A excessiva cautela com que as marcas japonesas movimentam-se no mercado brasileiro começa a mudar. A boa referência é a Nissan, última das Quatro Grandes nipônicas a se instalar aqui, e a terceira a produzir automóveis de passageiros, depois de Honda e Toyota. O Livina estréia com a proposta de concorrer numa faixa de mercado menos congestionada, a de monovolumes compactos, em que se situam Fit, Idea e Meriva (mesma ordem, em vendas). O novo produto vai abrir o leque dentro do segmento quando lançar, em meados do ano, a exclusiva versão de sete lugares.
O fabricante que divide instalações com a Renault, em São José dos Pinhais (PR), superou alguns paradigmas. Um dos motores oferecidos é o de 1.600 cm³, 16-válvulas, 104/108 cv, da marca francesa. Até agora, a Nissan só utilizava propulsores franceses a diesel. Também pela primeira vez oferece um flex de 1.800 cm³, 16-válvulas, 125/126 cv, produzido no Japão com colaboração dos engenheiros brasileiros.
A empresa foi criativa ao instalar o reservatório de partida a frio junto à base do para-brisa, o que dispensa abrir o capô. Mas os dois motores apresentam consumo de etanol elevado em comparação à gasolina, pois mantiveram a taxa de compressão inalterada. Em ambos o etanol precisa custar 40% a menos (padrão é 30%) para alcançar custo/quilômetro inferior ao da gasolina.
Embora a empresa negue, o Livina deriva da arquitetura da dupla Logan-Sandero, inclusive o saudável conceito de distância entre eixos e habitáculo amplos. As portas oferecem o melhor acesso e o volume do porta-malas (449 litros) também é referência no segmento. Acabamento, comandos, ergonomia e materiais destacam-se, juntamente com 11 porta-objetos (interessante o porta-copo duplo da parte de trás do console central). Faltam ajuste de distância do volante (regula apenas altura) e a faixa verde do para-brisa.
Pelo que oferece, o preço é bastante competitivo: de R$ 47 mil a R$ 57 mil. O carro apresenta dirigibilidade acima da média, em especial pelo acerto das suspensões, conforto da assistência elétrica do volante e diâmetro de giro muito bom (10,6 m) para o comprimento (4,18 m), o que facilita manobras. O motor de 1,6 l desenvolve potência menor em relação às aplicações Renault e sofre um pouco para carregar os 1.180 kg de peso em ordem de marcha (versão SL). Já o de 1,8 l vai melhor, embora esteja em nível abaixo dos seus equivalentes da Honda (até 140 cv) e Toyota (até 136 cv).
A Nissan, no momento, detém menos de 1% do mercado de veículos leves e pretende vender 12.000 Livinas em 12 meses (ano cheio). No entanto, mira a meta ambiciosa de 5% até 2013 e para isso oferecerá um modelo compacto produzido no Brasil, provavelmente o Micra. Sua trajetória de lançamentos terá sido, então, mais rápida que a Toyota.
A atual líder mundial de vendas confirma para maio o início das obras da nova fábrica de Sorocaba (SP), onde produzirá seu primeiro compacto de preço acessível em 2011. O modelo, inédito no portfólio da marca, chegará com grande atraso, porém deve estabelecer um grau de competição ainda maior. Os compradores, naturalmente, só têm a ganhar. Japoneses arrojados é o que se espera há tempos.
Fonte: Automotive Business