

Mais que um meio de transporte, o carro é o maior símbolo de status na sociedade chinesa.
Sonaira San Pedro, de Xangai – DCarro – 26/4/2009 – 20h21
No meio da multidão de chineses que se acotovelavam entre os lançamentos espalhados pelos galpões do Salão do Automóvel de Xangai, a comerciante Cindy Chan procurava um carro novo, “daqueles que fazem presença”, e que oferecesse o melhor custo-benefício. Ela já tinha passado pelos estandes da Chery e da Great Wall e também já vira os modelos da Volks e Subaru, mas ainda não sabia se deveria escolher entre uma marca estrangeira ou nacional.
“A qualidade dos automóveis das montadoras estrangeiras tende a ser melhor, mas os custos dos carros chineses é muito mais baixo, tanto para a compra como para manutenção”, disse Cindy, sentada no banco da frente de um modelo Mercedes-Benz. “Quero escolher um modelo zero-quilômetro para sair dirigindo por aí.”
A euforia de Cindy também deverá estar estampada nos rostos do meio milhão de chineses que vão passar pelos estandes do terceiro maior salão de automóveis até amanhã, 28, para ver 13 lançamentos de veículos e os melhores produtos de 1,5 mil expositores do mundo todo. A crise ficou fora desse frenesi: poucos dias antes de o salão abrir as portas, marcas como BMW, Toyota e Nissan anunciaram que só levariam a crème de la crème para a exposição, além de reservarem espaços bem maiores que o previsto anteriormente em um galpão já lotado.
Mais que um meio de transporte, o carro é o maior símbolo de status na sociedade chinesa. Há sete anos, menos de 1% da população de 1,3 bilhão de pessoas dirigia automóveis, segundo dados oficiais. A entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, levou o mercado interno chinês a mudancas radicais, entre elas a de cortes de impostos que chegavam a 80% do valor do carro.
Hoje, todas as grandes montadoras de veículos do mundo estão na China. É o mercado chinês que pode ajudar a salvar algumas multinacionais da crise, como a GM, que bateu recorde de vendas no país em março enquanto corre o risco de falência nos Estados Unidos.
“As fabricantes locais também têm aumentado a produção e representam 25% dos carros vendidos no país, mas as vantagens financeiras as ajudarão a dominar 75% do mercado interno em 10 anos”, afirmou o diretor da consultoria J.D. Power Asia Pacific, Michael Dunne.“É muito importante considerarmos que, há uma década, não existiam marcas chinesas como Chery ou Geely, que hoje são competitivas no mercado internacional. A crise financeira e as dificuldades das montadoras européias e americanas devem deixar caminho mais livre para as companhias chinesas.”
Tecnologia Chinesa – Em meio a histórias de clonagem de veículos que apareceram também no Salão do Automóvel de Xangai, e produtos de qualidade duvidosa, as montadoras chinesas começam a desenvolver centros de pesquisa e desenvolvimento dentro e fora do país, além de já terem lançado modelos em parceria com multinacionais.
A Shanghai Automobile Industry Corporation (SAIC), por exemplo, mantém centros de pesquisa na China e no Reino Unido. No Salão de Xangai, a empresa apresentou o carro elétrico BYD, tendência no mercado nacional e aposta das montadoras para um futuro próximo. No país, já há 76 modelos de automóveis híbridos produzidos por 27 companhias diferentes, de acordo com dados da Associação de Produtores de Automóveis da China (Caam). Mas o consumidor chinês ainda não está acostumado a este tipo de tecnologia: as vendas do Toyota Prius e o híbrido do Honda Civic não têm acompanhado o crescimento do mercado.
Elas querem o Brasil – O investimento em tecnologia abre as portas para o mercado externo. A Brilliance adota, nos contratos de joint-ventures, cláusulas onde constem desenvolvimento de projetos com a empresa multinacional a quem se associa (montadora estrangeira só produz no país a partir de parceira com empresa chinesa). “Estamos de olho no mercado brasileiro e chegaremos lá em breve”, afirmou o representante da Brilliance, Charles
Fonte: Diário do Comércio