Brasil na rota das mudanças


Entrada no mercado deve ser feita por modelos menores e mais baratos
por FERNANDO CALMON

Os movimentos de consolidação da indústria automobilística mundial ainda estão em curso e os reflexos chegarão ao Brasil, cedo ou tarde. Marcas premium, como Mercedes-Benz, reconhecem que o nível de entrada do mercado – composto por modelos de menor porte e baratos – está se estabelecendo com bastante firmeza. Tudo em função do espaço de circulação na chamada mancha urbana, além das exigências crescentes de menor consumo de combustível e baixas emissões.

Não chega a surpreender, portanto, o recente acordo de cooperação entre o grupo alemão e a aliança Renault-Nissan (inclui a romena Dacia, a sul-coreana Samsung e a russa Autovaz) para desenvolver carros pequenos. O comprometimento das partes levou à participação cruzada de 3% das ações.

Em evolução contrária, PSA Peugeot Citroën e Mitsubishi anunciaram o fim das negociações sobre fusão. A marca japonesa está enfraquecida (já foi a quarta; hoje, sétima no Japão), mas os franceses fizeram uma oferta de valor baixo para adquirir o controle. O poderoso conglomerado Mitsubishi preferiu declinar, sem anunciar planos. Opiniões de analistas se dividem entre a busca de novo parceiro ou encolhimento para uma posição de nicho.

Acontecimento importante ocorreu na semana passada, quando o grupo Fiat anunciou a separação da atividade de automóveis das outras (caminhões e tratores). Também a unidade FPT, que cuida de motores e câmbios, foi dividida. A intenção é integrar melhor a Chrysler e possibilitar novas sinergias com outros grupos.

Sergio Marchionne, executivo-chefe da Fiat-Chrysler, havia dito no ano passado que a fusão com a PSA seria “o casamento no paraíso”. Falhou, entre outras razões, porque a família Peugeot com 200 anos de atividade industrial (antes mesmo da era do automóvel) não aceita administração subordinada.

Marchionne anunciou um plano de cinco anos, prevendo dobrar a produção combinada das marcas italianas e americanas para 6 milhões de unidades/ano até 2014, nível mínimo que ele considera rentável para um grupo automobilístico. Meta ambiciosa, pois se prevê que só em 2012 as vendas mundiais voltarão ao patamar de 2007. O maior mercado para a Fiat ainda é a União Europeia, onde a liderança do Grupo VW continua inabalada, seguido pela PSA. Um pouco abaixo, no fim deste primeiro trimestre, aparecem Ford, Renault, Fiat e Opel.

Alguns analistas sugerem que há incertezas sobre o sucesso em países-chave, como China, Índia e Rússia. Mas, na América Latina, a Fiat espera vender 1,1 milhão de unidades em 2014, partindo do patamar de 800 mil veículos em 2009. Outros consultores apontam o excesso de capacidade na Itália e a dificuldade para fechar qualquer fábrica na Europa. A GM, por exemplo, pagará até R$ 350 mil de indenização por funcionário na unidade da Opel na Bélgica, cujo fechamento foi decidido.

Pelo menos uma mudança já terá efeito no Brasil. A Fiat vetou o lançamento do Dodge Trazo que fazia parte de acordo anterior entre Chrysler e Nissan. O compacto mexicano, na realidade, é a versão sedã do Tiida, concorrente do Linea. A marca japonesa decidiu voltar com seu logotipo para a grade do modelo e vendê-lo aqui ainda este ano.

Fonte: Interpress Motor