Motor a combustão é coisa do passado

O motor que faz rodar nossos automóveis já deveria ter sido banido do planeta há tempos. Inventado no final do século 19 (há cerca de 130 anos), o motor a combustão resiste bravamente apesar de estar entre as máquinas mais ineficientes do mundo. Basta imaginar que seu pobre pistão, além de sofrer enorme pressão durante a combustão do combustível, tem um movimento absurdo dentro do cilindro. Ele começa seu ciclo saindo da inércia, atinge cerca de 100 km/h (nos carros de competição) e para em torno de dez centímetros depois. Então ele faz o movimento contrário, atinge a  mesma velocidade no sentido oposto e retorna à inércia, repetindo este ciclo de desperdício milhares de vezes por minuto.

motor a combustão 1.5 três cilindros
Motor 1.5 três cilindros

Além disso, a menos que seja um motor do tipo dois tempos, ele vai colocar dezenas de outros componentes para se movimentar nas mesmas condições. Todo este deslocamento de massas consome enorme quantidade de combustível, pois envolve atrito e posteriormente a atenuação do calor gerado. A eficiência energética de um motor ciclo Otto (gasolina, etanol, GNV) não chega a 40%, enquanto o do diesel é pouco maior. O restante da energia é completamente desperdiçada. Na verdade, este motor poderia ser um eficiente aquecedor de ambientes, tamanho o calor gerado em sua operação.

O motor a combustão interna, além de ineficiente, tem outro ponto negativo: queima um líquido precioso e limitado, que levou milhões de anos para se formar nas profundezas terrestres. E ele também provoca impacto ambiental. O petróleo, que deveria ser preservado para um aproveitamento nobre na petroquímica, é queimado sem nenhuma eficiência pelo setor de transportes. Nossas gerações serão acusadas no futuro por esta despudorada irracionalidade. Para culminar, por mais que se estabeleçam padrões e limites de emissões, a queima dos derivados de petróleo contribui para a “anarquia ecológica”. Não é tão maléfico como afirmam alguns ecologistas, mas é responsável por uma razoável parcela do efeito estufa.

Muitos já tentaram aperfeiçoá-lo e torná-lo mais eficiente, mas sem sucesso. O motor Wankel, por exemplo, tentou eliminar a extravagância do funcionamento alternativo dos pistões, colocando-os para girar em um único sentido. Ele funciona e existe até hoje em alguns automóveis. Mesmo assim, há problemas técnicos que são praticamente insuperáveis, como o da vedação entre o pistão e o cilindro. Os motores de dois tempos (como o DKW) são mais eficientes, mas também não foram adotados pela indústria, sendo utilizados somente em aplicações específicas. Uma empresa australiana, a Orbital, desenvolveu um projeto para modernizá-lo, eliminar seu “fumacê” e ainda o produz para aeronaves de pequeno e médio porte.

A eletrônica foi responsável pelo mais significativo avanço do motor a combustão. Desde então, nas últimas dezenas de anos, quase nada se modificou em sua mecânica. Se, atualmente, estes motores funcionam de forma mais eficaz, sendo mais eficientes e “limpos”, o distribuidor e carburador ocupam lugar de honra nos museus de mecânica. O gerenciamento eletrônico foi capaz de afinar toda a sua complexa operação.

Por mais que o motor tradicional tenha apaixonados (como eu) e que o ronco de um V-8 ou V-12 seja capaz de arrepiar e emocionar uma legião de fãs, o futuro do transporte individual e de massa está inexoravelmente vinculado ao motor elétrico. Ele deve funcionar com bateria ou célula de combustível, em um veículo autônomo (ou semi-autônomo) gerenciado pela eletrônica. A prática de se movimentar qualquer veículo a partir da combustão interna está chegando ao fim.

Curtidores do “v-oitão”, e que detestam recursos computadorizados, podem guardar na garagem seus automóveis turbinados e desprovidos das comprometedoras letrinhas, caso queiram preservar seu prazer ao volante.

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