ZF traça estratégia para o novo mercado de reposição

Veículos conectados, autônomos, compartilhados e elétricos irão transformar o modelo de negócio de pós-vendas.

Fonte  /PEDRO KUTNEY, AB

Veículos conectados, autônomos, compartilhados e elétricos estão transformando rapidamente a indústria automotiva global e, como consequência direta, já começaram a mudar gradualmente o modelo de negócio do mercado de reposição. Mais do que se adaptar ao novo cenário, os fornecedores de autopeças, sistemas e serviços precisam se antecipar às mudanças e oferecer soluções aos clientes, que têm novos hábitos e novas necessidades. Com esses fatores no horizonte, a divisão de aftermarket da ZF, presente em 115 países e um dos maiores atores globais deste segmento com uma rede de 10 mil oficinas parceiras, está traçando sua estratégia para a próxima década com foco em recriar a proposta de valor dessa área de atuação.

Novo vice-presidente executivo responsável global pela ZF Aftermarket, que assumiu o posto em janeiro passado vindo da recém-adquirida Wabco, Philippe Colpron avalia que o momento é de transição para um novo modelo de negócio sob a influência de muita digitalização, comunicação on-line com os clientes por múltiplos canais, conectividade e manutenção à distância, além de oficinas e reparadores com novas qualificações para fazer a manutenção de veículos que cada vez mais se parecem com smartphones sobre rodas.

“A quantidade de novas tecnologias a bordo dos veículos está crescendo muito rapidamente e as funcionalidades autônomas estão bem próximas. Precisamos nos preparar suficientemente cedo para garantir que nossos modelos comerciais estejam prontos para o futuro”, afirma Philippe Colpron.

 

Também entra na conta de tendências a crescente importância de clientes frotistas no aftermarket com o aumento da oferta de mobilidade como serviço, com compartilhamento ou aluguel e assinatura de veículos ganhando espaço sobre a aquisição do bem, incluindo os serviços de manutenção no valor da locação. Atender grandes frotas também requer grandes e eficientes prestadores de serviços, que garantam custos competitivos e rapidez nas entregas. Seguindo essa propensão do mercado, este também é um negócio sob o guarda-chuva de Colpron, que lidera a área de soluções para frotas na divisão de Sistemas de Controles para Veículos Comerciais da ZF, que integra as operações da antiga Wabco.

ALGUMAS PORTAS SE FECHAM, OUTRAS SE ABREM

 

A eletrificação das frotas em marcha no mundo todo, ainda que com diferentes velocidades de adoção entre os países, deve afetar diretamente o aftermarket automotivo com redução de faturamento em algumas áreas. Veículos elétricos ainda são mais caros para comprar, mas mais baratos de manter. Um motor elétrico tem poucas partes móveis, dificilmente quebra, modelos a bateria têm menos necessidade de manutenções regulares e usam número reduzido de peças – por exemplo, não precisam de filtros de combustível ou óleo, porque não usam esses fluídos.

Colpron reconhece que veículos elétricos não vão precisar de tanta manutenção mecânica e quando se tornarem mais presentes poderão reduzir as vendas de diversos componentes. Mas ele destaca que existem outras oportunidades, com o significativo aumento de sensores, câmeras, radares e sistemas eletrônicos de segurança ativa e infoentretenimento a bordo.

“Veremos uma redução de volume para alguns produtos ou serviços tradicionais enquanto precisamos estar preparados para novas tecnologias. Os períodos entre as manutenções devem ficar mais longos e a vida útil dos veículos tende a aumentar. Nessa nova realidade é preciso mudar o modelo de negócio, da venda de peças de reposição para a oferta de serviços de qualidade, como por exemplo a atualização on-line de sistemas”, indica o Colpron.

Nesse sentido, o executivo aponta que deve haver uma maior aproximação das oficinas e reparadores, com a oferta de treinamentos específicos para lidar com as novas tecnologias. “É verdade que o conteúdo tecnológico dentro dos veículos está crescendo rapidamente, não apenas em termos de complexidade, mas também em termos de acesso aos dados. Precisamos apoiar as oficinas com acesso à informação, treinamentos, suporte on-line e com diagnósticos ou soluções de software”, defende.

CRESCIMENTO DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO

 

As recentes aquisições da ZF, que em 2015 comprou a TRW por cerca de US$ 12 bilhões e no ano passado concluiu a compra da Wabco por estimados US$ 7 bilhões, ampliaram significativamente as áreas de atuação da companhia alemã no mundo todo, aumentando também o foco da divisão de aftermarket que ganhou novas marcas nesse mercado – as já citadas TRW e Wabco, que se juntaram às já ativas nesse mercado Lemförder, Sachs e a própria ZF – e um amplo leque de peças e serviços. Essa diversidade no portfólio coloca a ZF Aftermarket mais próxima de sua estratégia de transforma as oficinas parceiras em um one stop shop, onde o cliente encontra tudo que precisa para a manutenção de seu veículo em uma única parada.

A ZF Aftermarket é uma das dez divisões do grupo ZF, que segundo o balanço financeiro de 2020 somou vendas globais de € 2,5 bilhões, em queda de 13,9% sobre 2019, representando 7% do faturamento de € 32,6 bilhões da companhia no ano passado, que caiu 10,7% na comparação com o ano anterior.

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