Restrição de crédito para usados pode dificultar venda de novos

Ameaça ao crédito virou o tema da 25ª edição do Salão de São Paulo.

Agência O Globo – 31/10/2008 – 10h03

SÃO PAULO – O temor pela falta de crédito no mercado brasileiro virou o tema da 25ª edição do Salão do Automóvel de São Paulo. Com a insegurança gerada pela crise financeira internacional, os bancos têm dificultado a liberação de financiamentos para a compra de veículos usados, o que coloca em risco o negócio de novos. “Como os usados são dados como entrada, fica mais difícil encorpar a venda do carro novo”, afirma o vice-presidente da Honda do Brasil, Kazuo Nozawa.

Para o diretor geral de vendas e marketing da General Motors do Brasil, Marcos Munhoz, a diminuição do ritmo do mercado de veículos usados ainda não atrapalha o segmento de novos, mas poderá trazer problemas futuros se a proporção do pânico sobre o crédito aumentar. “O que posso dizer é que o aperto do crédito no segmento de usados tem prejudicado um pouquinho, mas tem potencial de prejudicar um ‘poucão’”, diz.

De acordo com Munhoz, tanto a GM quanto as outras montadoras estão preocupadas em procurar uma saída para proteger as vendas. “Cada uma desenvolve uma estratégia. Obviamente, não poderei falar qual será a nossa”, observa o executivo.

Para o diretor de Assuntos Corporativos da Ford do Brasil e Mercosul, Rogelio Golfarb, a cautela na venda de usados não é suficiente para mudar o patamar de vendas de carros zero quilômetro no mês de outubro. Na opinião de Golfarb, o que pesa é a preocupação do brasileiro em fazer o investimento. “O consumidor escuta todo dia notícias na mídia sobre as incertezas da crise, isso faz com que ele seja mais cauteloso na hora de comprar um carro”, ressalta.

Ações do governo

A primeira ação das montadoras em relação ao crédito foi aumentar a participação de suas divisões financeiras nas vendas. O Banco GM, por exemplo, já passou de 20% para 25% a participação nos financiamentos. A divisão financeira da Renault deve pular de 15% para 30% a participação.

Mesmo assim, quem vai salvar a indústria é o governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (29), em São Paulo, que os bancos estatais podem socorrer as financeiras ligadas à indústria automobilística que estejam em dificuldades. As medidas foram recebidas de forma muito positiva pelo setor.

“Tanto o Banco do Brasil como a Caixa Econômica Federal, na Medida Provisória que mandamos ao Congresso Nacional, estarão com disposição de comprar tantas quantas carteiras forem necessárias, sobretudo de bancos de investimentos e de empresas financeiras da própria indústria automobilística, que nós queremos irrigar para que não falte crédito”, disse Lula durante a abertura oficial do Salão do Automóvel de São Paulo.

Já o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) determinou ao secretário da Fazenda e ao presidente da Nossa Caixa participação no esforço que o Banco do Brasil vai fazer no sentido de reativar o crédito ao setor.

Fonte: Diário do Comércio