Consumidores vão às compras por medo de restrição do crédito

Houve corrida para compra de veículos na segunda-feira (24).
Criticado, governo desistiu de medidas para reduzir prazo de financiamentos.

Do G1, com informações do Bom Dia Brasil

As concessionárias de veículos começaram a semana em um cenário de incertezas. Com a expectativa de que o governo anunciasse medidas para conter o crédito, muita gente se apressou e foi às compras.

O governo estudava colocar um freio nos financiamentos com prazos acima de 36 meses, o que atingiria principalmente o setor de veículos. No final do dia, anunciou que, por enquanto, desistiu.

Para a maioria dos consumidores, esse longo prazo é a única opção, porque o valor das parcelas diminui. Uma redução do número de prestações significaria aumentar o valor.

A profissão de Leonardo, assessor comercial, exige que ele tenha carro próprio para se locomover. Com a possibilidade de mudança nos prazos de financiamento, ele resolveu fechar negócio. “Eu já estava pesquisando há um tempo a melhor condição financeira de pagamento. Em número de prestações menores não daria certo. Ficaria uma parcela mais alta”, diz.

Uma loja em São Paulo vendeu o dobro do habitual. “Muitos clientes vieram em busca de financiamento a longo prazo”, disse o gerente de vendas Márcio José Silva.

Aumento na prestação

Hoje as concessionárias vendem carros parcelados em até 100 meses, mais de oito anos. Economistas fazem as contas e mostra que se o governo realmente limitasse os financiamentos em 36 meses, haveria um aumento nas prestações de 41% nas prestações.

Segundo o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), Érico Ferreira, o consumidor que paga uma mensalidade de R$ 326 em um financiamento de 48 meses, por exemplo, passaria a pagar R$ 392 em 36 meses. Isso equivaleria a aumentar os juros de 2% ao mês para 2,95% ao mês.

“A prestação subirá muito mais com a redução dos prazos do que aumentaria com a elevação dos juros”, diz o presidente da Acrefi.

Para o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, Sérgio Reze, a medida, se adotada, afetaria em até 50% a procura de veículos no mercado. “Esse impacto será um colapso para o setor que, apesar do aumento das vendas, está comercializando os veículos com promoções e redução de preço”, destaca em nota.

Reze acrescenta também que não existe falta de produtos no mercado. “Existe, em alguns casos, falta de uma ou outra versão de algum modelo, mas podemos garantir que mais de 80% dos produtos que atendem o mercado nacional estão em dia e à disposição nas concessionárias”, completa.

Montadoras

Em nota, a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), afirmou que a sinalização do governo era preocupante. Para a entidade, a possibilidade de redução dos planos de financiamento, por meio de regulamentação, poderia causar uma forte retração no volume de negócios relacionados ao crédito de varejo para o setor.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Leasing (Abel), Rafael Cardoso, reforça que a medida inibiria os investimentos do setor. “Se uma montadora que quer investir no país enxergar isso como uma limitação do mercado, ela vai colocar a fábrica, por exemplo, no México e na Argentina”, observa Cardoso. “Limitar o prazo é inibir os investimentos”, acrescenta.

Na contramão das instituições de crédito, o setor de consórcios vê espaço para crescer nesse cenário.

O presidente nacional da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), Rodolfo Montosa, diz que pretende levar ao governo propostas de flexibilização nas regras desse tipo de operação para impulsionar essa área.

Segundo ele, como a entrega do produto se dá no futuro, ele funciona como incentivo à poupança, e não do consumo, o que ajuda a segurar a inflação. “O consórcio não é inflacionário e ajuda a regular essa questão de oferta e demanda”, diz. Hoje, os consócios representam 10% das vendas de veículos leves.

Fonte: G1 Globo Online