Ascensão e queda das montadoras americanas

Entenda melhor a crise e efeitos da crise mundial sobre a indústria automotiva mundial

Glauco Lucena

A crise financeira global chegou no pior momento possível para as três grandes fabricantes de veículos norte-americanas. GM, Ford e Chrysler vinham há alguns anos tentando reestruturar suas operações, acuadas pelo crescimento das concorrentes estrangeiras (sobretudo as marcas japonesas) e pela alta do petróleo.

Num momento delicado como esse, imagine o efeito de uma retração profunda nas vendas de veículos nos EUA. O alerta vermelho surgiu no começo de novembro, quando as empresas divulgaram seus balanços trimestrais. A Ford perdeu US$ 3 bilhões e queimou US$ 7,7 bilhões de suas escassas reservas. Já a GM teve prejuízo de US$ 4,2 bilhões e suas operações consumiram US$ 7 bilhões do caixa. A ex-maior montadora do mundo enfrenta forte depreciação do valor de suas ações, que chegaram a valer US$ 3 em novembro (nível mais baixo desde 1946).

Desde 2000, o estado de Michigan, onde estão as sedes das três montadoras, registrou o fechamento de 400 mil postos de trabalho Acuados pela crise financeira, boa parte dos consumidores americanos parou de comprar carros, ou pelo menos adiou os planos. Com isso, a situação das três gigantes americanas ficou gravíssima.

AS ORIGENS DA CRISE (OU OS 4Gs)

GEOPOLÍTICA
Uma das raízes da crise vem desde o final da Segunda Guerra, quando os EUA socorreram economicamente o arrasado Japão. O objetivo era evitar que aquele país entrasse para o bloco socialista liderado pela União Soviética. Os americanos só não esperavam que os japoneses, com sua disciplina, fossem se tornar capitalistas tão eficientes. Hoje seus veículos, produzidos de uma forma muito mais enxuta e menos custosa, roubam espaço dos carrões americanos no mundo todo, até nos EUA.

GLOBALIZAÇÃO
O mercado americano é o maior do mundo. Isso sempre deixou as montadoras de lá numa zona de conforto. Uma boa fatia de vendas nos EUA, mais a participação em outros países, faziam das marcas americanas as maiores do mundo até os anos 1980. Nos anos 1990 teve início o processo de globalização. Enquanto as marcas orientais e européias buscavam adaptar seus produtos a outros mercados, as americanas mantiveram-se fiéis ao estilo peculiar de seus carrões, jipões e picaponas. Logo eles, maiores adeptos da economia global, não souberam se adaptar às novas tendências que surgiam no mercado.

GIGANTISMO
Aqui não estamos falando dos carros grandes, mas da estrutura colossal das três marcas americanas, que acabou pesando contra elas. Todas sofrem com o excesso de fábricas obsoletas, administração burocrática e, pior, uma carga enorme de obrigações trabalhistas para funcionários e aposentados. As respostas às mudanças de mercado são muito mais lentas com estruturas tão pesadas. Como se isso não bastasse, as três têm muitas divisões e marcas agregadas. A GM, que já tinha em casa Chevrolet, Pontiac, Buick, Cadillac, Oldsmobile e GMC, criou as divisões Saturn e Hummer. No exterior, tinha Opel/Vauxhall, Saab, Holden e comprou participação em marcas como Daewoo, Suzuki, Isuzu, Subaru, Lotus e até Fiat. A Ford, subdividida em Lincoln e Mercury nos EUA, tinha no exterior Land Rover, Jaguar, Volvo, Aston Martin e participação na Mazda. Já a Chrysler/Dodge/Jeep/Plymouth fundiu-se aos alemães da Daimler e saiu da parceria pior do que entrou. Imagine administrar essa sopa de marcas, muitas delas com concessionárias próprias competindo entre si.

GASOLINA
A alta do petróleo foi um golpe mortal para o estilo dos carros americanos. Até recentemente a gasolina era tão barata que os consumidores de lá pouco se importavam com o consumo. E dá-lhe carrões e jipões cada vez maiores e pesados, com beberrões motores V8, V10, V12… Questões ambientais? Só em estados progressistas como a Califórina. De uma hora para outra o preço do barril disparou e o consumidor americano começou a migrar para carros menores e mais econômicos. Japoneses, europeus e coreanos já tinham esses carros à mão. As
Fonte: Auto Esporte