Engate de reboque: o que pode e o que não pode

Engate pode trazer danos maiores em caso de batida (Foto: Divulgação)

 

Desenvolvido com a finalidade de acoplar ou tracionar um objeto, carreta ou até trailers, o engate é aquele equipamento que fica visível como uma bolinha na parte traseira do veículo. Mas a peça, que pode ser um item de série em alguns modelos, um opcional de fábrica, ou instalada no pós-venda, não é utilizada apenas para o que foi projetada, ou seja, para reboque. Muitas pessoas investem no engate para uma função bem diferente: a proteção do para-choque do veículo em pequenas colisões.

A lógica é que, no caso de uma batida na traseira do carro, a parte que absorveria o impacto seria justamente o engate, enquanto o restante do exterior do veículo – e em especial a pintura do para-choque – continuaria intacto.

Mas será que, na prática, o engate é tão vantajoso assim para a defesa da traseira do veículo? A resposta é que nem sempre. Ainda que possa funcionar como proteção em uma batida leve, em colisões médias esse uso do engate se torna, na verdade, uma desvantagem. É isso que explica Rubens Venosa, engenheiro mecânico e proprietário da Oficina Motor-Max. “O engate é fixado no assoalho ou longarina do carro, e são para essas partes do veículo que o impacto em uma batida um pouco mais forte é transmitido. Assim, na colisão o carro pode sofrer estragos grandes”, diz. Sem o engate, ele detalha, o ponto impacto em uma colisão é na alma do para-choque, parte do carro que é projetada levando em consideração a necessidade de resistir a possíveis batidas.

A diferença também é sentida no bolso do proprietário do veículo. Embora custe pouco substituir o engate caso a colisão seja leve e a peça seja o único componente atingido, Rubens lembra que consertar danos ao assoalho ou à longarina do carro custa bem mais caro do que reparar a alma do para-choque ou apenas sua pintura.

Não é por acaso que alguns carros têm opção de engates retráteis, que ficam embutidos no para-choque quando não estão em uso. O acionamento é com o uso de uma chave de boca ou até por um botão, caso de alguns modelos mais caros. É uma forma de diminuir o risco de danos à estrutura do veículo em caso de batida.

Alguns carros tem engates retráteis para não oferecer riscos quando o item não estiver em uso (Foto: Divulgação)

 

Dentro da lei

Fabricar e instalar engates  é permitido, mas a prática deve seguir as diretrizes da Resolução 197 do Contran, Conselho Nacional de Trânsito. Segundo a resolução apenas veículos cujo peso máximo seja de 3.500 kg podem ter o engate. Para além disso, a lei determina que os fabricantes ou importadores de veículos têm de informar ao Denatram quais modelos têm a capacidade de tracionar objetos, e essa informação também precisa constar no manual do proprietário. As montadoras também devem incluir neste manual quais são os pontos de fixação do engate e a capacidade máxima de tração do veículo, que varia de um modelo para o outro.

A lei dita também que todos os engates devem ser certificados pelo Inmetro, uma vez que o órgão exige que os fabricantes realizam uma série de testes para garantir a qualidade e segurança da peça.

E não é só isso. Os engates devem ser sempre maciços e redondos – modelos personalizados como os em formato de peças de xadrez, por exemplo, são proibidos por lei – e precisam ter uma plaqueta com algumas informações importantes: nome e CNPJ do fabricante, selo de identificação do Inmetro, modelo e capacidade máxima de tração do veículo e referência à Resolução 197 do Contran. É importante lembrar também que cada veículo é compatível com engates específicos: não há um modelo padrão do equipamento para todos os carros.

Modelo de plaqueta que deve constar em engates (Foto: Reprodução/Horizon Global)

 

O engate não certificado pelo Inmetro, como explica Tatiana Oliveira, coordenadora de retail (varejo) da fornecedora de peças Horizon Global, pode causar não apenas danos ao carro e ao objeto rebocado – e, consequentemente, prejuízos ao proprietário – mas também riscos a terceiros, uma vez que outros veículos, pedestres ou ciclistas podem se enroscar na peça.

O perigo da multa

Por causa da existência de uma resolução que regula a fabricação e uso do engate, qualquer irregularidade pode resultar em multa, tanto para o proprietário quanto para o fabricante que não tenha a chancela do Inmetro no produto vendido. De acordo com a lei, o proprietário de um carro com um engate irregular está cometendo uma infração grave e, portanto, recebe uma multa e leva cinco pontos na CNH. Além disso, o carro fica retido para regularização.

Já o fabricante ou distribuidor de engates que não estejam de acordo com a resolução do Contran estão sujeito a multa, apreensão das peças irregulares e até mesmo interdição dos estabelecimentos, caso não seja a primeira infração do tipo.

Como saber se o engate do meu carro é legal?

Para garantir que o consumidor saiba qual engate é adequado para o modelo do carro e quais fabricantes produzem as peças respeitando os parâmetros de qualidade, o Inmetro disponibiliza uma lista detalhada com todas essas informações em seu site. Nela, o proprietário do carro pode também buscar pelo código do fabricante do engate e verificar se o produto adquirido tem registro no instituto.