Montadoras do País temem a pressão dos alemães para Doha

DCI | | 28/7/2008

As subsidiárias brasileiras de montadoras de veículos vêem com apreensão posturas do governo brasileiro nas conversações sobre a Rodada de Doha que acontecem em Genebra, na Suíça. A maior preocupação é a possibilidade de o governo brasileiro oferecer o setor como “moeda de troca” para um acordo final na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Representantes do setor automotivo acusaram no fim de semana o governo alemão de estar pressionando o País para abrir o mercado. Para o setor, o interesse seria de apenas uma empresa: a BMW, única que não tem produção no Brasil. “Estamos preocupados com a pressão que está vindo da UE e principalmente da Alemanha”, afirmou Pedro Betancourt, representante da Anfavea (associação brasileira das montadoras), enviado a Genebra pelo setor. ´´O governo alemão está tomando uma posição incompreensível e afetando suas próprias indústrias que estão no Brasil.”

Pelo acordo, cada país teria de selecionar dois setores industriais para que tenha suas tarifas praticamente eliminadas. Os países ricos colocaram esse ponto como uma das exigências para que houvesse um acordo, principalmente na agricultura.

A Anfavea promete pressionar o governo a não ceder. Quer manter 55% de suas linhas tarifárias protegidas.

Por seu lado, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Umberto Barbato, disse que nos setores de maior tecnologia a indústria brasileira poderia perder investimentos caso o acordo defina cortes setoriais de tarifas.

A indústria paulista, representada em Genebra também pela Fiesp, apóia o pacote proposto mas alerta: a conclusão do acordo parcial na Organização Mundial do Comércio (OMC) exigirá que o Brasil passe a fazer sua lição de casa para garantir a competitividade da indústria nos próximos anos.”O acordo está dentro dos parâmetros que estávamos dispostos a aceitar. É um grande passo. Mostra que tínhamos uma agenda externa. Agora, precisamos de uma agenda doméstica”, afirmou Mario Marconini, diretor da Fiesp.

Para ele, a valorização do real teve um impacto muito maior que Doha. “Entre 2004 e 2008, a valorização do real significou o equivalente a um corte de tarifas de 90%.”

Marconini prevê que novas rodadas ocorrerão e para que o Brasil consiga a redução de distorções na agricultura, continuará tendo de “pagar” com a indústria.

Na prática, metade dos produtos brasileiros terão redução de tarifas. “Não podemos colocar a culpa de alguns problemas de competitividade na OMC. Se o Brasil não consegue lidar com essa queda de tarifas, que é pequena, é porque não fez sua lição de casa”, avaliou Marconini.

Fonte: Webtranspo