Crédito, o maior entrave

Cinco meses depois do impacto inicial da crise financeira, o mercado de crédito permanece travado no Brasil, dificultando a vida dos consumidores, pondo em risco a sobrevivência de empresas, condenando milhares ao desemprego e ameaçando prolongar e tornar mais penosa a retração econômica. Na segunda reunião do Comitê de Acompanhamento da Crise, realizada quarta-feira no Ministério da Fazenda, em Brasília, empresários queixaram-se principalmente da escassez de financiamentos, dos juros altos e do peso dos impostos. Foram praticamente as mesmas queixas apresentadas no mês anterior. Nesse intervalo, foram divulgadas informações da produção industrial, do consumo e do emprego relativos a dezembro e os números de janeiro do comércio exterior. Todos os dados confirmaram um agravamento da situação mais veloz do que se estimava ainda no trimestre final de 2008.

As medidas tomadas pelo governo para destravar o crédito simplesmente não funcionaram, ou produziram pouquíssimo resultado até agora, segundo a maioria dos empresários participantes da reunião. Um bom exemplo de como as ações oficiais têm sido ineficazes foi oferecido pelo presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil, Paulo Safady Simão. Em outubro, o governo anunciou a liberação de uma linha de R$ 3 bilhões para o financiamento de capital de giro do setor. Até esta semana, só R$ 50 milhões tinham saído, segundo o empresário, porque a exigência de garantias adicionais pela Caixa tem dificultado a realização dos empréstimos.

Sem a melhora das condições de crédito, as empresas privadas terão dificuldade para investir tanto em projetos próprios quanto em obras de infraestrutura previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), segundo advertiu o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e das Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy. O crédito, afirmou, será a chave para o sucesso dos leilões de projetos em regime de concessão incluídos no programa governamental.

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, prometeu garantir o financiamento necessário à realização das obras. “Vamos sistematicamente”, afirmou, “buscar o aumento dos investimentos e garantir o crédito de longo prazo para financiar os projetos.” Promessas desse tipo não são novas. Vêm sendo formuladas pelo presidente da República e por sua equipe há meses, desde os primeiros sinais de dificuldades para a economia brasileira. Medidas foram tomadas para aumentar o dinheiro disponível nos bancos. Linhas de financiamento em dólares foram abertas pelo Banco Central. Os efeitos continuam bem longe dos esperados, porque a aplicação do dinheiro ficou na dependência dos critérios dos bancos.

Esses critérios, desde o agravamento do quadro internacional, ficaram muito mais estritos. O mercado externo se fechou até para as grandes empresas, depois da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro. No mercado internacional, passou-se, de um dia para outro, da completa permissividade para a mais severa aversão ao risco. As empresas brasileiras voltaram-se para o mercado nacional. Mas os banqueiros, no Brasil, embora em situação muito melhor que a dos colegas estrangeiros, haviam resolvido cobrar muito caro pelos empréstimos e ser muito mais seletivos na concessão de crédito.

Embora tenham recebido uma forte injeção de liquidez, no trimestre final do ano passado, os bancos permaneceram quase inacessíveis às firmas com necessidade de empréstimos. Para voltar a emprestar, o setor bancário tenta obter do governo a criação de um fundo de garantia de crédito, financiado pelo Tesouro Nacional e pelos bancos. As perdas seriam divididas entre o banco fornecedor do empréstimo e o fundo. Numa das hipóteses, este ficaria com até 80% do prejuízo.

O assunto está em discussão com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Segundo o presidente do banco estatal, Luciano Coutinho, a conversa prossegue, é complexa e não há decisão à vista. Enquanto o assunto se estica, o crédito continua escasso e absurdamente caro, por causa do enorme s
Fonte: O Estado de São Paulo