Autopeças perto do limite de produção

Valor Econômico

Num momento em que as montadoras mandam mais dinheiro para o exterior e as linhas de produção estão aceleradas, fabricantes de autopeças passam sufoco para acompanhar o ritmo. Um estudo de capacidade e de gargalos preparado pelo Sindipeças, entidade que representa o setor, que será apresentado para representantes da cadeia automotiva no dia 16, mostra que apesar de 82% dos empresários dizerem que têm investimentos em andamento ou que vão investir, há sub-setores trabalhando acima de 85% da capacidade, limite considerado aceitável.

Ao contrário do levantamento anterior, há um ano, quando não se detectavam quase gargalos, o que será apresentado no dia 16 indica nove de cerca de 13 sub-setores trabalhando acima de 85% da capacidade. São empresas que fabricam derivados de borracha, fundição, vidros, borrachas e outros para interiores de carros. Parte desse grupo opera com menos de 15% de folga. Os casos críticos, com menos de 7% de ociosidade.

O mesmo estudo, realizado com suporte da consultoria Booz & Company, vai mostrar ainda, com base nos relatos dos empresários entrevistados, que a indústria de peças precisa receber investimento de R$ 3 bilhões nos próximos 12 meses para não perder de vista os pedidos das montadoras. O valor é 50% maior do que o da última abordagem do gênero, realizada um ano atrás.

O que mais preocupa os fabricantes de autopeças é que muitos estão trabalhando no limite. O conselheiro responsável pelos estudos do Sindipeças, Flávio Del Soldato, presidente da Usiparts, diz que é muito elevado o número de horas extras hoje, o que eleva os custos de produção e começa a trazer preocupações relacionadas à qualidade. “Com esse stress, o custo do controle de qualidade aumenta”, afirma o executivo.

“Não conseguimos ver nada além de nuances de crescimento para os próximos cinco anos”, diz Del Soldato. Segundo ele, a certeza de que o crescimento das vendas veio para ficar faz, entretanto, com que empresas que no passado duvidavam da sustentabilidade, agora não tenham receio de investir. Na Usiparts, conta, foram compradas cinco prensas de última geração para dobrar a produção de peças estampadas para as fábricas de caminhões e utilitários.

Mesmo assim, nos bastidores, há muita apreensão, segundo mostram os relatos de diretores de compras das montadoras divulgados em artigo publicado no site da “Automotive Business”, publicação que circula no setor automotivo. Um deles diz que não há falta crônica de componentes, mas persiste um “equilíbrio precário” Outro destaca que “há fornecedores fazendo loucura para manter de pé produção de autopeças e até negligenciando a manutenção”.

Falta, no entanto, ainda resolver o problema das empresas menores e descapitalizadas que, por terem dívidas de impostos, encontram dificuldades para conseguir crédito nas instituições bancárias, incluindo o BNDES. O recente pacote da política industrial trouxe benefícios. Mas os executivos do setor dizem que a dificuldade na obtenção de crédito ainda existe. Como as linhas não podem parar, a estratégia das grandes empresas em geral será trabalhar mais próximas dos fornecedores que não passam por tais dificuldades.

Fonte: Webtranspo