Montadoras: bem aqui, mal lá fora

Marcos D´Paula/AE
Mário Tonocchi

As exportações de veículos das indústrias instaladas no Brasil, em unidades, registram queda desde 2005, segundo números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Há três anos, as vendas externas chegaram a 897 mil unidades, recorde da história do setor. O volume alcançou 789 mil no ano passado e, nos seis primeiros meses deste ano, marcou 367 mil, com projeção para 780 mil em 2008. O setor perdeu mercado nos últimos anos pela falta de competitividade com as indústrias de países tradicionalmente compradores do Brasil, como Argentina e México. A exportação em valores, entretanto, continua em alta. Passou de US$ 9,3 bilhões em 2005 para US$ 13,4 bilhões em 2007 e US$ 6,8 bilhões no primeiro semestre deste ano, cifra considerada significativa.
“A queda na exportação em unidades entre 2006 e 2007 representou a supressão de uma fábrica de grande porte em território brasileiro. E, muito importante também, temos ainda a queda na participação relativa nos mercados internacionais para os quais fornecemos. Comparando-se janeiro a abril de 2007 com o mesmo período de 2008, a participação da indústria automotiva brasileira nos mercados dos nossos principais compradores caiu 4,8%, enquanto a indústria dos próprios países compradores cresceu 4,1%”, observou o presidente da Anfavea, Jackson Schneider. Os principais mercados dos veículos brasileiros estão na Argentina, México, Chile e África do Sul.

O aumento no faturamento com as exportações, de acordo com Schneider, justifica-se com a venda de veículos de maior valor agregado, fundamentalmente máquinas agrícolas e ônibus. Além disso, nos últimos meses, estão sendo aplicados reajustes nos preços em dólares para compensar a desvalorização cambial brasileira. Esses reajustes, no entanto, de acordo com Schneider, já estão próximos dos limites de viabilidade econômica dos produtos montados no Brasil.

Para melhorar a competitividade da indústria automobilística brasileira, de acordo com Schneider, é preciso resolver alguns gargalos como o burocrático, o tributário e o de logística. “Ainda exportamos tributos”, diz o presidente da associação. As soluções desses “custos Brasil” podem ajudar a reabilitar as exportações brasileiras do setor. A participação dos veículos exportados dentro da produção total nacional caiu de 35,5% em 2005 para estimados 22,7% neste ano.

Se perde terreno fora, a indústria brasileira de veículos ganha muito no mercado interno, que, com o excesso de oferta de crédito, apresentou crescimento entre 25% e 30% nos últimos três anos. Esse vigor, no entanto, já apresenta sinais de desaceleração. A inadimplência passou de 3,3% para 3,7%, entre 2006 e 2007.

Em maio deste ano, a taxa de juros cobrada pelas financeiras das montadoras estava em 21,27% ao ano, ou 1,62% ao mês. No mesmo período de 2007, os juros estavam em 20,7% ao ano (1,58% ao mês). A alta, de acordo com Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras, é o reflexo da crise do mercado internacional. Inadimplência e alta nos juros, para Schneider, podem reduzir a marcha das vendas do setor automotivo passando a um crescimento “mais cadenciado”.

Fonte: Diário do Comércio