Até onde vai o gás?

Texto: Fernando Calmon

(17-06-08) – A ansiedade é natural. O cenário de prosperidade do país e as vendas recordes de automóveis e veículos comerciais fazem pensar no momento do pouso da economia. Como não dá para continuar crescendo ao ritmo atual de 30% ao ano, resta saber de que forma se dará a acomodação. A desaceleração será suave e administrável ou a chamada freada de arrumação vai machucar os passageiros mais distraídos?

Todos esses aspectos estiveram no centro dos debates durante o Seminário Autodata Revisão das Perspectivas 2008, semana passada, em São Paulo. Na média das opiniões, pouco há a temer. A cadeia da indústria, até o momento, tem conseguido manter o fôlego para atender os compradores, mesmo com alguns atrasos. Esse tem sido um ano de lançamentos importantes que sempre ajudam a atiçar a demanda. As promoções continuam e há tendência de diminuição ou eliminação dos descontos.

No entanto, não se nota um processo generalizado de escalada de preços para o consumidor final. Afinal, apenas entre 2007 e 2008, dois dos principais insumos – aço e petróleo – subiram na faixa de 40%. Os fornecedores de autopeças acumulavam defasagens, enfrentam o custo de ajustar pequenos desvios da qualidade refletidos pelo ritmo forte e uma carga de horas extras que beira o insuportável. Apesar disso, o aumento rápido da produção e a quase total eliminação da ociosidade fizeram o seu papel.

Sempre há visões de mau agouro sobre a capacidade dos compradores de honrar os compromissos. O prazo médio dos financiamentos tem-se mantido em 43 meses e mesmo assim a inadimplência permanece em nível normal. Segundo Luiz Montenegro, presidente da associação dos bancos ligados aos fabricantes, o brasileiro é bom pagador. “Somente um descontrole inflacionário, que atingisse emprego e renda, deterioraria o cenário. Diferente da situação atual nos EUA, onde se afrouxaram em demasia os controles sobre os tomadores de crédito imobiliário, numa sociedade em que o endividamento é natural”, acrescentou.

Por outro lado, o mercado interno ainda apresenta muito espaço para crescer. Se as projeções para os próximos cinco anos se concretizarem, somente em 2013 o Brasil vai atingir a mesma taxa de motorização atual do México, em torno dos 200 veículos por 1.000 habitantes. Nos países maduros, essa taxa chega a mais de 800 veículos por 1.000 habitantes.

Em resumo, ainda há gás (como no dito popular) para expansão. O compasso de crescimento ainda será muito forte este ano (no mínimo 20%), deve diminuir em 2009 (10%) e se manter entre 1,5 e 2 vezes superior ao crescimento da economia até, pelo menos, 2013. Para que isso se concretize devem-se afastar as possibilidades de grandes acidentes de percurso na ampliação da infra-estrutura do país, especialmente logística, transporte, energia e administração.

Se tudo acontecer em harmonia, em cinco anos produziremos, em números redondos, 5 milhões de unidades por ano. Exportaríamos 1 milhão de veículos, importaríamos meio milhão e o mercado interno seria de 4,5 milhões. Esse nível atingido, os automóveis seriam mais bem equipados e a defasagem dos lançamentos, hoje existente na maior parte da oferta de modelos, ficaria, finalmente, eliminada.

Fonte: Webmotors