
SUELI REIS, AB
“Não se pode ignorar uma boa crise.” Esse foi um dos alertas de Joe Vitale, sócio líder global da Delloite para o setor automotivo em sua palestra Estratégias para enfrentar a crise, durante o Workshop Planejamento 2016, promovido na segunda-feira, 17, por Automotive Business, em São Paulo. Ele analisou a crise americana de 2008 a fim de ilustrar quais lições podem ser aprendidas e aplicadas na realidade brasileira.“Entre 2008 e 2010, a indústria automobilística dos Estados Unidos acentuou problemas que não eram novos, mas que eram ignorados. Desde então, entre outros fatores, percebeu-se que não se pode lançar ou produzir mais modelos do que a demanda comporta e ainda esperar que o consumidor vá pagar pelo custo adicional desses volumes”, disse. Segundo Vitale, naquele momento, todos agentes do setor – CEO’s, federação dos concessionários e sindicato dos trabalhadores reconheceram que era difícil, mas estritamente necessária uma reestruturação rápida. “Não dava para sair sozinho [da crise]. Foi preciso uma forte colaboração não só dos fornecedores, mas com a concorrência também: se reunir como indústria e com o governo também para lidar com as questões estruturais de grande porte, que estavam além da capacidade de alcance da indústria.” Ele lembra que na Europa o cenário de queda era diferente, por questões geopolíticas: enquanto a crise nos Estados Unidos era aliada a diversos fatores, incluindo tensões legislativas, como aposentadoria dos sindicalizados, há apenas um governo central, que de alguma forma se sensibilizou com as questões relacionadas ao setor. Na Europa, cada governo tem seu interesse, criando diferentes saídas, o que naturalmente criou uma reação muito mais lenta que a dos Estados Unidos. Vitale ressalta que é muito clara a importância do mercado brasileiro para as marcas globais, o que justifica a aposta delas no potencial nacional. No entanto, o Brasil passa por um ciclo de altos e baixos com velocidade anormal: “No Brasil, as empresas viram muito progresso de 2005 a 2012, com um crescimento constante do mercado. Uma crise e como sair dela é naturalmente mais doloroso neste contexto.”No curto prazo, a agenda da indústria nacional passar por questões pontualmente vitais. No curto prazo, ele cita a necessidade de como lidar com o câmbio flutuante e com o excesso de capacidade produtiva. “Outra pergunta que se deve fazer é como o governo brasileiro vai apoiar esta queda. Os dirigentes de empresas não estão fazendo estas perguntas porque perderam a confiança de se fazer uma política a longo prazo.” Ele lembra que a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos, os investimentos não devem ser esquecidos: “As empresas que naquela ocasião mais investiram – em inovação e produtos adequados – foram as que melhor saíram da crise. E investiram porque tinham a confiança depositada em um governo que daria algum tipo de suporte na recuperação, porque o governo percebeu que a falência de empresas do setor causaria um impacto catastrófico no setor automotivo como um todo, resultando em efeito cascata na cadeia produtiva”.Por sua vez, Ivar Berntz, sócio líder da Deloitte para o setor automotivo, aposta que o caminho para a indústria brasileira pode estar na otimização das cadeias globais de produção e em sua capacidade de ser flexível para desenvolver veículos que mais demandam no mercado nacional. “Não se pode mais fazer veículos pensando apenas em incentivos e com eles ter perdas de rentabilidade.” Aumento deliberado da rede e reorganização das responsabilidades em diversos âmbitos foram apontadas por Berntz como algumas lições a serem consideradas. “Nos Estados Unidos, chegou-se a conclusão de que a rede de distribuição era 50% maior do que precisava naquele momento. Muitos sofreram: tiveram que enxugar rede e regras entre revendas e montadoras. Lev
Fonte: Automotive Business