Por que a China não ameaça o Brasil

Uma ameaça atormenta os executivos dos principais fabricantes automotivos: lá pela década de 20 deste milênio os veículos chineses disputarão clientes pelo mundo em pé de igualdade com as marcas tradicionais, em mercado global estimado em quase 100 milhões de unidades/ano. Ainda não se sabe qual a fatia exatamente a China abocanhará disso, mas todos apostam que será bastante – e por isso já estão com as barbas de molho. Claro que no Brasil essa preocupação também existe, mas a capacitação específica da engenharia nacional adquirida ao longo de cinqüenta anos de história do setor automotivo no País pode conter o avanço chinês por aqui.

Por certo o mercado brasileiro direcionado a veículos pequenos e baratos parece tão atraente aos produtos made in China quanto qualquer outro país emergente. Mas ao contrário da Índia e da Rússia, outros possíveis alvos daquele que será o maior fabricante mundial de veículos muito em mais alguns anos, o Brasil tem indústria de base sólida e, principalmente, a engenharia capacitada. “A criatividade e a capacidade de oferecer soluções de baixo custo dos engenheiros brasileiros são características que fascinam as matrizes das empresas”, sustenta Luc de Ferran.

A opinião de Ferran é compartilhada pelos mais destacados dirigentes do setor automotivo, que acreditam: não será fácil, mas a indústria nacional tem capacidade para se colocar como importante base mundial de desenvolvimento e produção de veículos.

Além da flexibilidade criativa de seus engenheiros, o Brasil já é um dos líderes na pesquisa, desenvolvimento e produção de soluções em duas áreas consideradas nevrálgicas para indústria na próxima década: combustíveis originados de fontes renováveis e a busca por materiais alternativos, também renováveis, mais resistentes e baratos do que os utilizados atualmente em um veículo.

“Temos um longo histórico relacionado à pesquisa em energia e materiais renováveis. Para valorizar esse conhecimento temos de ir para outros mercados conhecer a linha de pesquisa da engenharia. Em muitos centros os materiais renováveis nem estão na pauta das discussões”, avalia Vilmar Fistarol, presidente da SAE Brasil e diretor de compras da Fiat.

Fistarol destaca que a utilização cada vez maior de fibras naturais nos veículos e o consumo de etanol e biodiesel só são possíveis pelo histórico da indústria brasileira: “Cinqüenta anos de experiência é um diferencial importante. Afora os tradicionais países produtores de veículos como Estados Unidos, Alemanha, França, qual outra nação possui tamanha experiência?”

Gábor Deák, presidente da Delphi, também julga essencial para a manutenção da competitividade da indústria automotiva no País a bagagem adquirida no passado. “A concorrência sempre existirá. Vamos continuar concorrendo com a China, onde a mão-de-obra parece inesgotável. Também concorremos com o México, com a Índia, isso faz parte da nossa indústria. O diferencial é que na China o engenheiro que projeta um veículo está, ao mesmo tempo, aprendendo a dirigir. Se demoramos cinqüenta anos para chegar ao ponto que estamos, não acredito que a China ou qualquer outro país atinja essa excelência tão rápido.”

Preparado para o futuro – Enquanto as marcas tradicionais exibem nos salões o estado da arte da tecnologia automotiva em veículos superequipados e que podem custar o preço de um apartamento, o futuro da indústria caminha na contramão: são modelos de baixo custo, compactos, os mais desejados pela massa de consumidores que ano a ano debutam no mercado automotivo.

“As características do engenheiro brasileiro foram forjadas pela necessidade de aumentar a produtividade gastando cada vez menos por unidade. Nossos engenheiros são capazes de reduzir centavos no custo de um novo veículo. Isso é cultura adquirida durante os anos difíceis de nossa indústria”, pondera Luc de Ferran.

Pedro Manuchakian, vice-presidente de engenharia da General Motors para a América Latina, África e Oriente Médio, acrescenta outros atributos aos profissionais de sua área: “A fle
Fonte: Boletim Autodata