
Cenário é de oportunidade de virar o jogo em 2015, aposta Octavio de Barros
GUSTAVO HENRIQUE RUFFO, PARA AB
2015 pode ser mais do que apenas um ano difícil. Segundo Octavio de Barros, economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, existe a chance de ele ser também o ano de criação de uma nova plataforma de crescimento da economia do Brasil, uma que recupere a confiança necessária para investimentos. Foi essa a ideia central da palestra “As perspectivas da economia”, durante o VI Fórum da Indústria Automobilística, realizado por Automotive Business na segunda-feira, 6, no Golden Hall do WTC, em São Paulo.
“Em menos de 40 dias, a nova equipe econômica já foi capaz de reverter um modelo econômico que perdurava há quatro anos. Foi isso que fez a Standard & Poors não reduzir o rating da economia brasileira e dar a ela o benefício da dúvida”, diz Barros.
Além das necessárias reformas, que podem encontrar na atual crise o combustível para saírem do papel, o economista fez questão de frisar que ela não é causada por questões macroeconômicas, mas sim por problemas corporativos. “Foram as investigações na Petrobras e a falta de publicação de seu balanço, assim como a forma como essa crise afetou seus fornecedores, que levaram a uma maior percepção de risco pelos investidores. Existem questões econômicas que precisam de atenção, mas a crise é de risco corporativo.”
De acordo com o executivo, a promessa da publicação do balanço da estatal deve trazer mais tranquilidade ao mercado. E será ele o responsável por colocar fim à crise. “Não tenho dúvidas de que a recuperação terá de vir via mercado. O preço dos ativos vai se recuperar antes. O risco foi sobrevalorizado.”
Enquanto isso não acontece, o conselho de Barros é que as empresas, especialmente as indústrias, refaçam seus planos estratégicos. E a desvalorização do real diante do dólar deve ser o melhor caminho para isso. “A indústria automotiva, por exemplo, terá de dois a três anos de ajuste e sofrerá um enxugamento, sem dúvida nenhuma. Hoje ela já enfrenta estoques elevados e capacidade ociosa. Uma saída para isso será uma orientação exportadora, mas isso leva tempo. É preciso recuperar mercados, preparar produtos adequados a cada um deles e voltar a vender para o mercado externo.”
No setor de autopeças, o caminho deve ser o mesmo, com a diferença de que já enfrenta dificuldades há muito tempo. “Vejo que haverá uma consolidação entre os fornecedores, com proteção ao caixa, mas as exportações também voltarão ao radar, já que os preços brasileiros voltarão a ser competitivos.”
EXEMPLARIDADE
Enquanto o setor privado voltará aos planos e recorrerá aos mercados externos, o setor público terá diante de si a tarefa de uma refundação macroeconômica. O economista estima que o desemprego subirá de modo significativo, com 3,5 milhões de novas pessoas sem ocupação e um índice que deve chegar a 8,2% em 2016.
“O Brasil precisa entrar na era da exemplaridade. Nosso problema é basicamente de governança, com a criação de regras intertemporais e a desaceleração de despesas públicas. 2015 tem de ser um ano de virada, para que o Brasil se torne um lugar mais previsível. Talvez o que nós tenhamos seja uma bênção disfarçada de problema, mas tenho certeza de que as coisas se ajeitarão. O Brasil sempre dá um jeito de voltar à normalidade.”
Fonte: Automotive Business