Para presidente da Volks, Fiat terá dificuldade para virar gigante

Sergio Marchione e Martin Winterkorn
Da Redação

O presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, resolveu apontar as pedras no caminho da rival Fiat, que tenta se transformar num grupo automotivo de alcance global unindo-se à Chrysler e incorporando a operação alemã da General Motors, a Opel. Para o executivo da Volks, não vai ser nada fácil para a italiana tornar-se um novo gigante do setor.

“Acho que o Sergio Marchionne [presidente da Fiat] quer aumentar o volume de produção para baixar custos e sobreviver usando as alianças com Chrysler e possivelmente a Opel, mas fico pensando se ele será capaz de conseguir tudo isso, porque gerenciar de modo bem-sucedido várias marcas e obter sinergias autênticas é muito difícil”, disse Winterkorn, citado pelo boletim Automotive News Europe.

O chefão da Fiat, Sergio Marchionne, durante visita à Alemanha para negociar a Opel; e o da Volks, Martin Winterkorn, que agora tenta jogar água no vinho do rival

A incrível alfinetada do executivo alemão na sua contraparte italiana foi desferida num momento em que Marchionne tenta unir Fiat, Alfa Romeo e Lancia, que formam seu grupo, à Chrysler (que possui as marcas Dodge e Jeep) e à Opel — e, segundo fontes ouvidas pelo ANE, está de olho também nas operações da GM na América Latina (leia-se, Brasil). Essas ações são tentativas de ganhar escala, algo que, na visão do executivo da Fiat, é necessário para sobreviver no negócio automotivo, dado o atual e futuro cenários econômicos.

Essa configuração (excluindo a América Latina) formaria uma nova companhia que venderia entre 6 milhões e 7 milhões de carros por ano globalmente — perderia do grupo japonês Toyota, atual líder do mercado, e ficaria no mesmo nível da Volkswagen.

QUEM AVISA…
Winterkorn dá seu “conselho” a Marchionne baseado na experiência da Volks, que possui em seu portfólio de automóveis as marcas Audi (Alemanha), Bentley (Reino Unido), Bugatti (França), Lamborghini (Itália), Seat (Espanha), Skoda (República Checa) e a própria Volks (Alemanha), além da Scania (Suécia), que faz caminhões.

Segundo ele, leva tempo para que funcionem iniciativas e parcerias que permitam ganho de escala e economia de dinheiro. “Ferdinand Piech [ex-chefão da Volkswagen) começou a usar a estratégia de plataformas na Volks em 1992”, lembrou Winterkorn.

Ele se refere ao aproveitamento de uma mesma plataforma por dois um mais modelos do grupo. Por exemplo, o VW Golf usa a mesma plataforma do Audi A3, do Seat Leon e do Skoda Octavia. Até mesmo a Porsche, marca que tem uma relação peculiar com a Volks, mas que não faz parte do grupo, divide plataforma com a gigante: o Cayenne usa a mesma base do VW Touareg e do Audi Q7.

QUEM VAI SOBRAR
O executivo alemão também fez um comentário sobre a afirmação de Marchionne, no final de 2008, de que apenas cinco ou seis fabricantes globais de veículos sobreviveriam à crise nos próximos dois anos. Para Winterkorn, em cinco ou dez anos o mundo terá duas ou três montadoras na Alemanha, uma ou duas na França, duas no Japão, duas nos Estados Unidos, uma na Coreia do Sul e possivelmente uma na Itália. Ele não quis comentar sobre a China.

Arriscando fazer o que Winterkorn não fez, que é dar os nomes às montadoras, sua previsão parece ser a de que, no período citado, os grupos que sobreviverão serão Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz; PSA (Peugeot Citroën) e/ou Renault; Toyota e Honda; GM e Ford; Hyundai; e Fiat. Vale notar o “possivelmente” quando ele fala da Itália…

No Brasil, Fiat e Volkswagen travam uma disputa pela liderança no mercado de automóveis de passeio. Quanto aos rumores de um interesse da italiana pelas operações locais da GM, já houve um acordo entre as partes para produção de motores — eles eram feitos pela filial da norte-americana e usados em alguns modelos da italiana. Por ora, ambas as montadoras não comentam o assunto.
Fonte: UOL Carros