Real valorizado afeta vendas externas de carro brasileiro

Até setembro, a queda nas exportações foi de 7,9%, enquanto as importações quase dobraram no período

Cleide Silva

Carros produzidos no Brasil perderam espaço em quase todos os mercados internacionais, antes importantes clientes. Até os países do Mercosul trocaram parte do produto brasileiro por veículos de outras regiões, especialmente da Ásia. Com preços mais altos por causa do dólar barato, o carro nacional perde competitividade.

Para estancar a queda nas exportações, as montadoras contam com o pacote que o governo deve anunciar este mês com medidas como crédito especial para operações externas e linhas de financiamento para novos projetos. Hoje, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financia 60% das exportações, porcentual que deve crescer.

O banco também abrirá uma linha com juros abaixo dos atuais e prazos mais longos para financiar o aumento da capacidade produtiva das montadoras e fabricantes de autopeças. Com as vendas internas batendo recordes, muitas empresas operam no limite da capacidade. Apesar disso, é unânime no setor a necessidade de se manter no mínimo 20% da produção voltada às exportações.

“Com o mercado interno em crescimento, não se percebe o problema, mas não é saudável ficar com uma perna só”, diz o presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall. Segundo ele, nos próximos cinco anos a montadora deve perder 30% das vendas externas.

Para Cledorvino Belini, presidente da Fiat, “o Brasil precisa de escala produtiva de 5 a 6 milhões de veículos por ano até 2012 para ter competitividade e formar uma barreira natural às importações”. Neste ano, até setembro, as exportações das montadoras caíram 7,9% (para 594 mil veículos), enquanto as importações cresceram 95,8% (para 175 mil unidades). Também há preocupação velada com carros chineses (ler box).

Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, um setor que exporta tem obrigação de manter-se atualizado, precisa ter engenharia forte para adaptar produtos aos mercados mundiais e tem maior facilidade de validar investimentos nas matrizes.

“A conquista de mercado é trabalhosa. Além disso, implica estar presente no país com rede de distribuição e peças de reposição”, afirma Schneider. Por isso, a preocupação da indústria em relação à atual perda de contratos, num momento em que os mercados internacionais de veículos estão em alta.

PARTICIPAÇÃO MENOR

Em 2006, os países do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) venderam internamente 356,7 mil veículos, dos quais 59,8% eram brasileiros. Este ano, até setembro foram vendidas 438 mil unidades, sendo 55% brasileiras. No México, 17,5% dos 823,2 mil veículos vendidos em 2006 eram brasileiros, a participação despencou para 11,5% este ano, com o envio de 92,4 mil unidades, 35,8% a menos do que no período anterior. O mercado total mexicano registra queda de 2,6% nas vendas.

Em casos como Argentina e México, parte das perdas brasileiras se deve ao aumento da produção local. Mas em países como Venezuela, Chile, Colômbia, Peru e África do Sul há substituição por produtos de outras regiões, avalia a Anfavea. Juntos, esses países representam 82% das exportações brasileiras.

No Chile, que este ano comprou do Brasil 12,4% dos 163,6 mil carros vendidos localmente, o Corsa da GM brasileira foi substituído pelo mesmo modelo fabricado na China. No ano passado, 21,3% dos carros vendidos no país eram brasileiros.

Schneider espera que o pacote do governo faça com que “a exportação deixe de cair ou caia menos”. As expectativas são de que saia este mês, pois o pacote está praticamente definido segundo fontes ligadas às negociações.

Além do reforço nas linhas de financiamento, as montadoras esperam uma solução para a devolução do crédito de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) retido pelos governos federal e estaduais e maior empenho do governo na realização de acordos bilaterais com países andinos, africanos e da regi
Fonte: O Estado de São Paulo-Online