Setor automotivo quer se antecipar à Rodada Doha

Sem mais paciência para esperar pela conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), o setor automotivo brasileiro apresentará, no próximo mês, um mapeamento dos mercados com os quais deseja ver o governo negociando acordos bilaterais. Entre os representantes do setor privado, a sensação é de que o Brasil já não pode mais ficar à mercê do que ocorrerá na OMC para se expandir pelo mundo.

Para se lançar em uma nova estratégia, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) está concluindo um estudo com o que acredita que devam ser as prioridades ofensivas para as exportações do setor. “Vamos identificar onde estão nossos principais interesses e onde acreditamos que podemos ser competitivos”, afirmou Jackson Schneider, presidente da Anfavea e que esteve ontem em Genebra para reuniões na Organização Internacional de Fabricantes de Veículos (OICA, sigla em inglês)

Para ele, a Rodada Doha ainda é vital e precisa ser concluída. Mas o País não pode ficar parado. O projeto inclui eventuais acordos comerciais com mercados na América Latina, nos países Árabes, Ásia e África. “São os mercados em que temos vantagens”, afirmou o representante da Anfavea.

Há mesmo a possibilidade de se negociar um acordo de autopeças com a Europa, já que o setor brasileiro estaria demonstrando uma competitividade suficiente para enfrentar a concorrência dos países ricos. A busca por novos mercados vem em um momento em que o setor automotivo começa a ver suas exportações se estagnarem.

Em 2008, a previsão é de que o valor das vendas seja o mesmo de 2007, aproximadamente de US$ 13 bilhões. Em volume, o Brasil verá uma queda de 5% em suas exportações diante da valorização do real frente ao dólar. A Marcopolo, por exemplo, conta que vendia mil ônibus por ano ao Oriente Médio em 2004 e hoje negocia menos de cem unidades.

O que está fora de questão, porém, é um acordo com o mercado chinês. Hoje, o país já tem 82 marcas de carros, contra uma média de 47 na Europa e nos Estados Unidos. O que assusta a Anfavea é a possibilidade de esses veículos estarem sendo produzidos com um baixo custo de mão-de-obra e beneficiados por um câmbio mantido artificialmente pelo governo.

Na OMC, os governos americano e europeu vêem o setor automotivo brasileiro como um dos obstáculos para um acordo na Rodada Doha. Isso porque o setor desfruta da maior média de tarifas de importação, 35%. Eles querem que ela seja reduzida em pelo menos 60%. ( AE )

Fonte: Diário do Comércio