Ela foi a primeira perua da Volkswagen e uma das familiares mais populares do passado no Brasil. A VW Variant chegou ao mercado brasileiro no final dos anos 60 e teve vida curta em sua primeira geração no país, aquela que foi a mais emblemática e que marcou uma época.
Nascida de um projeto alemão que foi adaptado ao Brasil, a VW Variant foi uma Typ 3 bem diferente da irmã europeia e chegou a ganhar uma atualização de meia vida.
Embora tenha demorado a chegar por aqui, ela foi importante para ampliação do portfólio de produtos da Volkswagen.
Antes dela, a VW tinha somente Fusca e Kombi, além do Karmann-Ghia em versões cupê e conversível.
A virada de mesa da marca alemã, especialmente diante do surgimento de concorrentes de peso, como o Ford Corcel, aconteceu em dezembro de 1968 e envolveu não só a VW Variant, mas outros dois produtos.
Até a primeira metade dos anos 70, a VW Variant se sustentou, mas a concorrência interna com a Brasília e forçou a criação de uma segunda geração, a chamada Variant II, única no mundo, mas que já não podia mais competir com motorização a ar traseira.
VW Variant
O ano era 1968 e a Volkswagen às margens da Anchieta fazia milhares de unidades de apenas dois carros, além dos chassis que eram conduzidos rodando pela rodovia homônima de São Bernardo do Campo até à fábrica da Karmann-Ghia.
Nessa época, a fábrica já era gigantesca e mais espaços eram criados.
A ideia da “Volks” não era lançar apenas um concorrente para o Corcel, mas também para sua perua, a Belina. No entanto, um episódio lamentável mudou os planos e a determinação da empresa passou a considerar um terceiro carro, este de estilo fastback, bastante popular na Alemanha.
O fato é que essa proposta, assim como da perua, se mostrou acertada tanto lá quanto aqui.
A Volkswagen tinha três projetos básicos de automóvel: Typ 1 (Fusca e derivado Karmann-Ghia), Typ 2 (Kombi) e agora surgia o Typ 3 (VW Variant, TL e 1600L).
Na Alemanha, os três existiam em conjunto desde o fim dos anos 50, mas aqui, o último foi adaptado através de um protótipo que não foi aprovado para produção em Wolfsburg.
Apesar das diferentes em termos de design, nos detalhes é claro, a VW Variant brasileira tinha um aspecto mais leve e fluído, mantendo as características básicas do projeto Volkswagen, que eram um entre eixos de 2,40 m e motorização traseira, com o famoso boxer a ar.
A proposta da VW Variant era de praticidade, o que levaria a um projeto de motor diferente, a fim de ampliar o espaço para bagagens.
Outro ponto importante no lançamento dessa perua foi o uso de novo motor 1600, que traria não só melhor desempenho, mas também eficiência no consumo.
VW Variant brasileira
A VW Variant surgiu em meados de 1969, alguns meses após o lançamento do VW 1600L, um sedã de quatro portas (primeiro da marca assim) com linhas bem quadradas e compactas.
No caso da perua, ela também ostentava uma frente truncada, herdada deste modelo, que havia ganhado o apelido de “Zé do Caixão”.
Nessa primeira versão de modelo 1970, a VW Variant surgia com grandes faróis quadrados, que a marca elogiava como sendo algo moderno para a época.
Eles tinham acabamento cromado e monoparabola. Sem grade, a familiar naturalizada ostentava a placa no local onde geralmente iria a entrada de ar do motor num carro “comum”.
O para-choque era cromado e tinha duas barras verticais emborrachadas. O capô era longo e tinha vincos bem pronunciados, além de ostentar o logotipo VW.
Os para-lamas continuam os piscas retangulares e no lado esquerdo ficava o bocal do tanque de 40 litros, que ficava na frente do carro.
As duas portas eram pequenas e tinham quebra-ventos funcionais, assim como maçanetas cromadas, que combinavam com os frisos laterais.
As janelas traseiras eram longas e possuíam pequenas vigias integradas que abriam para melhorar a ventilação interna. Afinal, não havia ar condicionado.
A linha de cintura caía suavemente em direção à traseira, puxando da mesma forma essa enorme vigia lateral. As colunas C eram bem largas e quase abaixo delas ficavam as grelhas para refrigeração do motor boxer.
Na traseira, as lanternas com luzes de ré e piscas eram compactas e também usadas no 1600L.
A tampa do bagageiro era grande e ostentava uma boa vigia, melhorando assim a visibilidade traseira.
A VW Variant tinha para-choque traseiro mais baixo e de visual semelhante ao dianteiro, escondendo parcialmente o silencioso transversal do escapamento.
A perua tinha ainda retrovisores cromados arredondados, rodas aro 15 polegadas de aço com calotas cromadas com pneus radiais 165 R15.
Embora não tivesse barras longitudinais no teto como atualmente, a VW Variant tinha cromados em excesso, inclusive até na base das laterais.
O nome Variant era bem ostentoso, assim como o tamanho do motor: 1600. Por fora, ela era bem elegante para sua época, chamando atenção.
Por dentro, a proposta da VW era algo mais luxuoso que o Fusca e por isso o painel de estilo jacarandá é uma marca da perua, que ostentava ainda o (hoje caríssimo) volante “meia-lua”, chamado assim por causa do arco cromado da buzina.
Nessa época, a VW Variant esboçava a relação que existia entre a montadora alemã e a cidade de São Bernardo do Campo, onde ficava sua sede no Brasil, colocando o brasão de armas da já chamada “Detroit brasileira” no centro desse volante, assim como fazia com o de Wolfsburg, a cidade-fábrica criada para ser a matriz da Volkswagen nos anos 30.
A direção também podia ostentar um relógio analógico opcional.
O painel tinha instrumentos individuais, com o clássico velocímetro de luz verde e marcação até 160 km/h, tendo ainda hodômetro total e luzes espia.
Nível de combustível e manômetro do óleo ficavam em mostradores menores. O painel tinha botões circulares para faróis e limpadores do para-brisa, assim como cinzeiro e porta-luvas com chave. Havia um espaço abaixo para o rádio AM.
Os bancos eram revestidos em vinil preto ou marrom, cores que eram reproduzidas no acabamento em vinil das portas e laterais.
Os cintos de segurança eram de dois pontos e as famosas alças “puta-que-pariu” eram visíveis de longe nas colunas B. O banco traseiro era inteiriço e podia ser rebatido, ficando no mesmo plano do assoalho do porta-malas.
Ela tinha um bagageiro com uns 500 litros e era suficiente para uma família da época. Se precisa-se de mais espaço, outro compartimento na frente oferecia mais de 140 litros adicionais.
Tudo isso era montado em uma carroceria de aço estampado e estrutura monobloco.
Medindo 4,138 m de comprimento, 1,570 m de largura, 1,430 m de altura e 2,400 m de entre eixos, a VW Variant tinha suspensão dianteira com barras de torção transversais duplas como do Fusca, tendo estas barra estabilizadora e amortecedores.
Na traseira, eram dois eixos de torção com facões presos aos semieixos oscilantes. Na prática, independente nas quatro rodas. Os freios eram a tambor na frente e atrás.
Porém, a cereja do bolo da VW Variant era mesmo a motorização a ar, que dispensação preocupação com superaquecimento devido à falta de água, como nos rivais.
Motor plano
No final de 1968, a Volkswagen marcava o início da comercialização do motor boxer a ar 1600, que sobrepujava em muito o anterior 1200 e os vigentes 1300 e 1500.
Embora carcaça, camisas e cabeçotes fossem os mesmos que viriam equipar outros modelos da VW, a linha do Typ 3 brasileiro exigia um conjunto mais baixo, que ficou conhecido como motor plano.
Para poder caber no rebaixado cofre da VW Variant, a VW reposicionou o carburador único de corpo simples para trás, retirando o radiador de ar e o eixo com sua turbina e dinâmico de cima da carcaça.
O alternador foi colocado no lado esquerdo do motor, sendo acionado por correia, enquanto o radiador de ar foi construído em liga leve e fixado no mesmo nível do virabrequim.
Este tinha duas saídas de ar laterais e uma grande, centralizada, onde ficava a ventoinha em forma de turbina, presa diretamente ao eixo principal do boxer 1600.
O filtro de ar achatado ficava do lado direito, sobre o motor. Bomba de combustível mecânica e a bobina permaneceram no mesmo lugar.
Na época, a potência bruta desse 1600 (1.584 cm3) era de 60 cavalos a 4.600 rpm e 11 kgfm a 3.200 rpm. O câmbio era manual de quatro marchas.
Com esse conjunto, a VW Variant ia de 0 a 100 km/h em eternos 23 segundos e tinha máxima de 135 km/h. O consumo médio era de 11 km/l de gasolina pura.
VW Variant – Atualização
A VW Variant entrou o ano de 1970 vendo a fábrica da Anchieta pegando fogo. O incêndio que ocorreu nessa época, destruiu boa parte das instalações e afetou diretamente a produção do 1600L.
Por conta disso, este sedã foi abreviado e em seu lugar apareceu o fastback TL 1600.
Este outro derivado do Typ 3 alemão chegou ao mercado como modelo 1971 e com quatro faróis circulares e molduras que agregavam dois em cada.
Ainda com faixas brancas nos pneus, esse modelo inspirou a VW Variant, que também passou a ter o mesmo conjunto ótico com fachos alto e baixo separados.
Entretanto, essa mudança só ocorre nesse ano/modelo, pois, o modelo 1972 da VW Variant adotou seu facelift definitivo nessa geração.
O capô alto e a frente quadrada deram lugar a um conjunto mais aerodinâmico e afilado, com capô mais longo e curvado, tendo a frente inclinação negativa e desenho cunhado.
Os quatro faróis ganharam novas molduras e o logotipo VW ficou entre dois frisos cromados, entre os faróis. O para-choque novo tinha lâmina única cromada com repetidores de direção integrados e revestimento protetor em borracha.
Na traseira, o para-choque laminado ganhou emborrachamento, mas as lanternas anteriores permaneceram.
A cobertura em tecido da parte superior do painel se manteve, assim como o acabamento em jacarandá e volante meia-lua.
Mas, na linha 1973, a VW Variant perde esse estilo de acabamento, recebe apoio de braços nas portas e adiciona pequenas saídas de ar nas colunas C.
Porém, as lanterna agora eram quadradas e bem maiores.
Com a atualização da frente, a VW Variant passou a ter 4,318 m de comprimento e 1,580 m de largura, além de volume total do porta-malas de 684 litros ou até 1.134 com o banco rebatido.
O painel podia ser preto, como o vinil dos bancos ou na cor da carroceria.
Pouco tempo depois, a VW Variant ganhou mais mudanças, como volante de dois raios e rodas aro 15 sem calotas cromadas.
No entanto, a maior mudança foi o motor 1600 com dupla carburação, que entregava 65 cavalos e 12 kgfm a 3.000 rpm, garantindo aceleração de 0 a 100 km/h em 20 segundos. Também foram adotados freios dianteiros a disco.
Em 1976, a VW Variant já não suportava mais o peso da idade. Na verdade, o design estava muito desatualizado, pois, nascera no fim dos anos 50 originalmente.
Mesmo com a atualização de meia vida, a perua mostrava-se bem cansada diante até da irmã mais nova, a Brasília.
O TL já havia sido retirado de linha em 1975 por causa do Passat. Então, a perua saiu de cena para ser substituída por uma evolução.
No total, foram produzidas 256.760 unidades da VW Variant, mais que o dobro do fastback e muito acima dos pouco mais de 24 mil exemplares do 1600L.
VW Variant II
Obrigada a retirar a clássica VW Variant, a montadora alemã precisava de uma perua renovada, pois, a Ford Belina II aparecia no cenário com porte maior que a anterior.
Seguindo o mesmo caminho, a Volkswagen lançou a Variant II, que só aproveitou o motor plano (feito até 1982) 1600 – agora com 67 cavalos – e a suspensão traseira.
De resto, o projeto buscou compartilhar peças da Brasília, tais como portas, para-choque traseiro e faróis, por exemplo.
Com suspensão McPherson na dianteira e painel com mostradores quadrados, dispostos num mesmo conjunto, a Variant II antecipou características que seriam mais tarde atribuídas à Parati, derivada do futuro Gol.
Durou somente até 1980.
Typ 3
A origem da VW Variant está ligada ao projeto EA97, um sedã conceitual da Volkswagen na Alemanha, tendo sido iniciado em 1957.
Foram construídos 200 protótipos e sua proposta era se aproximar do Fusca da época, seguindo a ideia de carro popular.
No entanto, esse modelo de Typ 3 perdeu a briga para seu irmão de desenho mais clássico e preço maior, que acabou sendo feito, originando o Typ 3 alemão com versões sedã, fastback e perua, todos com 2 portas.
O EA97 ficou mais de uma década na gaveta até servir de base para o trio brasileiro.
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