Anfavea: venda de veículos sobe 3% em 2021; projeção é de alta de 8,5% em 2022

Associação admite desafios para indústria em ano eleitoral e não espera retomada do setor nos próximos anos.

Vitor Matsubara / AB

As vendas de veículos tiveram alta de 3% em 2021. Foram emplacadas 2,12 milhões de unidades no resultado acumulado do ano passado – ou seja, de janeiro a dezembro.

Este foi o melhor número no período acumulado desde 2019, quando a pandemia ainda não afetava os resultados do setor.

Os números foram divulgados pela Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores)

No resultado mensal, a Anfavea registrou 207,1 mil emplacamentos de veículos em dezembro passado. Embora o volume represente crescimento de 19,7% frente a novembro de 2021, o resultado mostra queda de 15,1% comparando com dezembro de 2020.

Produção teve alta; crise ainda castiga setor

Já na produção de autoveículos, 2,248 milhões de unidades foram fabricadas em 2021, representando uma alta de 11,6% frente a 2020. No resultado mensal, o setor fabricou 210,9 mil unidades em dezembro de 2021, obtendo um crescimento de 2,5% frente às 205,7 mil unidades produzidas em novembro do mesmo ano.

Os dias de estoque chegaram a 16 no Brasil por conta das dificuldades na produção de veículos, tanto pelo aumento no custo de matérias-primas como pela falta de componentes, como os semicondutores. Apesar do resultado abaixo da expectativa, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, fez um paralelo com a situação nos Estados Unidos para mostrar que o cenário não é muito diferente por lá.

“A curva (de dias de estoque) apresenta o mesmo comportamento. O número chegou a subir para 120 dias, mas houve uma queda substancial e hoje eles estão em situação semelhante. Então o fenômeno que estamos enfrentando no Brasil também está acontecendo nos principais mercados”, declarou.

Moraes também comparou o número de licenciamentos em outros mercados pelo mundo. “O Brasil seguiu o volume obtido na maioria dos países, então estamos em linha com o que aconteceu nos principais mercados, lembrando até que países como Japão e Coreia tiveram queda em relação a 2020”.

O presidente da Anfavea projeta que o Brasil deve fechar o ano de 2021 como o oitavo maior mercado do planeta em volume de produção e o sétimo maior mercado mundial em licenciamentos.

Exportações sobem, mas resultado poderia ser melhor

Nas exportações de autoveículos, a indústria registrou 376,4 mil unidades em 2021. Embora o resultado tenha sido “muito próximo” à projeção realizada pela própria Anfavea e superior aos 324,3 mil veículos de 2020, o volume ainda está bem abaixo do registrado em 2019 (433,5 mil) e especialmente dos números de 2018, quando 629 mil veículos foram exportados.

Apesar de exaltar o crescimento da indústria, Moraes afirmou que outros fatores importantes ainda impedem uma alta maior.

“É claro que as restrições impostas pela pandemia em alguns mercados ainda estão influenciando (nas exportações), mas a gente ainda tem problemas com créditos tributários e precisamos ter mais financiamentos para exportação. Tivemos números muito bons (em 2021), mas ainda estão muito abaixo do que a indústria pode fazer”, alertou.

Caminhões fecham ano em alta

O segmento de caminhões e ônibus teve um ano mais positivo. Foram emplacadas 128,7 mil unidades no período acumulado de 2021, representando alta de 43,5% frente a 2020.

Apenas em dezembro, a Anfavea registrou 11,9 mil unidades emplacadas. Foi o melhor resultado desde agosto de 2021 e o melhor resultado em dezembro desde 2014.

Marco Saltini, vice-presidente da Anfavea, apontou que parte desses números podem ser atribuídos ao crescimento do agronegócio. As vendas de caminhões pesados e semipesados, por exemplo, responderam por 76% dos emplacamentos do segmento.

Outro indício da ascensão do setor agrícola está no licenciamento de autoveículos. A indústria obteve 2.119.851 emplacamentos. Deste volume, três segmentos muito importantes para o agronegócio puxam os resultados: caminhões (43,5%), picapes (25,1%) e furgões (22,8%). Já os automóveis tiveram uma decepcionante queda de 3,6% na participação dos emplacamentos.

A produção de caminhões e ônibus fechou o ano passado com 158,8 mil unidades. Além de obter o melhor resultado acumulado desde 2013, a alta foi de expressivos 74,6% em relação a 2020. Saltini, porém, lembrou os efeitos da pandemia sobre os números de 2020, quando todas as fábricas foram obrigadas a paralisar suas produções.

Projeção é de alta de 8,5% e desafios em ano eleitoral

Fazendo as projeções para 2022, a Anfavea estima crescimento de 8,5% nas vendas, chegando a 2,3 milhões de veículos licenciados, sendo 2,143 milhões de veículos leves e 157 mil veículos pesados.

Nas exportações a meta é mais “moderada”, chegando a 390 mil unidades de autoveículos e alta de 3,6%. Já na produção, a estimativa da Anfavea é de atingir 2,46 milhões de unidades, o que resultaria em um crescimento de 9,4%.

“O crescimento poderia ser ainda melhor porque a nossa carga tributária é absurdamente alta. Nós entendemos que a tributação do IPI é absurda e, se a gente o eliminasse, isso seria uma alavanca para trabalharmos no setor”, opinou Moraes.

A Anfavea projeta ainda uma alta de 0,5% no PIB (Produto Interno Bruto) de 2022, mas frisou que a pandemia dificulta qualquer tipo de previsão. Além disso, Moraes acredita que a vacinação da população brasileira (cujo índice se aproxima de 80%) pode fazer com que a confiança volte a crescer e aposta em um desempenho positivo do agronegócio.

Já o câmbio deve se manter flutuante com o dólar na faixa de R$ 5,50 apresentando volatilidade.

O presidente da Anfavea ressaltou a quantidade de desafios para o ano que se inicia, como a realização das Eleições, equilíbrio fiscal, a fragilidade do mercado de trabalho e a extensão da crise sanitária com o crescimento da variante ômicron. Moraes ainda lembrou do aumento de custos, câmbio, juros e carga tributária.

Pensando nos próximos anos, o presidente da associação endossou as projeções feitas pelas consultorias IHS e BCG, que estimam uma recuperação do mercado mundial apenas em 2025.

A Anfavea afirmou que o “Brasil vai seguir a tendência global” por conta de fatores como a inflação em alta, o aumento das taxas de juros e o desemprego. “São elementos que nos fazem ficar atentos quanto à recuperação, que tende a ser mais moderada”, disse o executivo.