Preço do carro deve subir, mas culpa não é do consumo

Valor Online

Os preços dos automóveis deverão subir em no máximo 60 dias por conta do repasse do custo do aço, segundo informações de fontes próximas às negociações entre montadoras e fornecedores. Os índices dos reajustes ainda estão para ser definidos. Este é o único fator que pode justificar a aflição do governo com a possibilidade de o crescimento da venda de carros novos provocar pressões inflacionárias. Fora isso, produção e comércio em toda a cadeia automotiva estão em perfeita sintonia com a forte demanda.

As montadoras aceleraram o ritmo de produção e, dessa vez, não encontram dificuldades para comprar os componentes que precisam. Diante da curva de expansão do mercado, a cadeia de fornecedores começou a se preparar já no ano passado, com investimentos mais fortes em ampliação de capacidade. Há, sim, filas para compra de carros zero-quilômetro. O tempo de espera varia de 30 a mais de 60 dias, dependendo do modelo. Mas, ao contrário do que acontecia no passado, não há ágio.

Os executivos do setor automotivo são unânimes em afirmar que o consumidor brasileiro mudou a cultura da compra do automóvel. Prefere hoje esperar pelo carro que sai da fábrica com as características e acessórios que ele escolheu. Se algum fabricante tentar cobrar valores acima da média de mercado, ele simplesmente abandona aquela marca e facilmente troca por outra. Com o aumento do número de fabricantes e da oferta de modelos no país, não há por que pagar ágio.

Qualquer mexida nos prazos de financiamento, no entanto, seria o suficiente para abalar toda essa harmonia. O crescimento das vendas de automóveis novos está quase que totalmente apoiada na ampliação dos prazos de financiamento. “Pagar um carro em 60 meses, que poderia parecer uma loucura antigamente, é hoje perfeitamente normal”, afirma Marcos Leite, gerente de vendas da Primo Rossi, concessionária Volkswagen de São Paulo.

Ontem Leite vendeu um Crossfox em 60 prestações de R$ 646, com 50% de entrada. Se o mesmo modelo tivesse sido vendido em 36 vezes, a prestação subiria para R$ 950. No caso, a taxa de juros também subiria de 1,47% para 1,66% ao mês. Os bancos têm oferecidos taxas mais atraentes nos prazos mais longos.

Ao contrário do que podem imaginar membros da equipe econômica, quem trabalha na indústria automobilística garante que não há por que temer os prazos de financiamento de cinco anos. “Os carros hoje duram mais. Tanto isso é verdade que a Renault, por exemplo, oferece o seu mais recente lançamento, o Logan, com garantia de três anos”, afirma Wilson Rocha, diretor da TRW, uma grande fornecedora de autopeças.

A possibilidade de o governo diminuir os prazos provocou notas de repúdio por parte das entidades do setor. A Anef, entidade que representa os bancos das montadoras, lembrou que “o aumento do número de prestações, bem como a redução dos juros e custos, foram fatores preponderantes para o crescimento interno do mercado automobilístico e de crédito correspondente”. Por meio de nota, a entidade destacou que a possibilidade de redução dos planos de financiamento “certamente irá causar uma forte retração no volume de negócios”.

A preocupação faz sentido. O último balanço da Anef mostra que a média de prazo de financiamento dos carros está em 42 meses. O financiamento entra em 68% das vendas de veículos no país hoje. O mercado cresceu 38,7% no acumulado do primeiro bimestre e a indústria de autopeças trabalha com encomendas que levam a uma projeção de aumento de produção das 2,9 milhões de unidades, em 2007, para algo em torno de 3,4 milhões a 3,5 milhões este ano.

A Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), que representa os concessionários, previu um cenário negro diante da possibilidade de os prazos encurtarem . Eventual restrição de crédito para 36 meses para financiamento de veículos foi apontada pela entidade como “um absurdo” e que, se adotada provocaria uma queda entre 40% e 50% na procura por automóveis.

Diante das explicações do governo, as montadoras decidir
Fonte: Webtranspo