Quem inventou o carro a álcool?

Quem inventou o carro a álcool?

Embora hoje em dia o Brasil esteja mais atrasado que os principais mercados na introdução de carros elétricos e híbridos, no que diz respeito a combustíveis, o país é um caso à parte em todo o mundo, por causa do carro a álcool.

Isso é porque dispõe de um produto de origem vegetal bem difundido, o etanol. Mas, tal combustível, como surgiu? Quem inventou o carro a álcool?

A resposta tem um nome: Urbano Ernesto Stumpf, um engenheiro que desenvolveu para o governo, a tecnologia que permitiu aos automóveis rodar com o álcool hidratado, que hoje conhecemos como etanol.

Entretanto, antes dele, outro pioneiro no uso do álcool fez um carro andar com esse combustível, porém, sem difundi-lo, apesar dos avanços na época.

Mas, a grosso modo, o carro à álcool surgiu mesmo como uma alternativa à Crise do Petróleo e tornou o Brasil autossuficiente num combustível que apenas o país utiliza em larga escala.

O combustível originado do cana-de-açúcar, cuja cultura era amplamente difundida no Brasil, demorou alguns anos para fazer sucesso, mas logo que os consumidores viram que seu preço era bem mais baixo que a gasolina, passaram a adota-lo.

O carro à álcool foi um marco para a indústria automobilística nacional, mas não se limitou apenas ao automóvel.

O álcool chegou a dominar quase que completamente a matriz energética automotiva nacional, deixando a gasolina para trás e até mesmo substituindo o diesel em muitos casos, como caminhões leves e médios, além de picapes e utilitários. Nos ônibus, o combustível não teve a mesma aceitação.

Quem inventou o carro a álcool?

Quem inventou o carro a álcool?

O carro à álcool surgiu de uma crise, a chamada Crise do Petróleo de 1973. O Brasil foi impactado da mesma forma que os grandes mercados consumidores, mas ao contrário destes, decidiu tomar uma decisão um tanto drástica, criar um combustível alternativo.

O governo era do General Ernesto Geisel e este determinou que houvesse uma opção à gasolina refinada pela Petrobrás.

Obviamente a estatal petrolífera ficou fora do projeto, que foi direcionado para o CTA, que é o Centro Técnico Aeroespacial da FAB, em São José dos Campos-SP.

A futura matriz energética dos automóveis nacionais já havia sido escolhida. Ela surgiu na forma do álcool, produto obtido no processo de refino da cana-de-açúcar.

O álcool já era historicamente conhecido como potencial substituto ou complemento aos derivados de petróleo, incluindo querosene, gasolina (mesmo de aviação) e diesel.

Urbano Ernesto Stumpf

Quem inventou o carro a álcool?

No CTA, um engenheiro tomou a frente do projeto, o coronel-aviador Urbano Ernesto Stumpf. Gaúcho de Não-Me-Toque, o militar nasceu onze anos (1919) antes do primeiro automóvel que rodou com álcool no Brasil.

Apesar disso, foi ele que desenvolveu a tecnologia que permitiu aos motores de ciclo Otto trabalharem de forma regular com o futuro etanol.

O projeto foi apresentado ao governo logo que ficou pronto, em meados dos anos 70. Inicialmente o rendimento era baixo, mas o custo de abastecimento com o álcool era ainda menor. O motivo é que o Brasil era um grande exportador de açúcar, mas este tinha preço baixo no mercado internacional.

Assim, com parque industrial já instalado, ficou fácil para a vida do carro à álcool, pois, existiam diversas usinas de açúcar aptas a fornecer o combustível. Só se precisava mesmo de motores que trabalhassem de forma regular e durassem diante do poder corrosivo do produto.

Urbano Ernesto Stumpf, que era engenheiro aeronáutico do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), fez vários testes a partir de um Dodge Polara, que foi o primeiro carro movido por álcool durante o projeto. Logo, outros fabricantes cederam seus modelos para mais avaliações.

Nesta fase, entre 1973 e 1976, os testes eram executados pelo Divisão de Motores do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), que tinha um time de técnicos e engenheiros liderado por Stumpf.

Desde 1975, o Polara rodava com álcool e no ano seguinte, foram acrescentados os modelos VW Fusca e Gurgel Xavante, ambos com a mesma mecânica.

Quem inventou o carro a álcool?

O trio partiu do CTA para rodar o país, atravessando nove estados em 21 dias, percorrendo assim 8.500 km de estradas. Essa caravana foi decisiva para mostrar ao mercado nacional que o álcool era viável.

Diante disso, o governo autorizou o uso do combustível vegetal e as montadoras começaram a se preparar para a nova ordem que estava surgindo.

Em 1979, o Fiat 147 se tornou o primeiro automóvel do mundo produzido em série movido 100% por álcool. Outros vieram a seguir no começo dos anos 80 e o mercado chegou a ter mais de 90% das vendas de carros apenas movidos por essa fonte de energia ecológica e nacional.

Stumpf morreu em 1998 sem ter visto o surgimento do carro flex, tecnologia nacional que unificou etanol e gasolina dentro dos motores. Hoje, 95% das vendas de automóveis no país são de automóveis e comerciais leves que utilizam regularmente tanto o álcool quanto a gasolina.

Antes de Stumpf, João Bottene – um pioneiro no uso de álcool em veículos – utilizou uma mistura de 95% de álcool com 5% de óleo de mamona para mover o Ford 1925, utilizando-o posteriormente até na Revolução Constitucionalista de 1932.

Em 1938, ele converteu uma locomotiva para o combustível e três anos depois, fez voar um avião Piper Cub J3 com o derivado da cana. Ele morreu em 1954.

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