Consórcio resiste apesar do crédito farto

Até alguns atrás ele aparecia na televisão, fazia parte da receita publicitária de grandes emissoras. Era comum também bater na porta de casa, na forma de contrato, guardado na maleta do vendedor. O consórcio, uma das mais tradicionais modalidades de compra de automóveis, embora meio apagado, está longe de acabar. Apesar da avalanche de crédito que tomou conta do mercado nos dois últimos anos, as empresas de consórcio mantêm seus clientes, que formam um grupo de compradores que planejam suas aquisições e optam por parcelamento sem entrada e sem juros.

De acordo com dados da Abac, Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios, as vendas de novas cotas para automóveis e comerciais leves de janeiro a julho foi a maior dos dois últimos anos, com 29,7 mil unidades. A carteira toda nesse período já ultrapassa os 172 mil contratos, volume 10% superior ao mesmo período do ano passado.

Para o presidente da entidade, Rodolfo Montosa, consórcio é a solução para grande parte do consumidor que deseja ter seu primeiro veículo. Além disso, pode significar a salvação das financeiras. “Formar a carteira de clientes de consórcios é sempre um desafio porque é um produto de planejamento financeiro. Mas num momento de oscilação nas taxas de juros e de forte restrição de crédito, ter uma carteira de consórcio é o diferencial e garantia para sustentar o negócio.”

Anos atrás, época na qual a venda de consórcio se igualava às vendas financiadas de veículos, as montadoras eram as maiores distribuidoras de cotas. Muitas delas, porém, preferiram vender suas carteiras e manter apenas os clientes de financiamentos. Clientes de financiamentos e de consórcios são bem distintos na visão de Montosa: “Os primeiros são devedores e os outros são credores”. Até julho as empresas de consórcios acumulavam 773 mil participantes ativos de cotas de automóveis e comerciais leves.

Como automóveis, o segmento de caminhões também se beneficia das novas regras de financiamentos oferecidos, principalmente pelo BNDES, embora muito concentrado nas mãos das grandes e médias empresas em função das exigências. Para os autônomos e pequenos empresários, o consórcio de veículos comerciais representa possibilidade de ampliar ou renovar a frota. De janeiro a julho, o volume de novas cotas vendidas para o setor de veículos pesados cresceu 60,7% ante o mesmo intervalo de 2007, superando 150 mil participantes ativos.

Focado nos clientes deste segmento, o Real Consórcio, empresa do Banco Real, multiplicou por oito as vendas de novas cotas de caminhões no primeiro semestre deste ano. A expectativa da empresa é expandir os negócios nesta área em 25% na comparação com 2007.

Com mais opções no mercado, o segmento de motos também acompanha a expansão do setor sobre o alicerce dos financiamentos. Apesar de concentrar menores valores, as cotas de motos representam o maior volume do sistema, 53,2% do total de participantes.

Há mais de quarenta anos no mercado de consórcio, o Grupo Rossi mantém sua aposta na modalidade. Mônica Rossi, presidente do Consórcio ABC Primo Rossi, admite que os avanços do consórcio estejam abaixo do crescimento do volume de financiamentos, mas acredita que em alguns meses o setor pode registrar aumentos na aquisição de cotas, tanto por conta do retorno de clientes quanto de novos consumidores que passarão a planejar suas compras. “A experiência de tomar crédito com financiamentos longos pode não ser tão positiva. Quando o cliente faz as contas e vê que pagará duas vezes o valor do bem, ele acaba pensando diferente. Sem contar a desvalorização do veículo no período.”

Dentre os negócios do Grupo Rossi, o consórcio representa metade do faturamento, cerca de R$ 98 milhões, dos quais as cotas de automóveis representam 20% do total. O número de clientes ativos na carteira do Primo Rossi é 4% maior no acumulado deste ano na comparação com o ano passado, mas está 10% acima da quantidade de 2006. Os resultados justificam a decisão do grupo em manter a empresa de consórcios e vender sua única conces
Fonte: Boletim Autodata