Prata e preto escravizam o mercado

Pablo de Souza                               chicolelis

Parodiando o dito popular “o que seria do preto e do prata se todos gostassem do carro amarelo, ou do verde, do vermelho? (O que seria do verde se todos gostassem do amarelo?)”
Nada aconteceria porque, na verdade, muita gente gosta mais do amarelo, do verde, do azul e até mesmo de cores mais extravagantes. Mas, na hora da compra do carro zero, o pensamento vai lá na frente, no momento da revenda do carro, e a escolha, invariavelmente, recai sobre o prata, o grande campeão. Ou será sobre o preto, o vice? Dúvida cruel, que deixa uma pequena chance para cores que variam entre o prata e o preto. Nada mais que isso. Pensando bem, apesar da cor do serviço de táxi da nossa cidade, o branco também tem sua chancesinha. Mas bem pouquinha mesmo.
Henry Ford, o culpado? – O mercado de automóveis no Brasil é, indiscutivelmente, escravo das cores preto e prata. Parece até que todo comprador sabe de cor o pensamento de Henry Ford, fundador da marca: o carro pode ser de qualquer cor, desde que seja preto. Mas ele tinha uma razão para isso, já que a mudança de cor naquela época poria por água abaixo o seu incrível processo de linha de produção, copiado e aperfeiçoado por todos no dia de hoje, que podem trocar as cores a serem usadas na pintura dos carros, em poucos minutos. A Ford também é atribuída outra frase sobre cores: a meia pode ser de qualquer cor, desde que seja branca. Mas ninguém confirma isto, apesar de fazer sentido.
Mas isto é para países onde as cores não estão tão disponíveis na natureza e as pessoas precisam “pintar” o ambiente com as cores mais alegres dos seus carros. Aqui, o azul do nosso céu é exuberante, o verde impera na maior parte do tempo, assim como o sol. Então, para que carros coloridos, não é mesmo?
Na Europa, de onde vem a inspiração para a maioria dos modelos produzidos no Brasil, existem muitos, mas muitos mesmo, veículos que se apresentam com cores que deixariam Henry Ford estressado. No mínimo. Isto se repete no Japão e em fábricas de países asiáticos emergentes, que apresentam cores consideradas ereges no mercado brasileiro. A Kia que o diga, com seu Picanto laranja.
Pesquisa, pra que? – Cor não se discute! Não com o mercado, pelo menos. Esta é a posição das nossas montadoras que, com raríssimas exceções, se vêem forçadas a programar suas produções de veículos pintados entre o prata e o preto. E não há o que fazer. O mercado zero recusa porque o do usado – hoje seminovo – não aceita o amarelo, o azul, o verde ou qualquer uma outra.
Na General Motors, por exemplo, a última pesquisa de cores, no final do anos 90, ou seja, no século passado, quando a ditadura das duas cores já tomava conta do mercado, mostrou que um tom de azul perolizado era o preferido entre os seus participantes. Entusiasmados, os homens de vendas da montadora programaram a cor para o ano seguinte.
Sabem o que aconteceu?
O consumidor, na hora de desembolsar o seu “rico dinheirinho”, continuou comprando o prata e o preto. E o azul saiu de linha. “Não adianta gastar fortunas que gastamos no passado fazendo pesquisas de cor junto ao consumidor. Descobrimos que ele gosta desta ou daquela cor diferente mas, na hora da compra, a mesmice aparece”, lamenta Sérgio Pinto, design de cores da GM.
Mas ele diz que nunca vai desistir. “Batalhamos muito dentro deste tema. Ainda não vencemos. Mas um dia isto acontecerá, apesar de sabermos que a verdade está ligada ao momento da revenda. É por isso que o comprador não faz opções diferentes”.
Sérgio reconhece que o carro de luxo, como Omega e a versão top do Vectra, requer cores sóbrias, como o preto, pois dão status ao seu usuário. Ele serve também para jovens proprietários de carros pequenos, como Celta e Corsa, por conferirem a eles um aspecto esportivo, junto com rodas especiais, espoileres e outros apetrechos. O designer aposta que, pelo menos o vermelho e o verde, devem começar a aparecer mais no carro novo, a partir de 2010/2011. Mas nada extravagante, mais na base de conter desta ou daquela cor diferenciada. Mais ou menos como o bege, que
Fonte: Diário do Comércio