´Canibalismo´ entre carros de mesma marca garante aumento de vendas

Lançamento de carros concorrentes na mesma marca amplia presença das fabricantes
Diversidade de modelos sobre mesma plataforma também é tendência
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Priscila Dal Poggetto

O Corsa Sedan, completo, pode competir com o Prisma na linha de produtos da GM/Chevrolet Comprar um Ford Ka ou Ford Fiesta? Fiat Palio ou Fiat Punto? Renault Logan ou um Renault Clio Sedan? Corsa Sedan ou Prisma? Essas perguntas, hoje, tornam-se cada vez mais comuns entre os consumidores quando entram em uma concessionária vinculada a uma montadora para comprar um carro. O cliente se depara com uma ampla gama de modelos em diversas versões que, muitas vezes, acabam por atingir o mesmo público.

Para aumentar as vendas, muitas fábricas fazem carros que se sobrepõem no preço, público alvo e nicho de mercado. No meio automotivo, esta prática é chamada popularmente de “canibalismo”, onde um modelo “devora” parte do mercado do outro. Ao final das contas, esta disputa interna acaba sendo vantajosa para o fabricante.

O “canibalismo” no setor começa a ser notado agora no mercado nacional, mas há muito tempo faz parte da estratégia das montadoras em países europeus e nos Estados Unidos para ampliar o chamado ‘market share’ (participação de mercado).

Foi o que fez a Renault ao lançar o Logan e o Sandero. Ambos “disputam” os consumidores do Clio nas versões sedã e hatch. O gerente de marketing da empresa, Bruno Hohmann, explica que antes da chegada do Logan, o Clio Sedan vendia mais de 1.000 unidades por mês. Atualmente, a média mensal é de 500 a 600 unidades.

O Clio Sedan e o Logan ambos produzidos pela Renault: qual escolher?

“Existe sim uma interferência de um modelo no outro, mas juntos se somam. O Logan vende, em média, 3.000 unidades por mês.” Ou seja, a faixa de clientes que a Renault atingia com apenas o Clio passou de cerca de 1.000 unidades mensais para 3.600, com a entrada do Logan no portfólio da montadora.

A estratégia teve impacto positivo para a empresa, que conseguiu ampliar a participação no mercado nacional para 3,1% em 2007, no que abrange todos os segmentos. “Queremos nos aproximar de 4%”, diz.

De acordo com o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Sérgio Reze, a sobreposição de produtos está cada vez mais freqüente por causa do aumento da renda do consumidor, entretanto, ela não é feita de forma radical. “As montadoras procuram equilibrar isso pelo perfil do cliente”, comenta.

Palio e Punto, dois carros da Fiat, podem entrar na briga direta pelo cliente

Para atender a necessidade de produtos cada vez mais específicos, a Fiat disponibilizou modelos com grande variedade de preço, motorização e acabamento. Por enquanto, a variedade não tem cruzado faixas de público, entretanto, a sobreposição dos modelos não é descartada por concessionários. “No caso do Punto, ele tem força de marcado na versão ELX 1.4. Ainda a gente não sente a migração dos consumidores de Palio, mas acredito que isso possa acontecer daqui um tempo”, observa o gerente comercial da concessionária Fiat Paulimar São Caetano, Paulo Rogério Guero.

Porém, nem sempre a sobreposição permite manter todos os modelos no mercado. Em junho do ano passado, a General Motors optou por tirar do leque de opções o Corsa Sedan 1.0. O modelo já havia perdido boa parte do mercado para o Prisma 1.4 e, quando a linha Corsa ganhou a motorização 1.4, não havia mais motivo de sustentar a versão. Para não acontecer o mesmo com o hatch de 1 litro, o preço do modelo foi reposicionado na época.

Diversidade na mesma plataforma

O diretor da consultoria Megadealer Auto Management, José Rinaldo Caporal Filho, destaca ainda que no mundo inteiro os carros estão cada vez mais parecidos e com mecânica semelhante. E, para atingir um público maior, as fabricantes também passam a explorar as plataformas já existentes. “O que se observa é uma série de carros derivados da mesma plataforma para atingir várias faixas de público”, explica Caporal Filho, ao cita
Fonte: G1 Globo Online