Comprar um carro usado com laudo aprovado é garantia de bom negócio?

Nos últimos anos, o número de empresas que realizam vistorias cautelares cresceu de maneira expressiva. Esse tipo de serviço consiste em checar itens essenciais em um carro usado, que vão desde a documentação até a parte estrutural. Com isso, o comprador passa a ter mais segurança no momento da negociação e o vendedor demonstra credibilidade.

Considero que a vistoria é um serviço indispensável para quem tem pouco conhecimento para avaliar um carro, mas alerto que não garante um bom negócio. Nesses seis anos procurando e avaliando carros usados para os meus clientes, me deparei com muitos casos em que o vendedor apresentou um laudo cautelar aprovado, porém na minha análise o carro foi reprovado.

Tenho algumas histórias para contar, mas vou expor apenas um caso que aconteceu há alguns meses, quando avaliei um Honda City 2011 para um cliente de São Paulo. Ele viu o carro pessoalmente e gostou, mas preferiu pedir a minha avaliação. O sedã estava com laudo cautelar aprovado e o preço pedido pelo vendedor estava bem acima da média. Com essas informações era de se esperar, no mínimo, que o carro fosse bom.












Infelizmente não foi isso o que aconteceu. Ao chegar na loja, me deparei com um exemplar muito ruim, que eu não compraria nem se custasse a metade do preço pedido.Alguns itens que vou citar até poderiam ser tolerados, dependendo da negociação, mas a soma deles pesou na reprovação. Tenho certeza de que o leitor vai concordar comigo.

Para começar, o farol do lado direito tinha uma etiqueta com data de 2014, ou seja, a peça foi trocada. Isso levanta suspeita de uma colisão, comprovada quando vi que o para-lamas desse mesmo lado fora removido e refeito por algum funileiro, que por sinal realizou um péssimo trabalho.

Depois notei que os pneus pareciam bons, mas quando cheguei mais perto, ficou nítido que foram riscados por algum borracheiro, ou seja, visualmente bons, mas fora das especificações de segurança. Os discos de freio estavam visualmente desgastados além do normal e exigiriam troca num curto prazo.

Além do para-lamas dianteiro direito que já mencionei acima, fui observado outros pontos refeitos na lataria do carro. Vale lembrar que é bem comum reparos em carros usados – até o meu já passou por isso e fiz questão de registrar no meu canal do YouTube. Mas nesse City em questão, o trabalho foi feito sem nenhum capricho, talvez com o menor orçamento possível para “maquiar” o carro no momento da venda.

Ao entrar no sedã, mais decepções. O cheiro tornava desagradável ficar lá dentro. O painel acusava pouco mais de 100 mil km, uma quilometragem boa para um carro dessa idade. Mas eu olhava para as laterais de porta, os bancos, os pedais e o volante e eles indicavam uso bem além disso.

Ao checar o manual, notei que faltava justamente o caderno de revisões e também não tinha nenhum selinho no para-brisa que indicasse, no mínimo, uma última troca de óleo. Com a falta dessas informações e com o notável desgaste interno, não preciso de nenhuma ferramenta para afirmar que esse carro teve a quilometragem adulterada.

Voltando ao laudo cautelar, ali constava um verde e vistoso APROVADO no canto direito superior. A pessoa que comprar esse carro acreditando apenas nesse laudo estará fazendo um péssimo negócio. Acontece que o vistoriador que aprovou o laudo não estava de todo errado. Seguindo normas da empresa na qual trabalha, observou que a documentação estava em ordem; os registros de chassi e motor estavam corretos; a estrutura não apresentava nenhum reparo; não havia qualquer registro de quilometragem no banco de dados que ele consultou e, por fim, aprovou o coitado do City.

Talvez ele também não tenha gostado do carro, mas não poderia reprová-lo somente por conta de sua opinião. Já eu, seguindo critérios diferentes numa avaliação, posso e devo opinar. Partindo do princípio que eu não compraria o carro para mim, o resultado só pode ser a reprovação, mesmo que o modelo atenda critérios que o classifique como apto para ser comercializado.

Para finalizar, não questiono a importância das empresas de vistoria, que certamente contribuem na tomada de decisão, mas exponho esse caso para que fique claro que você não deve acreditar apenas no que está escrito num papel, mas sim avaliar o carro além dos critérios apontados.

Felipe Carvalho é o primeiro caçador profissional de carros do Brasil. Acesse o site www.cacadordecarros.com.br e saiba mais. Inscreva-se no canal do Caçador de Carros no YouTube e curta a página de Felipe no Facebook.

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