Com fim da crise, autos voltam a liderar crescimento da indústria


Expectativa é que a fatia dos automotores permaneça em torno de 20%, ou até superior a esse patamar, ao longo deste ano.

Jacqueline Farid/AE – 24/3/2010 – 16h45

RIO – A indústria de veículos automotores (automóveis, autopeças, caminhões) respondeu, sozinha, entre 27 atividades pesquisadas pelo IBGE, por 20%, ou 3,4 ponto porcentual, do crescimento de 16% na produção industrial em janeiro ante igual mês do ano passado. Na mesma comparação, a produção de automotores aumentou 41,4%. A expectativa do economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério Souza é que a fatia dos automotores permaneça em torno de 20%, ou até superior a esse patamar, ao longo deste ano. Ele lembra que em 2008, antes do início da crise, a participação chegava a 25%.

Na avaliação de Souza, veículos automotores e máquinas e equipamentos vão liderar o crescimento industrial em 2010 que, segundo o último relatório Focus divulgado pelo Banco Central, deverá chegar a 8,9%. Antes da crise, de acordo com o economista, esses dois segmentos, juntos, chegaram a representar 40% da expansão da indústria, o que deverá se repetir este ano.

Mas o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales acredita em expansão industrial mais generalizada em 2010, com alguma perda na fatia dos automotores no crescimento total do setor. Ele avalia que a elevada participação desse setor em janeiro tem relação com um efeito estatístico provocado pela baixa base de comparação do ano anterior e a influência deverá ser menor a partir do segundo trimestre.

Segundo Sales, a tendência é que essa fatia robusta de veículos automotores no crescimento industrial prossiga pelo menos neste primeiro trimestre, quando a base de comparação deprimida do ano passado terá um efeito forte nos resultados comparativos a iguais períodos de 2009. “Esse efeito estatístico é particularmente importante em segmentos que foram mais atingidos com a crise, como os automotores”, disse.

Ele lembra que, apesar do forte tombo levado pela indústria automotiva no final de 2008, os estímulos governamentais como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a manutenção do rendimento dos trabalhadores garantiram uma recuperação importante no decorrer de 2009, que acabou sendo fundamental para a reação do total da indústria no período.

Em 2010, segundo Sales, a perspectiva é de que a indústria automotiva, ainda que prossiga com seus importantes efeitos em cadeia no desempenho industrial, reduza a fatia de participação na expansão do setor. “A demanda doméstica deve ser novamente um fator preponderante para o desempenho industrial, mas as taxas desse segmento não devem ser tão fortes como no ano passado, já que é um bem de alto valor e de lenta reposição e, além disso, os incentivos estão sendo retirados”, explica.

De acordo com Sales, o menor crescimento dos veículos automotores será compensado por uma aceleração nos resultados dos bens de capital. “As sondagens mostram que o momento é muito favorável aos investimentos”, observou. Ainda segundo o economista, a safra estimada em 145 milhões de toneladas também deverá ter um impacto positivo na agroindústria.

Para Souza, do Iedi, mesmo com o fim dos incentivos fiscais a produção de veículos automotores prosseguirá em crescimento vigoroso, sobretudo por causa da disponibilidade de crédito à pessoa física e do alongamento dos prazos de pagamento. Apesar de comemorar a liderança desse setor no crescimento industrial, já que tem um efeito em cadeia importante sobre outros segmentos, ele alerta que é preciso que outras atividades da economia, setores tradicionais e empregadores como calçados e têxteis, também acelerem o crescimento.

Fonte: Diário do Comércio