Fiat Chrysler acusa GM de ‘campanha difamatória’

A montadora americana disse que a FCA mantinha um espião no seu conselho de administração

Por Peter Campbell — Financial Times, de Londres

11/08/2020

A Fiat Chrysler (FCA) classificou ontem de “abomináveis” as alegações de que plantou um espião no conselho de administração da General Motors (GM) e acusou sua concorrente de promover uma “campanha difamatória”, na mais nova reviravolta numa amarga disputa legal que vem sendo travada entre as duas montadoras.

Em novembro a GM acusou a FCA de lhe prejudicar ao pagar propinas a sindicalistas que corromperam negociações salariais e como resultado ela teve de pagar salários maiores aos funcionários. O juiz Paul Borman rejeitou a acusação da GM em julho.

Na semana passada, a GM disse que descobriu novos detalhes sobre a FCA, entre eles que um sindicalista parte do conselho de administração da montadora americana era um “espião pago” da Fiat Chrysler e que a companhia usou uma rede de contas “offshore” para ocultar propinas pagas a sindicatos. Em sua contra-argumentação, ontem, a FCA desmentiu enfaticamente as alegações.

“A GM precisa saber que a possibilidade de o tribunal mudar de ideia…. é mínima ou nula, de modo que sua moção aparentemente é um veículo para a GM fazer mais acusações difamatórias e infundadas sobre um concorrente que está se saindo melhor no mercado”, disse ela.

As alegações “parecem um roteiro de um filme de espionagem barato, que faria [escritor de livros de espionagem] John le Carré arrepiar”, acrescentou a FCA, dizendo que a GM está “engajada em uma campanha difamatória”.

A FCA disse que manter contas bancárias internacionais é “algo banal e certamente não ilegal”, dada a presença da companhia em 130 países, e que a GM não produziu evidências de que elas estão ligadas a pagamentos feitos a sindicalistas.

“Uma especulação infundada dessas – claramente produto de uma imaginação fértil – é insuficiente para sustentar uma ação”, disse ela. A FCA já havia dito que a ação movida pela GM em novembro teve como intenção atrapalhar sua fusão com a PSA, a montadora francesa que também controla a Opel, uma ex-operação deficitária da GM na Europa.

A FCA admitiu ter subornado vários sindicalistas, e um ex-diretor da companhia, Alphons Iacobelli está cumprindo pena na prisão. Mas o processo da GM – que busca bilhões de dólares em danos – foi a primeira vez que outra montadora disse ter sido prejudicada diretamente pelo esquema.

Na demanda apresentada na semana passada, a GM disse que Iacobelli tinha controle sobre algumas das contas bancárias internacionais supostamente usadas para fazer pagamentos a sindicalistas.

No fim de semana, Michael Nedelman, advogado de Iacobelli, classificou as alegações da GM de “obscenas”, comparando-as às caças aos comunistas dos anos 50.