Autopeças e montadoras discutem repasses

Uma queda de braço pelo repasse nos custos dos fornecedores de autopeças às montadoras está marcada para os próximos dias. O reajuste salarial na casa dos dois dígitos ficou acima do esperado pelas empresas, de acordo com o presidente do Sindipeças, Paulo Butori, que avisou: “Dessa vez, não há como passar em branco”.

Os fornecedores já iniciaram tentativas de atualização dos preços. As montadoras, entretanto, endurecem a discussão com o argumento de que há necessidade de melhoria no processo produtivo dessas empresas. Butori defende: “Não existe produtividade de dois dígitos na mão-de-obra”.

O presidente da entidade explica que 30% dos custos das autopeças vêm da mão-de-obra, enquanto nas montadoras esse índice é de 8%. No chamado ABC Paulista, o recente reajuste salarial dos trabalhadores dos fabricantes de autopeças foi de 11%.

Para agravar, o aumento das matérias-primas não foi completamente repassado, o que apertou as margens das autopeças. De acordo com representante do Sindipeças, a rentabilidade das vendas do setor cairá 1 ponto percentual este ano, fechando em 5%.

Diante deste cenário o executivo considera impraticável a manutenção dos preços atuais. O repasse, segundo ele, é a principal preocupação do setor atualmente, uma vez que as vendas para 2008 estão praticamente fechadas e o faturamento em reais deverá crescer 9,6%, equivalente a R$ 76,7 bilhões, recorde para o setor.

Segundo pesquisa realizada com 95 empresas associadas à entidade, de janeiro a agosto o faturamento do segmento cresceu 11,8% com relação ao mesmo período do ano passado. A balança comercial está negativa em R$ 1,5 bilhão, enquanto nos oito primeiro meses de 2007 apresentava R$ 8 milhões de superávit. No período, as exportações subiram 17,8% e as importações apresentaram alta de 42,8%.

Abalo internacional – A crise financeira global também preocupa o setor, mas em níveis menores, pelo menos por hora. Segundo Butori, os efeitos serão sentidos dentro de 90 a 120 dias, o que afeta apenas as previsões para 2009. Sua estimativa do setor crescer de 8% a 9% no ano que vem, por enquanto, foi suspensa. Ele prefere não arriscar hipóteses.

Garante, porém, que até então nenhuma fabricante de autopeças modificou seu plano de investimento. Para atender a produção de 3,6 milhões de veículos, o setor investirá R$ 2,2 bilhões em 2009, valor superior ao R$ 1,6 bilhão deste ano.
(André Barros)

Fonte: Boletim Autodata