Carro novo pode ter prazo menor

Mário Tonocchi

A”farra” das vendas de carros zero quilômetro em até 60 meses deve acabar em breve. É o que prevêem os comerciantes do setor em São Paulo. Para o varejo, o excesso de vendas apoiadas no crédito, que chegou a 90 meses, começa a retroceder, com consumidores que não conseguem pagar as contas, as prestações do veículo e sua manutenção.

O varejo de novos e usados não tem a medida da inadimplência, mas os sinais começam a aparecer. Um deles é o resultado da pesquisa trimestral do Programa de Administração de Varejo (Provar-Fia), que mostrou a queda de 9,1% na intenção da compra de veículos entre julho e setembro deste ano, comparado com o trimestre anterior.

A pesquisa mostrou que a intenção de utilizar crédito para a compra caiu de 91,1% no segundo trimestre para 80,9% nos próximos três meses. “Aquele crescimento espetacular que estávamos registrando nos últimos anos, de 30% ao ano nas vendas, deve cair agora para 8% ou 9%. Vamos voltar para a realidade”, disse o presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores no Estado de São Paulo (Assovesp ) e Sindicato do Comércio Varejista de Veículos Usados no Estado de São Paulo (Sindiauto), George Assad Chahade.

De acordo com ele, a venda de carros novos em numerosas prestações, a alta dos juros e a inflação que começa a esvaziar o bolso do consumidor já afetam o mercado de usados. Junho, diz Chahade, foi marcado pela estagnação nos negócios nas revendas independentes paulistas. Pelas estatísticas da Assovesp, foram negociados 178.756 veículos no mês passado, ante 177.940 em maio, uma expansão de apenas 0,46%.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) também demonstra preocupação com uma possível redução do ritmo de vendas no segundo semestre. A entidade, entretanto, afirma que uma possível queda nas vendas de novos daqui para frente representaria apenas uma acomodação do mercado. A indústria automobilística, que cresceu a taxas de 25% a 30% nos últimos anos, deve se dar por contente com 10% a 15% ao ano, de acordo com o presidente da Anfavea, Jackson Schneider.

Para um comerciante de São Paulo com 27 anos de experiência no mercado, que pediu anonimato porque também comercializa automóveis zero quilômetro, a venda indiscriminada de veículos novos em até 90 meses, como ocorreu no início do ano, “vai explodir e retroceder” a partir de agora. “Nos últimos três dias recebi três clientes querendo vender o carro com três parcelas em atraso, como uma senhora com um Fiat Uno que comprou em 70 meses, ainda tem 36 prestações que não consegue quitar, e tem de pagar também a manutenção e os impostos do veículo”, observou.

O comerciante acredita que a saída é o mercado voltar ao que era antes, com prazos de, no máximo, 36 meses. Com isso, a compra do novo será financiada só para quem tiver renda para isso. Antes da explosão do crédito, as vendas eram compostas por 65% de usados e o restante de novos. “Hoje, temos 80% de novos”, disse.

Fonte: Diário do Comércio