Venda de carros com motorização acima de 2.0 cai 35% no 1º bimestre


TATIANA RESENDE
da Folha Online

Na contramão dos carros populares, com vendas impulsionadas pela redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) desde dezembro de 2008, os automóveis com mais de 2.000 cilindradas registraram queda (34,8%) nos emplacamentos no primeiro bimestre deste ano.

Considerando apenas fevereiro, a redução chegou a 43,0%. Com isso, a participação desse segmento nos licenciamentos caiu pela metade nesse período, de 1,8% para 0,9% do total –o patamar mais baixo desde novembro de 2005.

Para André Beer, consultor do setor automotivo e ex-presidente da Anfavea (associação das montadoras), o incentivo fiscal, que acaba no dia 31 e vale apenas para veículos com motor até 2.0, aumentou o interesse por esse grupo. Além disso, o lançamento de mais modelos 1.4, 1.6 e 1.8 levaram o consumidor para essa área intermediária de motorização.

Na avaliação de Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (associação das concessionárias), há consumidores que se satisfazem com o desempenho de motores de até dois litros mesmo podendo pagar mais. “Quem está no topo da pirâmide olha o conjunto, não só o preço”, acrescenta.

No acumulado do ano passado no confronto com 2008, as vendas de automóveis acima desse patamar ficaram praticamente estáveis (alta de 1,2%), ante um crescimento expressivo dos carros populares (17,4%) e dos intermediários (8,4%).

Consumo consciente

“O consumidor brasileiro tem apreço por veículos compactos e econômicos. Isso tem a ver com faixa de renda, mas também com a consciência sobre o consumo de combustível. Essa tendência, pela busca e pela oferta de veículos cada vez mais econômicos no consumo e com emissões reduzidas, está presente e vai permanecer”, disse a Anfavea por meio da assessoria de imprensa.

Na avaliação de Luiz Carlos Mello, coordenador do CEA (Centro de Estudos Automotivos), “é o crédito que faz a diferença”, destacando a importância dos financiamentos para os emplacamentos de carros populares, estimulando um público novo a ir às compras e incentivando a reposição. “Quando o mercado cai, as vendas de carros mais caros sobem porque são menos suscetíveis aos problemas econômicos. Quem é rico não deixa de ser rico”, ironiza.

Apesar da estabilidade nos licenciamentos totais, os três modelos de automóveis acima de 2.000 cilindradas mais vendidos no ano passado apresentaram expansão nas vendas: S10 (25,1%), Hilux (42,7%) e Astra (17,0%), de acordo com dados da Fenabrave.

Incentivo fiscal

Março é o último mês com redução de IPI para carros a álcool ou flex. Aqueles de 1.000 cilindradas terão a alíquota mantida em 3% até o dia 31 e depois voltam ao percentual de 7%. Já os de até 2.000 cilindradas passarão de 7,5% para 11%. As unidades com motorização acima disso mantiveram sempre a alíquota de 18% (álcool/flex) e 25% (gasolina).

O incentivo fiscal, que até dezembro passado valia também para os automóveis a gasolina com motores até 2.0, foi uma das principais medidas tomadas pelo governo federal para combater os efeitos da crise econômica mundial e estimular as vendas no setor.

A medida surtiu efeito, e os emplacamentos de veículos (automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões) apresentaram acréscimo de 11,4% no ano passado ante 2008, registrando o terceiro recorde anual consecutivo, com 3,14 milhões de unidades.

Fonte: Folha Online