Carros autônomos ainda enfrentam desafios

Tecnologia está mais avançada do que a regulamentação de segurança.

Por / Fernando Calmon AB

02/12/2020

O avanço dos carros autônomos parece depender mais de regulamentações exigentes do que pesquisas e testes no mundo real. Além dos grandes grupos automobilísticos, gigantes da tecnologia digital (Waymo-Google, Cruise, Uber e outros) continuam investindo no desenvolvimento e avaliações em ruas e estradas.

Há poucos dias a Honda homologou no Japão o nível 3 de automação, porém restrito a vias expressas e aplicação de adesivo de identificação na traseira. A fabricante, em parceria com a Cruise, lançará o primeiro modelo, o Legend, no primeiro trimestre de 2021. No nível 2 já oferecido em vários mercados, inclusive o Brasil, o motorista deve tocar o volante obrigatoriamente a intervalos regulares. No nível 3, ou autonomia condicional, só é preciso assumir a direção se o sistema assim julgar necessário.

Audi A8 foi o primeiro modelo a disponibilizar o nível 3 em 2018. Mas até hoje permanece desativado no carro porque o governo alemão exige vias adaptadas.

Nos EUA cada Estado ou cidade tem a sua legislação para avaliações em vias públicas. San Francisco, Las Vegas, Phoenix, Pittsburgh e recentemente o arquipélago-estado do Havaí estão entre os que autorizam. Os testes se concentram no nível 4 (sem intervenção do motorista, mas este ainda precisa estar presente) e no nível 5, quando volante e pedais deixam de existir. Testes sem motorista são autorizados e há até serviços no nível 5 oferecidos ao público em trajetos fixos, caso de Las Vegas.

O Fórum Econômico Mundial divulgou relatório estimulando a criação de política de segurança para veículos autônomos. Segundo a Automotive News, as abordagens atuais estabeleceram uma complicada colcha de retalhos de regulamentação. Nos EUA, observa o relatório, a ausência de estrutura federal pode levar a coalizões regionais com objetivos ou geografias semelhantes para definir padrões ou requisitos.

Entre os grandes fabricantes de veículos, preço alto é um dos desafios. Mesmo uma marca premium, como Mercedes-Benz, mostra cautela acima do nível 3. Além do custo, há ainda dúvidas se os clientes vão mesmo pagar e abrir mão de dirigir.

Achei interessante a opinião de Luc Julia, especialista em interface homem-máquina e coinventor da Siri (Apple): “Duvido que veículo autônomo no nível 5 já exista porque o grau de atenção de um motorista humano nunca será alcançado por uma máquina. Por exemplo, um carro em meio a um congestionamento pode não se mover, porque seguirá as regras. Os humanos, pelo contrário, sabem alternativas para o seu caminho.”