Enquanto o mundo enfrenta crise, Brasil investe na produção de veículos

Alavanca do crescimento continuará a ser o mercado interno.
Saúde do setor depende do crédito fornecido pelos bancos.

Priscila Dal Poggetto
Do G1, em Curitiba – A repórter viajou a convite da Fenabrave

Enquanto gigantes como a Ford e a General Motors perdem força diante da crise que abala a economia norte-americana e os mercados europeu e japonês desaceleram, as montadoras procuram nos países emergentes a solução para manter a lucratividade no setor.

E foi justamente o futuro da indústria automobilística no Brasil o foco da discussão do XVIII Congresso Fenabrave, que reuniu concessionários de todo o país, em Curitiba, entre quinta-feira (21) e sábado (23). Segundo os diversos especialistas que participaram do evento, o Brasil garantirá sua posição entre os mais importantes produtores de veículos do mundo ­– hoje o país ocupa a sexta posição.

E a alavanca do setor continuará a ser o mercado interno. Na análise da consultora da MB Associados, Tereza Fernandes, o país passará por mais fases como a atual, em que registra crescimento no patamar de 30%, desencadeadas pela renovação natural da frota, a manutenção da oferta de crédito e o crescimento populacional.

“Para ter uma idéia, o Brasil possui um automóvel para cada oito habitantes, já a Argentina possui um automóvel para cada cinco habitantes”, observa Tereza sobre o potencial do país.

Segundo ela, o país diminuirá o ritmo de crescimento no próximo ano e ficará no patamar de 10%, principalmente em função do reflexo da crise mundial e do controle da inflação no Brasil, com o aumento da taxa básica de juros. Para Tereza, a curva de crescimento voltará a subir a partir de 2010, conforme os juros caírem. “O crescimento continuará atrelado ao crédito”, observa.

Mudanças

O crescimento do mercado a taxas menores não é uma tendência somente no Brasil, mas sim de todos os países emergentes. Apesar das possíveis mudanças no quadro econômico global, o presidente mundial do Grupo Renault Nissan, Carlos Ghosn, não acredita em queda de demanda por veículos.

“O mundo continuará a dirigir carros. Daqui a 15, 20 anos o carro será um produto de necessidade básica”, observa Ghosn.

Para o executivo, que é brasileiro, o Brasil se tornará um dos países mais dinâmicos do mundo. Segundo ele, a diversidade cultural do país é um dos fatores positivos que influenciará no posicionamento do produto nacional em outros países.

“O Brasil é um exemplo de como a diversidade se tranforma em uma grande força”, afirma. “O Brasil vai alcançar o nível europeu e japonês”, completa.

Barreiras

As pespectivas são positivas, entretanto, Carlos Ghosn, destaca que o país precisa melhorar e muito a capacitação da engenharia. “Há muita carência de engenheiros especializados na área”, afirma, ao fazer referência ao investimento da Renault na intalação de um centro de engenharia em São José dos Pinhais (PR) e do centro de design em São Paulo (SP).

Mas não é somente a deficiência da engenharia que pode dificultar o desenvolvimento da indústria nacional. A consultora Tereza Fernandes aponta que “mudanças de regra” feitas de uma hora para a outra pelo governo, como a ameaça de aumento da cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), geram um quadro de incerteza, que pode inibir o investimento das matrizes estrangeiras.

“Os investimentos dependem do setor privado. É preocupante mudar as regras do jogo no meio do caminho, isso assusta qualquer investidor”, diz Tereza, que fez referência a outros setores que estão sob polêmicas por causa da influência do governo e a mudanças de regulamentações.

Entre eles, a exploração do petróleo e gás na camada pré-sal, a mudança na Lei dos Portos, a alteração do projeto da hidrelétrica do Rio Madeira e a briga para a mudança da legislação da telefonia para a fusão da Oi com a Brasil Telecom.

Fonte: G1 Globo Online