Moura se integra ao consórcio modular da VWCO em Resende

Empresa vai fazer a montagem das baterias e sistemas de alta voltagem do caminhão elétrico e-Delivery

PEDRO KUTNEY, AB

A Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) comunicou oficialmente na terça-feira, 1º, a integração da Moura ao Consórcio Modular de empresas que participam diretamente da produção dos veículos na fábrica de Resende (RJ). A nova parceira do arranjo produtivo inaugurado pela VWCO em 1996 será responsável pela área dedicada à montagem de baterias e sistemas de alta tensão do e-Delivery, primeiro caminhão elétrico nacional que começa a ser produzido até o fim deste mês.

Como uma das oito integrantes do e-Consórcio, criado no fim de 2019 para viabilizar a produção do e-Delivery, a Moura já era encarregada por montar em sua fábrica de Belo Jardim (PE) e enviar para Resende os módulos de baterias do e-Delivery, produzidos com células de lítio que recebe da chinesa CATL, também participante do consórcio elétrico da VWCO. A empresa também é responsável pela assistência técnica de pós-venda das baterias e futuro programa de reciclagem. Agora foi oficialmente nomeada como responsável pela montagem dos sistemas de alta voltagem do caminhão.

Cristiane Assis, gerente de negócios da divisão de lítio da Moura, informa que os módulos de baterias para o e-Delivery estão em produção em Belo Jardim, onde a empresa investiu valores não revelados em uma linha de montagem específica, em um galpão já preparado para futuras expansões se a demanda aumentar. Alguns módulos já foram enviados a Resende, onde a empresa mantém uma equipe dedicada de montagem treinada e preparada para trabalhar na área de eletrificação do Consórcio Modular, onde o e-Delivery passa pela instalação de baterias e cabeamentos do seu sistema de 600 V, que é energizado pela primeira vez nesta etapa do processo produtivo.

“Nós importamos os packs da CATL e fazemos em Belo Jardim a integração com cerca de 30 componentes locais, como travessas, conectores, cabos, berço da bateria e o BMS (Battery Management System), que faz o controle do fluxo de energia. Depois disso enviamos os módulos para nossa equipe em Resende; cada um tem o tamanho aproximado de uma cama king size e o peso de um carro”, explica a gerente da Moura.

“A bateria de um veículo elétrico não é um item plug & play, parece muito mais com uma central eletrônica sofisticada do que um acumulador químico de energia”, compara Cristiane Assis.

 

NACIONALIZAÇÃO NO HORIZONTE

 

Adilson Dezoto, vice-presidente de produção e logística da VWCO e principal responsável pela gestão do Consórcio Modular de Resende, destaca que a participação de uma empresa como a Moura é fundamental para o projeto de nacionalização da mobilidade elétrica e do ecossistema necessário para isso. “Poderíamos simplesmente importar as baterias diretamente, mas este não seria o modelo ideal para cobrir todo o ciclo de vida do produto. Por isso precisamos de um fornecedor nacional nesse processo”, defende.

A executiva da Moura admite que faz parte das ambições da divisão de lítio da empresa a produção no Brasil das células que hoje vêm importadas da China. “Temos a intenção de adquirir tecnologia e fazer investimentos para nacionalizar os packs, mas esse é um programa que irá sendo construído gradualmente, de acordo com a demanda de mercado. Por causa da pandemia esse processo anda mais devagar, mas o plano está mantido”, diz Cristiane.

Dezoto está certo que haverá demanda para nacionalizar as baterias em um futuro não muito distante: “Não é uma aposta, é uma certeza, vai acontecer, já criamos um projeto viável de veículo elétrico nacional que está pronto para entrar em produção comercial. O pacote de baterias representa o maior peso nos custos e temos todo o interesse de nacionalizar o máximo possível. O importante é que esse processo começou e vai ganhar escala gradualmente”, afirma o executivo.

A formação do e-Consórcio já confere ao e-Delivery um maior nível de nacionalização de partida, acima de 50%, o que credencia o caminhão à linha de financiamento do BNDES/Finame. Além dos módulos de baterias produzidos no Brasil pela Moura, a catarinense Weg fornece o motor elétrico especialmente projetado para o caminhão VW, enquanto a Meritor produz em Osasco (SP) o eixo trativo adaptado ao powertrain eletrificado. A Bosch importa sistemas de controle e alguns deles poderão ser nacionalizados no futuro.

O veículo foi desenvolvido em parceria com a Eletra, empresa brasileira que há 30 anos desenvolve ônibus elétricos no País, incluindo híbridos e trólebus, que montou alguns dos primeiros dos 17 protótipos já produzidos para testes. Completam o e-Consórcio o escritório de engenharia especializada Semcom e a Siemens, que fornecerá carregadores e projetos de infraestrutura elétrica, incluindo fontes alternativas de energia.

“Com o e-Consórcio nós viabilizamos a produção do caminhão elétrico brasileiro e resolvemos boa parte dos desafios para adotar a eletromobilidade no transporte urbano, pois olhamos não só para o produto, mas para seu ciclo de vida completo. Para isso escolhemos os parceiros certos para oferecer sempre a melhor e mais atualizada tecnologia para veículos elétricos, além de todo o ecossistema necessário para recarregamento e manutenção em qualquer concessionária”, destaca Walter Pellizzari Jr., gerente executivo de estratégia corporativa da VWCO, responsável pela gestão de novos negócios e pelo projeto de eletromobilidade da empresa.

UMA SÓ FÁBRICA PARA VEÍCULOS ELÉTRICOS E A COMBUSTÃO

Pellizzari Jr. explica que o processo de produção do e-Delivery na VWCO segue um modelo único no mundo, que pôde ser aplicado graças à flexibilidade do Consórcio Modular. “No mundo hoje temos fábricas tradicionais que fazem modelos com motores a combustão e muitas plantas novas especialmente projetadas para produzir elétricos. Em Resende fizemos tudo no mesma lugar, só criamos uma área especial no fluxo da linha de para agregar os sistemas eletrificados como motor e baterias, os demais processos de montagem de chassi e cabine são os mesmos dos caminhões a diesel.”

Segundo o executivo, foram iniciadas há cerca de dois anos as preparações na fábrica para a produção de veículos elétricos junto com modelos a combustão. No ano passado foi montada uma área-piloto exclusiva para testes e validações de processos e este ano o módulo de eletrificação foi concluído, está pronto para começar a operar. “Balanceamos a linha para montar um e-Delivery no mesmo tempo que levaria para fazer o modelo tradicional”, explica.

Várias opções e protótipos do caminhão elétrico já foram testados, incluindo modelos de 11, 14 e até de 4 toneladas de PBT. A intenção é ampliar a oferta de versões elétricas, mas o primeiro e-Delivery a entrar em produção comercial até o fim de junho será o de 14 toneladas. Foi o escolhido pela Ambev após mais de dois anos de testes na entrega de bebidas na cidade de São Paulo. A empresa já encomendou as primeiras 100 unidades de um contrato de intenção de compra de 1,6 mil veículos para eletrificar 35% de sua frota até 2023.

Inicialmente serão oferecidas duas opções de pacotes de bateria, com autonomia para até 100 ou 200 quilômetros. “Dessa forma não encarecemos o produto desnecessariamente, o cliente poderá escolher de acordo com sua operação. Nos testes com a Ambev comprovamos que a autonomia de 70 quilômetros é suficiente para a maioria das aplicações de entregas urbanas”, afirma Pellizzari Jr.