Negociar o carro em casa é saída na crise

Startups de venda on-line de veículos ganham visibilidade

Por Daniela Braun — De São Paulo – 25/08/2020

Com o modelo de compra e venda de veículos usados sem que o cliente precise sair de casa, startups brasileiras conseguiram se recuperar do impacto nas vendas provocado pela pandemia e dar partida em seus planos de expansão.

Fatores como o isolamento social, a necessidade de vender o carro rapidamente ou de trocar por uma versão mais econômica por conta da crise deram mais visibilidade aos modelos de negócios de empresas como Carupi, Carflix, InstaCarro e Volanty.

Em abril, as vendas de automóveis seminovos sofreram uma queda de 84% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave). A retração sobre os negócios fechados há um ano veio diminuindo mês a mês, até chegar a julho com uma queda de 18,8%. Na comparação com junho deste ano, o desempenho representou aumento de 53,7%.

As startups também sentiram esse movimento. “Da noite para o dia os compradores sumiram do mercado porque não queriam se comprometer em um cenário de incerteza. E os únicos vendedores que ficaram eram os que precisavam de liquidez”, diz Diego Fischer, CEO da Carupi. Por comandar uma operação 100% on-line, ao sentir a queda das vendas nos primeiros 15 dias de abril, a empresa conseguiu se reposicionar rápido e passou a se concentrar nos vendedores que buscavam liquidez e em veículos de menor valor.

As lojas de seminovos também parecem mais otimistas em relação à crise, considerando a flexibilização na abertura do comércio em muitas partes do país. Uma pesquisa da InstaCarro com 465 revendedores mostrou que as vendas cresceram 9% em julho na comparação com o mesmo período do ano passado. Entre os pesquisados, 34,7% afirmaram já ter superado o patamar de vendas anterior à pandemia e 30,6% retomaram o nível anterior à crise. O levantamento também aponta que 14% dos lojistas estão pessimistas e esperam que a recuperação chegue somente em 2021.

Startups como InstaCarro e Volanty, que também trabalham com pontos presenciais em showrooms e centros de inspeção, tiveram que se adaptar. A Volanty precisou fechar suas oito lojas físicas e centros de inspeção e reforçar os meios digitais, incluindo chamadas em vídeo para mostrar os carros aos clientes e vendas via WhatsApp. “Sem saber quanto tempo isso iria durar adaptamos nossos canais para convencer o brasileiro de que é possível comprar um carro totalmente on-line com segurança”, afirma Maurício Feldman, CEO da Volanty.

Com o modelo readaptado, a InstaCarro repensa a reabertura dos 20 postos de inspeção de carros para venda. Na pandemia, a empresa, que negocia carros com 3 mil revendas no Brasil, lançou o serviço ‘InstaCarro até você’ passando a avaliar os veículos na casa do cliente. “Passamos a fechar 80% das negociações digitalmente e a demanda tem crescido rapidamente”, diz Luca Cafici, CEO da empresa. Até o momento a empresa reabriu dois postos de inspeção.

A Carflix também passou por um período de ajustes após a queda nas vendas, em abril, mas Fabio Pinto, CEO da empresa, conta que o “DNA digital” ajudou na recuperação. “Em julho alcançamos 85% do nível de vendas e vamos encerrar agosto superando os resultados do período pré-pandemia”, prevê.

No fim de junho, a empresa recebeu uma segunda rodada de investimentos de R$ 15 milhões liderada pelo BV, e prepara a expansão de showrooms no País. “Vamos começar por Campinas, no interior de São Paulo, até a outubro. Depois partimos para Brasília e Curitiba até o fim do ano”, conta o executivo.

Entre as mudanças no comportamento de consumo observadas pelas startups durante a pandemia destacam-se a demanda por um carro próprio para evitar o transporte público ou a chamada ‘troca por troco’, que é a substituição do veículo por um modelo mais barato.

De olho na tendência, a Carupi lançou o Carupi-X, no início de agosto. O site anuncia veículos mais acessíveis e com uma taxa menor, de R$ 1 mil por venda.

A empresa, que iniciou as atividades em setembro de 2019, também começou a fechar parcerias com revendas e segue em expansão fora de São Paulo. Em julho, o Carupi chegou ao Rio de Janeiro e à Baixada Santista e até o fim do mês chega a Porto Alegre e a Belo Horizonte. O plano é fechar o ano com R$ 160 milhões negociados na plataforma.

Mauricio, da Volanty, prevê a abertura de mais uma loja em São Paulo, além das unidades no Rio e na capital paulista.

Passado o choque inicial, as startups encaram com otimismo a aceitação do modelo on-line. “O que pensamos que levaria cinco anos, aconteceu em três meses”, afirma Feldman.