Montadoras remetem US$ 1,9 bilhão às matrizes

As matrizes das montadoras instaladas no Brasil não têm do que reclamar, nunca receberam tanto dinheiro das subsidiárias brasileiras. Apesar de todos os problemas de perda de competitividade da indústria nacional no cenário internacional, nos primeiros quatro meses deste ano os fabricantes de veículos no País remeteram ao Exterior US$ 1,9 bilhão em lucros e dividendos sobre investimentos estrangeiros que receberam, segundo dados do Banco Central divulgados na segunda-feira, 26. O valor é nada menos que 241% maior que os US$ 556 milhões enviados no período janeiro-abril de 2007.

A quantia remetida pelas montadoras de janeiro a abril representa quase 21% dos US$ 9,1 bilhões em lucros e dividendos que empresas mandaram do Brasil para fora nos primeiros quatro meses de 2008. Com isso, no período a indústria automobilística foi a segunda maior pagadora de lucros e dividendos às matrizes dentre todos os setores da economia – perdeu só para os bancos, responsáveis por 25,1% das remessas.

O movimento é explicado por dois fatores principais. O primeiro é o bom desempenho das montadoras instaladas no País, que nunca produziram e venderam tanto, proporcionando aqui resultados financeiros melhores até do que os das matrizes – que por sua vez também nunca precisaram tanto dos lucros obtidos em países em desenvolvimento para cobrir prejuízos em território próprio.

O segundo fator que impulsiona as remessas de dinheiro ao Exterior é também fonte de reclamações do setor: a taxa de câmbio apreciada, que se por um lado prejudica as exportações, por outro torna mais baratos os pagamentos externos, pois são necessários cada vez menos reais para comprar uma mesma quantidade de dólares. Dessa forma as empresas aproveitam o momento favorável para adquirir moeda estrangeira e pagar investimentos e empréstimos às matrizes.

Outro sintoma do vigor financeiro das montadoras instaladas no Brasil é o maior movimento de quitação de empréstimos intercompanhias, concedidos pelas matrizes às subsidiárias brasileiras. De janeiro a abril deste ano fabricantes de veículos pagaram US$ 567 milhões para amortizar as dívidas, o que representa avanço de 990% em comparação aos US$ 52 milhões pagos no mesmo período do ano passado.

Investimentos – Embora em menor proporção, as matrizes das montadoras também estão aplicando capital no Brasil. Os ingressos de investimentos estrangeiros diretos por parte de fabricantes de veículos somaram US$ 607 milhões de janeiro a abril, crescimento de 83,4% sobre os US$ 331 milhões observados em idêntico período de 2007.

Apesar do expressivo avanço com relação a 2007, dos grandes aportes para expansão da capacidade já anunciados – estão projetados US$ 4,9 bilhões este ano –, pequena parte do investimento do setor automobilístico no País virá das matrizes no Exterior. Para se ter idéia de proporções, os US$ 607 milhões recebidos até abril representam somente 5,2% dos US$ 11,7 bilhões investidos por empresas estrangeiras em todos os setores da economia brasileira no período. (Pedro Kutney)

Fonte: Boletim Autodata