
Para montadoras comprarem localmente, fornecedores precisam oferecer mais
ALEXANDRE AKASHI, PARA AB
Aumentar os índices de nacionalização dos veículos produzidos no Brasil é uma meta constantemente perseguida, concordam os executivos de compras das montadoras que participaram do painel A Nova Dinâmica da Cadeia de Suprimentos, durante o VI Fórum da Indústria Automobilística, realizado por Automotive Business na segunda-feira, 6, no Golden Hall do WTC, em São Paulo.
Participaram do debate Edvaldo Picolo, gerente executivo de suprimentos da Volkswagen para a América do Sul, Erodes Berbetz, diretor de compras da Mercedes-Benz do Brasil, João Pimentel, diretor de compras da Ford América do Sul, e Stephan Keese, consultor e diretor da Roland Berger. O painel, coordenado por Pedro Kutney, editor da Automotive Business, apresentou o balanço de vendas de autopeças no Brasil em 2014, divulgados pelo Sindipeças. O faturamento nominal das autopeças no ano passado foi de R$ 76,7 bilhões, resultado 12,4% menor do que o estimado, uma vez que se esperava vendas totais de R$ 90 bilhões em 2014. As vendas para montadoras neste período foram de R$ 51 bilhões, resultado 17% inferior ao esperado.
Para 2015, o Sindipeças estima vendas totais de R$ 67,9 bilhões, um recuo de faturamento na ordem de 11,5% com relação a 2014, com vendas para montadoras de R$ 43,4 bilhões, decréscimo de 14,9%. Porém, as importações de peças também tendem a diminuir. A entidade espera importações de US$ 15,8 bilhões para 2015, volume 9% menor do que em 2014.
Diante deste cenário, com dólar em alta e início efetivo da rastreabilidade de autopeças, os executivos de compras da Volkswagen, Ford e Mercedes-Benz, assim como o consultor da Roland Berger afirmam que existem oportunidades para fornecedores localamente, mas há restrições. “A busca é por parceiros mais estáveis, de longo prazo e que adicionem valor”, disse Keese.
“Queremos localizar”, afirmou Picolo, da Volkswagen. “O conteúdo local exige das empresas esforço em desenvolvimento”, completou, ao informar que este ano a montadora deve comprar R$ 11 bilhões em autopeças, o mesmo volume do ano passado. O executivo acrescentou que o índice de nacionalização dos produtos gira entre 80% a 85% e há oportunidades para avançar, geradas pelo Inovar-Auto e agora, com a alta do dólar.
Na Mercedes-Benz, Berbetz confirma que 75% a 80% do que a empresa compra é feita no Brasil. “Antes da rastreabilidade já fazíamos um controle do que é comprado localmente e nestes seis primeiros meses de testes confirmamos que nosso controle era eficiente”, disse, ao revelar que o volume de compras para este ano será inferior ao de 2014, por conta da retração do mercado.
Segundo Berbetz, a empresa está sempre de portas abertas para fornecedores locais, e estuda com frequência a viabilidade de itens que no passado não eram oportunos e lembra. “É importante que o fornecedor venha com competitividade”, disse.
João Pimentel, da Ford, comentou que este ano também irá comprar menos. “Trabalhamos com uma realidade de 2,9 milhões de vendas totais, e com isso as compras devem cair entre 5% a 10%”, revelou. Apesar disso, tem expectativa de ganhar market share com o novo Ka e as picapes da Série F. Sobre a rastreabilidade, comentou que alguns fornecedores ainda têm dificuldades em saber o que deve ser destacado na nota fiscal e cobrou ações do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Com 20 anos de experiência na área de compras, Pimentel revela que tem utilizado como estratégia a comunização de componentes para gerar escala e conseguir comprar localmente. “Quero ter o máximo possível de peças do lado da minha fábrica, mas precisa ser competitivo”, disse.
Fonte: Automotive Business