Sonaira San Pedro, de Xangai – 26/4/2009 – 21h33
Na China, a produção não para: a cada hora, 1,5 mil novos veículos ganham as ruas do país, que já é o maior mercado automobilístico do mundo desde o começo do ano, de acordo com números da Associação dos Produtores de Automóveis da China (Caam, na sigla em inglês). Em março, as vendas bateram recorde de 1,1 milhão de unidades, enquanto nos Estados Unidos elas não passaram de 675,5 mil. A expectativa é de que o país feche 2009 com 9,96 milhões de carros a mais nas ruas, se o mercado automobilístico local crescer o mínimo de 6% esperado pelos economistas ligados ao setor.
“Mesmo que a crise econômica tenha afetado as exportações dos carros chineses, que correspondem a menos de 10% da produção, o mercado interno tem espaço de sobra para crescer”, afirmou o economista Eduardo Lee. As exportações de veículos chineses, que somaram 680,7 mil unidades em 2008, chegaram a cair 16% no mês de setembro, de acordo com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Automotivo da China (Catarc, na sigla em inglês). Dos veículos exportados, 90% são produzidos por montadoras nacionais e chegam principalmente à Rússia, Irã, Bélgica, Argélia e Síria.
“O crescimento acelerado do setor automobilístico chinês ainda vai continuar por muitos anos, porque a demanda interna é tão grande que as montadoras chinesas não dependem do mercado externo para crescer”, disse Lee. Enquanto na China existem 24 carros para cada mil pessoas, a média mundial é cinco vezes maior, segundo estudo realizado no ano passado pela Universidade de Michigan em parceria com a IBM. Nos Estados Unidos, o segundo maior mercado automobilístico do mundo, de cada mil pessoas, 750 dirigem seu próprio automóvel.
Status –Na China, ter um carro na garagem é ostentar o maior símbolo de status da sociedade, principalmente para a classe média emergente que está cansada de pedalar bicicletas. Em 2001, quando o país entrou para a Organização Mundial do Comércio (OMC), menos de 1% dos chineses tinham carro, de acordo com dados oficiais. Com baixíssima produção e impostos que inflacionavam os veículos em até 80%, dirigir automóveis era luxo restrito aos estrangeiros que trabalhavam na China e a membros endinheirados do Partido Comunista. De lá para cá, reestruturações fiscais, de mercado e de produção tornaram os veículos produzidos por fábricas estrangeiras no país muito mais acessíveis à população local.
Hoje, todas as principais montadoras do mundo estão na China. Para poder produzir no país, o governo exige que elas façam joint ventures com as fabricantes locais: dividir conhecimento é o preço que se paga para ter o direito de explorar um mercado tão promissor. Além das fabricantes estrangeiras, há as companhias de capital exclusivamente chinês, como Geely, Chery e Brilliance, cada vez mais empenhadas em ganhar espaço no mercado interno e externo.
Dinheiro vivo – “Há cerca 60 marcas no país, em uma concorrência cada vez mais acirrada, o que faz os preços dos carros caírem ao mesmo tempo em que a população chinesa vê aumentar seu poder de compra”, disse o diretor da consultoria J.D. Power Asia Pacific, Michael Dunne. No ano passado, os chineses adquiriram 5,3 milhões de carros de passageiros, como divulgou recentemente o Escritório Nacional de Estatísticas da China. “Em 2013, esse número terá dobrado”, disse Dunne.
As expectativas poderiam ser ainda mais otimistas se o consumidor chinês estivesse habituado ao conceito de financiamento. “Nove em cada dez chineses chegam à concessionária com uma mala de dinheiro para pagar o carro à vista; e o vendedor conta nota por nota”, afirmou Dunne. No país, os prazos de pagamento têm sido cada vez mais longos, com entrada de 30% do valor do veículo e juros que oscilam entre 5% e 6% ao ano. “Os chineses estão se deixando seduzir pelo consumo, mas mantêm a cultura de poupar antes de comprar qualquer coisa”, completou Dunne.
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Fonte: Diário do Comércio