Volkswagen pode pesar na ação da Porsche

Valor Econômico

A montadora alemã de carros de luxo Porsche Automobil Holding SE teve ontem uma prévia de como as coisas podem mudar se ela seguir adiante com seus planos de adquirir uma participação majoritária na Volkswagen AG, muito maior que ela.

A Porsche afirmou que o aumento de sua fatia da Volks dos atuais 30,6% para mais de 50% até o fim do ano tornará ambas as empresas mais fortes diante da concorrência global cada vez mais acirrada. A Porsche terá acesso à pesquisa e desenvolvimento da muito maior Volkswagen.

Mas alguns analistas começaram a temer que a posição financeira da Porsche de montadora de luxo altamente lucrativa seja diluída por sua maior exposição à Volks. A Porsche foi tradicionalmente capaz de superar as oscilações econômicas porque sua rica clientela tende a se importar menos com o preço do que os compradores de marcas de produção em massa.

A Porsche informou que não pretende se fundir com a Volks e que administrará as empresas independentemente, de modo que os clientes não devem notar nenhuma mudança no status de marca mais sofisticada que ela tem. Mas os mercados financeiros podem tratar a Porsche como uma empresa mais exposta a problemas do mercado de massa, porque a Volkswagen vai se tornar uma subsidiária dela.

Ontem, o Credit Suisse rebaixou sua recomendação para a ação da Porsche de “acima da média do mercado” para “abaixo da média” e diminuiu a cotação-alvo, de 150 euros para 110 euros, para “levar em conta os riscos associados às operações da VW de produção em massa de veículos”.

A Porsche não oferece descontos em seus veículos, o que a ajuda a manter altos lucros. Mas montadoras com produção em massa como a Volks costumam reagir a descontos oferecidos pelas rivais, o que corrói suas margens.

Frank Gaube, porta-voz da Porsche, diz que a empresa não deveria ser vista como uma montadora de produção em massa. “Esse viés subvaloriza a contribuição que a Porsche está fazendo. É exatamente por sermos lucrativos que temos a possibilidade de realizar essa transação”, afirma.

A Porsche vai garantir acesso à tecnologia e à expertise da Volks, que nos últimos anos investiu no desenvolvimento das marcas Lamborghini, Bugatti, Bentley e Audi. Isso inclui câmbio de dupla embreagem, injeção direta de gasolina, tecnologia para motores diesel e métodos de fabricação com materiais mais leves. E essas tecnologias podem ajudar a Porsche a cumprir as novas metas de redução das emissões de gases do efeito estufa e do consumo de combustível.

Alguns analistas também se preocupam por causa do histórico ruim das tentativas anteriores das marcas alemãs de carros de luxo digerirem concorrentes de produção em massa – como as aquisições da britânica Rover Cars pela BMW AG e da americana Chrysler pela Daimler AG. Tanto a BMW quanto a Daimler acabaram vendendo as empresas adquiridas, arcando com prejuízos expressivos.

Uma união entre a Porsche e a Volks pode diferir de acordos anteriores. Diferentemente da BMW e da Daimler, a Porsche está comprando uma montadora sadia, que lhe garantirá acesso a várias tecnologias. E ela poderá se beneficiar da economia de escala da VW na aquisição de matérias-primas como aço. A Porsche produz cerca de 100.000 veículos por ano, ante 6,2 milhões da Volkswagen.

Fonte: Webtranspo