Mais jovens estão mudando mundo dos colecionadores de automóveis

Quando Kurt Glaubitz comprou um automóvel britânico antigo, não foi por suas curvas arrebatadoras ou pela aparência da carroceria. Apesar do snorkel fino (para atravessar rios) e das linhas quadradas, seu Land Rover Defender de 1992 se encaixa perfeitamente na última onda de carros que estão sendo comprados por uma nova geração de colecionadores.

Membro da Geração X, com 54 anos, Glaubitz faz parte dessa tendência, mesmo sem querer. “Comprei o carro como um projeto que poderia fazer com meu filho”, contou ele. Quando era adolescente, restaurou um sedan Rover com seu pai. “Minha lembrança favorita do meu pai é trabalhando ao lado dele debaixo do capô do carro.”

Apesar dessa motivação, no entanto, Glaubitz, que vive em Mill Valley, na Califórnia, e trabalha em relações públicas internacionais para a Chevron, está bem consciente do potencial de investimento do seu carro. Totalmente restaurados, os Defenders podem chegar a preços que se aproximam dos seis dígitos e às vezes os excedem, disse Glaubitz, que em janeiro pagou US$ 18 mil pelo seu exemplar com o volante no lado direito e que já passou por três proprietários. De fato, no fim deste ano, a Land Rover-Jaguar planeja oferecer uma edição limitada de luxo pelo 70º aniversário do Defender para venda na Europa, com preços a partir de 150.000 libras (pouco menos de US$ 200.000).

“O Defender e seu design icônico foram, e continuarão a ser, um marco em nosso portfólio. Veículos muito amados como esses sempre tiveram nichos entre os colecionadores; o interesse por eles simplesmente cresceu nos últimos anos”, disse Nathan Hoyt, gerente de relações públicas da Land Rover para os Estados Unidos.

À medida que as gerações mais jovens acumulam riqueza suficiente para colecionar, esse interesse vai se renovando, tanto na idade dos participantes quanto nos objetos de desejo.

“O que estamos realmente vendo é uma progressão em nosso hobby. É um novo grupo de pessoas interessadas em uma nova geração de carros”, disse Terry McGean, editor-chefe da “Hemmings Motor News”. A grossa revista mensal vem repleta de centenas de anúncios de veículos antigos.

Esses carros que recentemente viraram objeto de desejo incluem espécimes que os colecionadores mais sérios não teriam detectado alguns anos atrás – modelos dos anos 90 como o Defender de Glaubitz e máquinas japonesas esportivas como o Supra da Toyota e o NSX da Honda.

A noção de que um carro colecionável deve ser construído a mão em pequenos volumes já não carrega o peso que teve no passado, disse McGean.

“A geração mais jovem nem sequer pensa em carros feitos a mão”, disse ele. Um Supra de 94 com pouca quilometragem foi vendido por mais de US$ 100.000 em um leilão no início deste ano; quando eram novos, milhares desses carros foram vendidos por US$ 35.000 a US$ 40.000.

Kurt Glaubitz trabalha em sua Land Rover Defender com seu filho Cole
Foto: The New York Times

Em uma seção intitulada “A Nova Geração”, Hemmings, em maio, dedicou 16 páginas a carros dos anos 80, 90 e 2000. “Para alguns de nós, são carros usados, enquanto para outros é a base dos sonhos de infância”, disse a revista. A publicação descreveu os carros, que incluíam modelos norte-americanos, europeus e japoneses, como “um segmento crescente do mundo dos colecionadores de carros”.

Dois anos atrás, Michael Caimano, especialista em carros antigos da casa de leilões Bonhams, de Nova York, realizou a venda de uma McClaren F1 de 1995. Ele disse que o veículo foi para um comprador da Geração X por US$ 15,6 milhões, supostamente um recorde para colecionadores de carros pós-1970 vendidos em leilão. A transação oferece uma demonstração gráfica da crescente influência dos compradores mais jovens, disse Caimano, de 32 anos.

“Cerca de metade das nossas vendas são para essa geração. Eles alcançaram uma posição na vida que os coloca nos principais anos da construção de coleções.” Ao mesmo tempo, ele acrescentou que “a geração de millennials está começando a experimentar essas aquisições, especialmente os colecionáveis de nível médio na faixa de US$ 50.000 a US$ 200.000”.

Indiscutivelmente, o mergulho mais profundo nas tendências que estão varrendo o colecionamento e o investimento em carros vem da Hagerty, uma empresa em Traverse City, no Michigan, especializada no seguro de veículos de colecionadores. Usando seus dados de apólices, a empresa examinou mais de 18.000 transações entre 2016 e 2018, nas quais os carros mudaram de mãos de compradores mais antigos para mais jovens.

Se alguém imaginasse que eram os baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964) comprando de uma geração mais velha, estaria enganado. Ecoando a experiência de Caimano, os membros da Geração X (1965-81), como Glaubitz, eram o maior grupo de compradores, respondendo por mais de 23% das transações.

O apelo dos carros dos anos 80 e 90 para a Geração X e os millenials resultou em um “enorme aumento de valores para os clássicos modernos”, disse o estudo. Mas também foi observado um interesse crescente entre os compradores de gerações mais jovens em colecionáveis mais tradicionais.

Dois terços das pessoas que compram o Austin-Healey 100s, um carro esportivo clássico dos anos 1950, eram mais novos que os vendedores do veículo. Os compradores mais jovens também foram responsáveis pela maioria das vendas do Cadillac Eldorado da década de 1970.

Kurt Glaubitz com sua Land Rover Defender
Foto: Divulgação

“No mundo dos veículos clássicos, 2018 será lembrado como o ano em que os amantes mais jovens de carros tomaram o volante das gerações mais antigas”, disse Hagerty. O estudo prevê que a geração dos millenials (1982-2000) “se tornará o maior grupo de compradores do hobby dentro de cinco anos”.

Para McKeel Hagerty, de 51 anos, dono da empresa, as descobertas soaram como uma nota esperançosa contra previsões frequentemente sombrias de declínio do interesse geracional por carros.

“Você ouve muita gente pressupondo que os mais jovens não gostam de carros. Nossos dados sugerem que eles se importam. Os veículos são diferentes, e os mais jovens estão interessados em usá-los de maneiras diferentes, mas os carros ainda representam liberdade e diversão. Vemos um longo caminho pela frente”, disse Hagerty.

Uma pesquisa separada, encomendada pela Hagerty, com mil motoristas selecionados aleatoriamente no ano passado, pareceu reforçar essa visão. Embora abertos à convivência com carros autônomos, mais de 80% dos entrevistados concordaram que “sempre vão querer a opção de dirigir um carro eles mesmos”. Uma maioria similar descreveu dirigir como “uma parte importante da cultura norte-americana”.

Tanto Hagerty quanto McGean, da Hemmings, reconhecem as restrições impostas pela geografia e finanças às escolhas dos compradores – qualquer que seja a idade. As alegrias de pilotar um roadster vintage ao longo de uma estrada costeira sinuosa no norte da Califórnia podem se deteriorar rapidamente nas artérias entupidas de Manhattan. E os próprios dados de Hagerty sugerem que os compradores nascidos entre 1920 e 1945 ainda dominam as compras de carros de US$ 1 milhão ou mais.

“Nem mesmo as pessoas moderadamente ricas podem comprar uma Ferrari GTO”, disse McGean, referindo-se ao automóvel mais caro do mundo. (Há dois anos, um exemplar de 1963 do carro foi comprado por um valor recorde de US$ 70 milhões pelo fundador da WeatherTech, David MacNeil, um boomer mais jovem.) Colecionadores mais jovens estão buscando caminhos de diversão mais inclusivos – e não convencionais – com seus veículos, disseram McGean e Hagerty.

Eventos “RADwood”, por exemplo, são autointituladas celebrações dos “estilos de vida automotivos” dos anos 80 e 90. Abertas a carros, caminhões e motocicletas daquelas décadas, tocam músicas da época e os participantes-donos se vestem de acordo com o período. (Pense em “Miami Vice” ou talvez uma jaqueta com a imagem de uma bola de bilhar.) Haverá shows RADwood nos Estados Unidos durante todo este ano; pela primeira vez, um dos eventos se realizará durante a famosa e exclusiva Semana de Carros em Carmel, na Califórnia, em agosto.

Outro evento não tradicional, o Luftgekuhlt (“refrigerado a ar”), reuniu centenas de proprietários de Porsches em Hollywood em maio. Chamado de “o melhor lugar para os entusiastas de automóveis” pela revista “Autoweek”, o programa incluiu exposições de arte, apresentações musicais e Porsches de corrida e de rua de todos os anos e em condições que variam de primeira classe a calhambeques. Muitos dos carros foram exibidos nos sets de filmagem da Universal Studios.

“É realmente mais um encontro do que um show de carros”, disse Hagerty.

Para Glaubitz, um encontro de Defenders significa tempo de qualidade com seu filho de 16 anos, Cole. Em um domingo recente, pai e filho estavam em uma calçada ao lado de uma colina, enquanto o motor turbo-diesel do veículo zumbia tranquilamente.

Além de consertar um compartimento de bateria enferrujado, trocar um motor de partida e mexer nas luzes de rali do carro, a dupla recentemente levou o veículo para uma viagem de ida e volta de 645 quilômetros a Lake Tahoe. Agora Cole estava lixando um peitoril traseiro enferrujado.

O que seus colegas da Tamalpais High School achavam do Defender? Ele sorriu. “Minha namorada acha muito legal”, respondeu.