Corrida como ferramenta de negócio

Apostar numa ação dispendiosa que não encontra retorno financeiro, pode ser encarada, em um primeiro momento, como ato de insanidade. Afinal, só louco rasga dinheiro. A Peugeot, porém, longe de estar prestes a vestir camisa-de-força, gasta boa grana – não diz quanto para que a fórmula não caia na mão da concorrência – para fazer da sua Copa Peugeot uma reprodutora de negócios.

A receita começou a ganhar ingredientes em 2002, quando a empresa apresentou ao público uma versão do modelo 206 preparado para rali no Salão do Automóvel de São Paulo. No ano seguinte a marca pegou carona no campeonato nacional da modalidade, organizado pela CBA, Confederação Brasileira e Automobilismo. Desde o ano passado, porém, o evento é independente e levado adiante pela montadora e parceiras patrocinadoras que aliviam os custos. O diretor da Peugeot Sport, Marcus Brier, enxerga o evento como um diferencial. “Quando passamos a ter carreira solo, sem a subordinação do campeonato brasileiro, além de ganharmos liberdade para escolher os lugares de cada etapa, a copa se integrou aos negócios da empresa.”

Isso significa dizer que hoje o evento segue uma lógica comercial e desembarca em determinada região definida de acordo com variáveis como perfil do cliente, participação de vendas da marca e até desempenho da rede de concessionárias. No circo armado pela Peugeot correm duas modalidades: velocidade e regularidade.

O primeiro, claro, exige certo profissionalismo e habilitação adequada que permita participar da competição. Até pouco tempo antes do Peugeot 206 1.6 deixar de ser fabricado, cerca de dois meses atrás, a montadora oferecia o modelo de rali pronto por R$ 45 mil com um pacote de benefícios que incluía o deslocamento gratuito do carro a cada uma das etapas e eventuais peças de reposição subsidiadas. “Sem contar o custo inicial do carro, a Copa Peugeot sai mais barato do que correr de kart. A acessibilidade é um dos principais itens que norteiam o nosso evento.”

No rali de regularidade, que o executivo prefere chamar de passeio cronometrado de domingo, os clientes da marca são convidados pela rede de concessionárias local para participar com seus próprios carros. Cada equipe de motorista e navegador deve cumprir um circuito pré-determinado com velocidades médias estabelecidas pela organização. “No começo foi difícil convencer a rede e o cliente, temerosos de que a competição estragaria o carro. Mas hoje o concessionário entendeu que se trata de uma oportunidade de conversar com o cliente de uma maneira descontraída. Na maior parte das vezes esse relacionamento se dá nas ocasiões de compra e de manutenção, situações que exigem uma abordagem menos festiva.”

O trabalho de convencimento parece já ter dado resultado. Na quinta etapa do evento, realizada em Pomerode, SC, no fim de semana passado, dias 13 e 14, participaram cerca de sessenta veículos no rali de regularidade. No ano passado, a prova contou com quarenta. Pela contas da Peugeot, não é apenas a quantidade de inscritos que precisa ser avaliada, mas também aumento do fluxo de caixa com serviços e acessórios, incremento na mídia espontânea, além das oportunidades geradas para vender automóveis. “A Copa Peugeot é uma ação que permite explorar duas frentes: estímulo à rede e fidelização do cliente.”

Para o ano que vem a montadora ainda está debruçada sobre como resolver oferta do modelo preparado para o rali de velocidade, já que o 206 1.6 deixou de ser fabricado. É bem provável que o 207 ganhe a preferência. Brier, porém, não tem dúvidas quanto ao futuro: buscar mais patrocinadores a fim de amenizar os custos e fazer com que sua própria receita seja seguida pelos parceiros. Essa bola já começou a rolar, a empresa de software Senior, uma das patrocinadoras, usa o evento como ferramenta de marketing de relacionamento e negócios, levando seus clientes para um fim de semana diferente.
(Décio Costa, de Pomerode, SC)

Fonte: Boletim Autodata