Fiat quer voltar à liderança do mercado brasileiro em 2020

Antonio Filosa, novo presidente da FCA, Fiat Chrysler Automobiles para a América Latina (Foto: Divulgação)

Fiat e Jeep, do grupo FCA, juntas na liderança do mercado brasileiro este ano, a Fiat sozinha em 2020. A previsão é de Antonio Filosa, que assumiu a presidência da FCA para a América Latina há poucas semanas. Engenheiro formado pelo Instituto Politécnico de Milão, o executivo de 44 anos vê um “momento favorável” no Brasil, baseado na “retomada da economia, projetos de privatização, redução do desemprego, inflação baixa e a taxa Selic mais baixa da história”. Filosa ainda lembra que, além de tudo, “como napolitano, sou otimista”.

Mais do que apostar apenas no otimismo, Filosa analisa o cenário: “Há crescimento da confiança do brasileiro médio a curto prazo e maior ainda a longo prazo. Esse senso de otimismo e crédito mais fácil dão confiança ao consumidor. A classe C vai se recuperar, vai comprar e nós temos carro de entrada para atender. Haverá migração para classes B e A, nós temos SUV para classe B e picapes para negócios das pequenas empresas”, diz, e também faz contas: “O Brasil é dos que mais exporta grãos e hoje vive safra recorde. A soja subiu de 200 para 400 dólares a tonelada, e a exportação com dólar a R$ 3,6 é favorável. Não é boa notícia de se destacar, mas a Argentina teve a pior safra da história.”

As boas expectativas do executivo também vêm de dentro de casa. Em primeiro de junho, a FCA vai anunciar na sede do grupo em Turim, Itália, o plano de investimentos para os próximos cinco anos. “Na segunda metade de junho estará mais claro onde vamos competir globalmente com cada marca, em mercados aonde não chegamos. Mas nossa área Latam Brasil receberá grande destaque em investimentos”, prevê Filosa.

Segundo o executivo, o anúncio de investimentos independe da entrada em vigor do Rota 2030. O plano industrial para o setor de produção de automóveis que substitui o já encerrado Inovar-Auto vem sendo adiado nos últimos meses por conta de desacordos entre os ministérios da Fazenda e o da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. “Esse plano é o melhor para o desenvolvimento industrial, garante confiança para o comprometimento de recursos dos investidores”, diz Filosa.

Como seus concorrentes, o novo presidente da FCA na América Latina aposta no anúncio muito breve do Rota 2030. Mas e se o plano para a indústria automobilística do Brasil não entrar em vigor antes do anúncio de investimentos da FCA? “Vamos manter o mercado sob observação e investir o necessário até o point of no return, quando a aplicação do dinheiro é irreversível”, diz o executivo.

Filosa afirma que o plano a ser anunciado em Turim pode resultar na presença de mais uma ou duas marcas da FCA no Brasil, além das atuais Fiat e Jeep. Lembrando que hoje a Fiat lidera o mercado de picapes com a compacta Strada e a média Toro nas duas primeiras posições, reconhece que a RAM tem potencial para atender o consumidor que procura um utilitário de porte maior. “O crescimento do mercado de picapes é tão grande quanto o de SUVs”, afirma o executivo, que prefere não comentar sobre produtos:.

“Começamos uma renovação no Brasil que ainda não acabou. São feitos estudos regionais, estudamos muitas coisas, como ter mais uma marca no Brasil, inicialmente não para produção, precisaria ter escala. A Alfa Romeo está lançando o Giulia na Argentina, e há estudo para outros países, mas para o Brasil vamos pensar mais no futuro”, diz Filosa.

Para o presente, o executivo afirma que seu plano é de “regionalizar a gestão, o que ajuda a buscar rentabilidade, com melhor conhecimento do que ocorre em cada mercado”. Ele acaba de inaugurar um escritório no Chile, país que compra 400 mil veículos por ano. Pai de primeira viagem há apenas oito dias, Filosa também está fazendo o tradicional tour de um novo executivo, visitando concessionárias de Minas, Recife, São Paulo e Rio. E também fala em aumentar a proximidade com todos os parceiros da FCA. Para isso, o torcedor do Napoli aposta na equipe: “É o mais importante, as pessoas, temos o melhor time dentro da FCA. São no grupo os que mais contribuem em processos de melhoria.”

O presidente da FCA Latam admite que a crise cambial que afeta a Argentina pode impactar os negócios do setor no Brasil: “Esperava-se chegar a um milhão de veículos vendidos este ano lá, mas deve ficar na casa dos 900 mil. E tanta volatilidade afeta as previsões do investidor.” O que não muda, para Filosa, é sua ambição de subir da sétima para a quarta posição ao final deste ano no país vizinho.

O executivo estima que em cinco anos a América do Sul estará consumindo 5,5 milhões de unidades: 3 milhões no Brasil, 1 milhão na Argentina e 1,5 milhão nos demais países, como Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Paraguai. Para este ano, sua aposta é de que os brasileiros comprem 2,4 milhões de unidades, apesar de “dois momentos, a Copa do Mundo e as eleições, que vão tirar um pouco do interesse do consumidor”. A estimativa, na opinião de Filosa, independe do próximo presidente: “Quem vencer a eleição terá de manter a retomada econômica”, afirma. Mas não se arrisca a cravar quando o Brasil voltará a comprar 3,8 milhões de veículos, como em 2012: “Vamos voltar aos 3 milhões em 2022, depois disso é difícil prever. Mas, como napolitano, sou otimista”, repete.