Anfavea adia esperança de recuperação

 Entidade agora projeta retomada só para o segundo semestre de 2016
PEDRO KUTNEY, AB
Diante de resultados que a cada mês aprofundam a queda nas vendas de veículos no País este ano, a associação dos fabricantes, a Anfavea, parece ter deixado de vez o discurso que projetava um início de recuperação a partir deste segundo semestre. Os emplacamentos de julho, 227,6 mil, contrariam essa expectativa, resultaram na soma de 1,95 milhão unidades vendidas nos primeiros sete meses de 2015 e ampliaram para 21% o índice de queda geral do mercado na comparação com o mesmo período de 2014. Com isso, a retração começa a superar a previsão da Anfavea, de recuo de 20,6% no ano todo, considerando 2,78 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus consumidos entre janeiro e dezembro próximo.
“Esperamos nos próximos cinco meses desempenho médio das vendas parecido com a média dos últimos sete meses. Esperamos por uma retomada mais sustentável só a partir do fim do segundo trimestre de 2016”, afirmou Luiz Moan, presidente da Anfavea, durante a divulgação mensal de dados da entidade à imprensa na quinta-feira, 6. “Tínhamos uma visão mais otimista porque esperávamos que o ajuste fiscal estivesse concluído até junho passado, o que não aconteceu”, reconheceu. Pela lógica do dirigente, se todas as medidas de aperto dos gastos do governo já tivessem sido colocadas em prática, isso reduziria a incerteza e insegurança que rondam o mercado desde o ano passado, resultando em maior confiança dos consumidores para voltar às compras. Como o ajuste ainda patina no Congresso, a desconfiança persiste e os negócios seguem em queda. POTENCIALMoan voltou a ressaltar, contudo, que o potencial do mercado brasileiro ainda existe, lembrando do estudo da Anfavea que projeta mercado de 7 milhões de veículos/ano daqui a 20 anos caso o PIB brasileiro volte a cresce na média de 3% ao ano. O problema é que esse nível de crescimento aprece bastante inverossímil no cenário atual. “Estamos passando por um momento difícil, mas é um momento, vai passar. As empresas têm essa visão de futuro”, ponderou. Para reforçar essa tese ele lembrou dos investimentos em curso da indústria para atender a esse potencial futuro, que pelas contas da Anfavea somam R$ 85 bilhões até 2019, levando em conta R$ 8 bilhões anunciados este ano. Para o dirigente, a alta do mercado de usados, de 4% nos primeiros sete meses de 2015 com a negociação de 6 milhões de unidades, além do crescimento da venda de consórcios que em junho atingiu 78,5 mil cotas alta de 37% sobre o mesmo mês de 2014, são fatos que comprovam a persistência do desejo de consumo por veículos no País. Até o momento, contudo, as vendas de veículos novos não respondem a esse potencial. Além da queda acumulada de 21% nos setes meses do ano, na comparação com julho de 2014 o resultado é ainda pior, com retração de quase 23%. Em relação a junho passado houve avanço de 7,1%, mas só porque julho teve mais dias úteis, 23 contra 21. Com isso, os estoques de veículos à espera de compradores seguem em patamares muito altos: 344,8 mil unidades estão estocadas, 137,9 mil nas fábricas e 206,9 mil nas concessionárias, o suficiente para sustentar 45 dias de vendas no ritmo atual.
Fonte: Automotive Business