Gottschalk prevê tempos difíceis

Bernd Gottschalk
O cenário econômico mundial é preocupante para indústria automotiva em todo o mundo, que terá de enfrentar escassez de recursos financeiros, desaceleração das vendas e, ao mesmo tempo, aumentos de custos com o desenvolvimento de tecnologias mais amigáveis ao meio ambiente. Por isso a produção mundial de veículos deve crescer pouco até o fim da década, com quedas nos países desenvolvidos e avanço em ritmo sensivelmente menor nos mercados emergentes.

Este é o quadro pintado por Bernd Gottschalk – ex-presidente da VDA, a associação alemã dos fabricantes de veículos, e da Oica, a organização internacional dos produtores. Hoje conselheiro do banco Rothschild e chairman do grupo Macquarie Capital, desde o fim do ano passado Gottschalk se dedica também à Auto Value, sua empresa de consultoria especializada em negócios automotivos. Acostumado com o sobe-e-desce do setor, o consultor franze a testa quando fala sobre as perspectivas para 2009: “Não sou pessimista, mas temo que tempos bastante difíceis estão chegando”.

Para Gottschalk dados positivos virão apenas de países em desenvolvimento, com destaque para os mercados do BRIC – sigla para Brasil, Rússia, Índia e China. O conjunto de nações emergentes deverá produzir 4 milhões de unidades a mais em 2009 em comparação com este ano. Contudo, Estados Unidos, os doze países fundadores da União Européia e Japão terão quedas importantes, deixando de produzir algo como 2 milhões de veículos no próximo ano.

O maior destaque negativo, conforme amplamente esperado, fica com os Estados Unidos, que atingirão, quando muito, 13,7 milhões de unidades produzidas. É o maior de todos os tombos, lembrando que nos últimos anos o país sempre produziu mais de 17 milhões de veículos.

“Mas aqui estamos falando só de queda nas vendas em unidades, o que em parte será compensado pelos países emergentes. Mas a situação fica mais complicada quando lembramos quais serão os modelos mais vendidos. A demanda será por produtos baratos, de baixa rentabilidade para a indústria. Portanto, além de vender menos, as montadoras também ganharão menos em cada unidade vendida.”

Na visão de Gottschalk os tempos serão menos bicudos para fabricantes de veículos compactos, que devem ganhar mais clientes nos dois próximos anos. “Mas para os fabricantes dos automóveis topo de linha a lucratividade será mais difícil, porque boa parte dos consumidores optará por não gastar com carros de luxo enquanto a economia não se estabilizar.”

Mesmo nos países emergentes, onde haverá crescimento, o avanço das vendas deve cair pela metade do que tem sido, segundo Gottschalk: “No Brasil, por exemplo, as vendas deixarão de crescer 20% ou 25% ao ano para algo em torno de 10%. Mesmo na China a expansão anual declinará de 18,5% para no máximo 9%. O único país a manter ainda fortes taxas de crescimento será a Rússia, que em 2009 deve passar a Alemanha e tornar-se o maior mercado europeu”.

No caso dos caminhões e ônibus Gottschalk projeta quedas ainda maiores, pois as vendas de veículos comerciais está totalmente ligada à performance da economia. Mas ele avalia que o mercado brasileiro continuará a crescer fortemente: “Não no ritmo atual, de quase 30%, mas ainda serão números muito interessantes”.

Com todos esses fatores negativos para a economia mundial, o experimentado consultor avisa que, embora sempre tenha sido otimista, “agora estou bem mais conservador”. Mas ao mesmo tempo ele solta prognóstico mais animador: “A partir do fim de 2009 ou princípio de 2010 as nuvens devem se dissipar e o mercado mundial volta a crescer com maior força”.
(Fred Carvalho e Pedro Kutney, de Frankfurt)

Fonte: Boletim Autodata