Queda na venda de carro usado ameaça a de zero-quilômetro

“A ‘boca’ já não está conseguindo absorver os estoques das concessionárias”

WAGNER OLIVEIRA
SÃO PAULO

Os números ainda não estão claros, mas as vendas de carros usados caíram nas duas últimas semanas a ponto de representar séria ameaça no negócios de veículos novos. No mercado, revendas falam em queda que varia de 20% até 50% dos usados em razão do aumento de juros e retenção do rédito por parte das financeiras e bancos.
Nos números preliminares, as vendas de veículos novos (incluindo caminhões e ônibus) caíram 3,5% em outubro em relação ao mesmo mês do ano passado.
Sobre setembro, as vendas tiveram queda de 12%. A projeção na sexta-feira era que o mercado fechasse outubro em 236 mil unidades contra 268 mil em setembro.

“A boca (revendedores do centro de São Paulo) já não está conseguindo absorver os estoques das concessionárias, que estão encalhando nos pátios com a fuga dos consumidores”, afirmou o diretor de uma grande montadora.

O presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Estado de São Paulo (Assovesp), George Chahade, afirmou que as financeiras reduziram o saldo financiado para 50% do valor do veículo e passaram a praticar um prazo médio de 36 meses contra 42 meses. “Aumentaram bastante as taxas de juro e criaram uma seletividade de crédito absurda”, disse.
A conseqüência imediata é que as revendas estão abaixando o preço do carro usado. Na última semana a redução ficou entre 5% e 10% para tentar atrair o cliente.

Com a desvalorização do usado, o salto para o carro novo pode ficar mais distante. Para Chahade, a desilusão do consumidor com a desvalorização de seu patrimônio também o leva a considerar se vale a pena a investir num bem em tempos de crise financeira.

Com taxas para carros usados de até 3% ao mês, os atuais juros praticados nos veículos novos já podem ser considerados subsidiados.
Montadoras como a General Motors e a Volkswagen estão com ofertas para grande parte da linha de 0,99% ao mês.

O presidente da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos (Fenabrave), Sérgio Reze, não soube avaliar a extensão dos estoques nas revendas, mas afirmou que o excedente nos pátios ainda não é preocupante. Ele critica o fato de os bancos estarem retendo o crédito e lembra que a inadimplência no setor é de 3,5% — enquanto no varejo tradicional gira em torno de 7,5%.

Antes mesmo de aparecer a face aguda crise, presidentes de montadoras já falavam que o mercado teria de recorrer a descontos e promoções para manter aquecidas as vendas de carros novos. “Era impossível manter aquele ritmo frenético”, afirmou o presidente da Renault no Brasil, Jêromé Stoll.

Fonte: Gazeta Mercantil