tampa do porta-malas abraçando a garota, fingindo estar namorando. Tirou um alicate de pressão do bolso e arrancou o miolo da fechadura. Guardou a placa do carro e foi até um chaveiro conhecido, que já fazia parte da quadrilha, para fazer uma cópia da chave. Voltou ao shopping e seguiu o carro até a casa da vítima. Daí foi só esperar o momento certo para dar o bote para o furto.

    “Em vez do serviço profissional de cortar o carro e soldá-lo em cima do outro batido, a única coisa que ele fez foi trocar as placas, inserir o selinho nas portas com o número do chassi e um recorte do número do chassi que ficava sob o banco, que nada mais era do que uma chapa de aço colocada por baixo do carpete”, lembra Bellucci.

    O carro adulterado foi deixado em uma agência de usados, foi vendido e o dinheiro entrou para Matheus. O dobro do que ele havia pago pelo batido. Mas a saga não havia acabado. “Meu amigo tinha um contato na loja e conseguiu os dados do comprador do carro adulterado. Ele precisava disso. Afinal, depois que o carro fosse vendido, era preciso furtá-lo novamente para dar fim ao flagrante. E assim foi. Dois dias depois, o carro sumiu.

    Logo depois, a turma teve contato com os desmanches. E começou a roubar de tudo: Chevrolet Kadett GSi, Chevrolet Opala Diplomata, Volkswagen Gol GTS e Volkswagen Gol GTI, Volkswagen Saveiro Sunset e Ford Escort XR3. Compravam um furgão por tantos reais e montavam um hatch em cima para ganhar o dobro na venda.

    Conheci um cara no trabalho que era ladrão profissional de carro, e ele me deu a dica de como fazer chave mestra com mola de Fusca. A primeira ferramenta foi ideia minha, um T soldado com duas chapas de aço de molas de Fusca. Quando começou a onda de chaves codificadas, a gente passou a levar nossos próprios módulos para isolar o sistema elétrico e fazer ligação direta. O alarme inteligente era uma piada!”, ironiza.

    Certa noite, o grupo (com cinco) saiu para “trabalhar” em um Gol GTS. Bellucci era o piloto. O quinto elemento só havia pedido uma carona. No caminho, a polícia começou a segui-los, e o rapaz no banco do passageiro dianteiro se apavorou. Pediu para descer e ficou no caminho.
    Os demais participaram de uma perseguição espetacular feita por quatro viaturas da polícia na capital paulista atrás do GTS. O carro pulava calçadas e invadia canteiros.

    O silêncio noturno do subúrbio foi quebrado por um caos de sirenes e pneus cantando. “Chegou uma hora em que eu vi um furgão e um poste à minha frente, e joguei o carro entre os dois. Os retrovisores ficaram para trás e as viaturas não conseguiram acompanhar. Abandonamos o carro em uma rua qualquer. Dois correram para um ponto de ônibus. Os outros furtaram outro veículo e fugiram do local”, lembra Bellucci.

    Ladrão aposentado (Foto: Davi Augusto)

     

    Trocando cabeças

    O grupo estava furtando muitos carros e levando para desmanches. Mas Matheus passava todo mundo para trás. Vendia um carro por R$ 1 mil e dizia que fora por R$ 500. Bellucci já tinha ouvido falar que, para não ser preso, ele havia entregado parceiros, o que, na gíria da malandragem, é conhecido como “trocar cabeça”.

    “Um dia, nós estávamos conversando na frente da casa dele, na porta. Eu do lado de fora, ele do lado de dentro do portão. Quando passou uma preta e branca [viatura], ele correu. Fiquei parado e os policiais me pegaram”, conta Bellucci. Na frente da casa estava seu carro, uma perua toda customizada com peças de um modelo de outro ano.

    Os policiais encontraram ainda outros dois veículos produtos de furto: uma picape pequena “dublê” (carro roubado com placas trocadas) e outro sedã dentro da garagem. Ambos frutos da ação de Matheus, que assistia a toda a cena de cima do telhado. Ele nunca foi preso, e foi aí que a casa desses comparsas começou a cair — ou melhor, desmoronar.

    Bellucci foi parar na delegacia. E sofreu. Os policiais ainda ficaram na vigia o dia todo, e algum tempo depois outro parceiro do grupo chegou com a moto de Bellucci, e também foi parar no DP. “Na delegacia, puseram a gente no saco [enfiar um saco plástico na cabeça para provocar sufocamento], fizeram a gente sentar em bancos que desmontavam e deram porrada pra valer para a gente abrir o bico. Mas não dissemos nada. Para sair de lá eu tive que dar uma moto que eu adorava e mais uns R$ 10 mil em dinheiro hoje. Meu parceiro, que caiu comigo, teve que dar um hatch e outros R$ 10 mil”, revela Bellucci.

    Com a prisão e outros indícios, Bellucci percebeu que estava sendo passado para trás por Matheus, que nunca “caía” — nem com os carros encontrados na sua garagem e na porta de sua casa. Bellucci, alguns parceiros e até policiais estavam na bronca com o possível trapaceador. “O sujeito ficou devendo para todo mundo. Cheguei a procurá-lo diversas vezes para, você sabe, trocar uma ideia, mas acho que acabou sendo até melhor não encontrá-lo”, desabafa Bellucci.

    Ladrão aposentado (Foto: Davi Augusto)

     

    Tirando o pé

    Depois disso, Bellucci parou de mexer com carros — as aventuras já tinham ido longe demais. O aposentado, agora na meia-idade, garante não pensar mais em crimes, ainda mais se for coisa de pequena monta. “Se você quiser cometer um crime perfeito, terá de fazer sozinho. E como não tem como fazer isso, esqueça. Depois fiz outras besteiras na vida, mas isso é papo para outra história”, comenta.

    Matheus nunca foi preso, e “evoluiu” com mais dois ou três comparsas para outros tipos de crimes, mas sempre ficava ao volante. Em certa ocasião, a última de que Bellucci teve notícia, fizeram o sequestro-relâmpago de um casal. Ao liberar os reféns, uma viatura surgiu e Matheus fugiu, abandonando os comparsas — é preciso lembrar que o jovem era conhecido como quem costumava “trocar cabeças”. Seus parceiros pegaram longos anos de cadeia e cumpriram um terço da pena. Hoje, estão em liberdade condicional. Na época, houve várias ameaças de morte, mas ninguém acabou matando ninguém. Pelo menos até hoje. Bellucci resume sua experiência:

    Você acha que hoje a criminalidade é pior do que era antes? Por quê?
    Com certeza. Hoje não tem mais respeito. A molecada de qualquer idade está roubando. Dois caras roubam três motos por dia e fazem R$ 6 mil. Cada moto vale R$ 2 mil na boca. Para ganhar R$ 2 mil com pó na “biqueira” tem que vender muito. Muito. O negócio na rua está cruel mesmo.

    O que leva um playboy de classe média ao mundo do crime?
    Meus pais eram de classe média alta. Eu podia ter tudo do melhor. Comecei a trabalhar cedo e fiquei na mesma empresa por muitos anos. Comecei no crime por diversão, poder e ganância. Era comum, depois de “fazer a boa”, irmos à uma churrascaria com a turma toda ou ao litoral para gastar à vontade, sem preocupação — mesmo sabendo que estava errado, que não era saudável e que não fui exemplo para nenhum dos meus quatro filhos.

    Sente falta de alguma coisa?
    Da adrenalina. De andar armado e me sentir “patrão”, dono da situação. De chegar e as pessoas verem que quem “mandava no lugar” éramos nós. Ainda assim não faria tudo de novo, não. Acho que aprendi a lição.