Quadro complicado

Visitar salão do automóvel no exterior significava alegria

Texto: Fernando Calmon

(07-10-08) – Foram-se os tempos em que visitar um salão do automóvel no exterior significava alegria e um pouco de tristeza. Alegria pelo fascinante desenvolvimento dos automóveis em termos técnicos, de segurança, menores emissões, estilo. E certo grau de desânimo pela constatação de quase nada que estava ali como premiere poderia ser fabricado no Brasil ou em sociedade com a Argentina. Graças ao vigor do nosso mercado o cenário mudou nos últimos anos e se cristalizou no Salão de Paris, a mostra automobilística internacional que mais atrai visitantes e se encerra em 19 de outubro.

Em horizonte de dois a três anos seis produtos devem ser produzidos, mesmo com alterações. Quem menos escondeu o jogo foi a Citroën. O C3 Picasso chega em 2010 como o mais moderno monovolume compacto e desenho audacioso. Destaca-se pelo pára-brisa com extensões laterais e grande modularidade interna. Confirmando o antecipado nessa coluna, a primeira versão seguirá o conceito aventureiro (sem suspensões elevadas, mas com estepe externo). Renault admitiu estudos para o novo Mégane III, um hatch que impressionou na feira francesa por suas linhas avançadas e sem qualquer vínculo com o discutível esteticamente modelo anterior. Ainda teremos o sedã, a station e, talvez, o novo Scénic – surgirão só nos próximos salões internacionais.

Recém-lançado na Europa, o Golf VI mostra evolução contida em termos estilísticos. A Volkswagen preferiu investir em conteúdo tecnológico e silêncio a bordo para tentar garantir seu impressionante histórico de liderança absoluta na Europa. A versão GTI, de 2 portas, 210 cv, será importada, mas o quatro-portas, fabricado no Paraná, apesar dos desmentidos. O sedã médio-compacto Chevrolet Cruze servirá de base para o sucessor da gama Astra/Vectra no Brasil, mas o desenho original, ainda que atraente, será modificado para a América do Sul.

Com a anunciada fábrica do maior grupo sul-coreano no Brasil, dois produtos estreantes em Paris surgem como prováveis escolhidos. O compacto de quase 4 metros de comprimento, Hyundai i20, tem a tudo a ver com o nosso mercado: estilo moderno e bom espaço interno. Deve sofrer modificações para contenção de custos. Já o Kia Soul é um monovolume compacto, quase um crossover por seus traços inspirados em utilitários esporte, que deve partilhar a linha de montagem de Piracicaba (SP).

O Salão de Paris foi contagiado pelo clima de incertezas da crise financeira, mas não deixou de trazer várias atrações. Desde o subcompacto Ford Ka, que divide arquitetura e fábrica com Fiat 500, até o surpreendente Lamborghini Estoque, primeiro cupê de quatro portas da marca italiana do conglomerado VW. Trata-se de um protótipo que colide com o futuro Panamera da Porsche, controladora do grupo: sairá mesmo?

O carma dos europeus com o gás carbônico (CO2) e o efeito estufa também deram o tom. Há evidente exagero no tema, impostos graduados por CO2 já na França e uma guerra de números com fabricantes destacando conquistas ambientais, apesar dos automóveis responderem por apenas 10% das emissões no mundo. Um quadro complicado e agravado pelo inevitável aumento de custos. Ponto positivo é que menos CO2 significa também menos consumo de combustível.

Fonte: Webmotors