Compra de carro compromete renda

Gabriela Gasparin
Especial para o Diário

Com crescimento de 26,8% no volume de crédito disponível no ano passado ante 2006 – o equivalente a R$ 79,5 bilhões em novembro, segundo dados do Banco Central – o setor automotivo comemorou em 2007 o melhor ano de toda a sua história no País.

O responsável pelo recorde foi o consumidor, que com o dinheiro emprestado na mão, propiciou um aumento de 27,8% nas vendas do setor na comparação com 2006, um total de 2,3 milhões de veículos comercializados, de acordo com a Fenabrave (Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores).

De carro zero na garagem, a população passou a enfrentar uma situação bastante comum: dívida de cinco anos ou mais para pagar com praticamente toda a renda mensal comprometida.

Uma pesquisa feita pela consultoria MSantos revela que 98% dos consumidores que compraram carros novos sem entrada nos últimos meses de 2007 estão com toda a renda comprometida. Desses, 42% compraram carro pela primeira vez.

Das 2.300 pessoas entrevistadas, o pagamento financiado sem entrada foi escolha de 58%. Quem comprou à prazo, mas deu entrada, ficou com 65% da renda comprometida. Os 7% restantes pagaram à vista e tiveram 48% de comprometimento.

De acordo com o economista Sandro Maskio, professor de universidades do Grande ABC, o cenário é conseqüência do chamado “efeito riqueza”, que faz as pessoas terem a sensação de terem mais dinheiro do que na verdade possuem e, por isso, gastam mais do que o orçamento permite. Essa sensação é propiciada justamente pelo aumento da renda e do trabalho observados no ano passado, por causa do crescimento da economia.

“Por mais que estejam ganhando mais, os trabalhadores devem ter em mente que arcarão com a despesa durante quatro ou cinco anos”, disse. De acordo com Maskio, para pagar o carro as pessoas reprimem o orçamento e geram inadimplência

O consultor financeiro Cláudio Carvajal orienta que seja comprometido no máximo 20% da renda na compra do automóvel para consumidores que arcam com outros gastos, como escola para os filhos e moradia, e 40% da renda para quem não tem outros compromissos. “Também é preciso levar em conta custos com IPVA, combustível e manutenção.”

Fonte: Diário do Grande ABC